terça-feira, julho 17, 2018

“Há flores

cobrindo o telhado
embaixo do meu travesseiro...”

São Paulo, 18 de setembro de 2017

Dia 16, sábado, fui com Silvana em Holambra visitar a Expoflora. Ela tirou uma ótima foto minha, no estilo peregrina no caminho das flores. Eu vestia calça bermuda (no momento bermuda), camiseta regada, chapéu, sandália plataforma preta com velcro. Estava sentada no caminho de pedrisco na beira do canteiro de flores pequenas, com o cantil entre as pernas e uma mochila pequena nas costas. A mochila não é visível na foto, nem o cantil se vê direito.
O cantil novo fez seu trabalho. A capacidade não supera minha sede do dia inteiro, foi necessário enchê-lo novamente. Quando fica quente a água fica com um leve gosto de plástico sim, ele não é excepcional. Um legítimo cantil Mohave feito de couro talvez deixe a água sem sabor no calor. Porém um ponto muito positivo em relação ao cantil anterior é o conforto em carrega-lo ao lado do corpo.
Nas fotos percebo o quanto sou branca, tenho uma brancura leitosa e luminosa. O protetor solar que usei ainda é fator 30, sei que um dia passeando ao ar livre não me dá problemas nem marcas. Passei uma vez nas pernas - quando transformei a calça em bermuda, e três vezes no rosto, ombros e braços ao longo do dia.
Saímos 7h do metrô Ana Rosa no ônibus da excursão, voltamos pouco depois das 18h30 da Expoflora. 22h estava em casa. Antes de entrar na feira fizemos passeio turístico em Holambra, conhecemos a cidade, pontos turísticos, paramos numa fazenda produtora de flores. Cheguei a espantosa conclusão de que produção industrial é sempre desumana.
Holambra é a maior cidade produtora de flores ornamentais do Brasil, a capital das flores, vende para o país inteiro e até para o exterior. Para conseguir esse feito precisa de tecnologia, não de computadores, mas científica, que possa ser usada na produção agropecuária. A cidade também produz laranja, leite e outras culturas, enfim, não vive apenas de flores. Os imigrantes holandeses chegaram na região fugindo da segunda guerra mundial, penaram com o solo mas conseguiram corrigi-lo para produzir bem. Economicamente Holambra vive de cooperativas, desde sua fundação o povo une forças e cuida da cidade.
O que uma plantação industrial de flores tem de desumano? Altera o relógio biológico das plantas através da claridade. Se é necessário mais claridade do que a época oferece, lâmpadas iluminam a plantação, se precisa de mais escuridão, 16h os sombrites das estufas descem. Isso sem contar a manipulação genética. Para termos belas flores em grande quantidade nos mercados o ano inteiro, esse relógio biológico maluco é necessário.
Uma tremenda judiação com as plantas, parece que ninguém se colocou no lugar delas para protestar contra a produção em massa. Ninguém imagina que vegetal também sofre, se estressa, fica louco. Só querem belas flores e bons frutos, esquecem que vegetais também são seres vivos.
Sorte das flores que são tratadas com mais carinho depois de compradas. O que dizer das que formam coroas funerárias? Ou os buquês belíssimos que definham em vazos? Percebo que a vida tem muita tortura e morte, mas as flores mostram que nada é tão funesto e triste; morte é algo natural, tortura muitas vezes é dispensável mas é através do sofrimento podemos aprender e nos desenvolver mais rápido.

Há flores
por todos os lados
há flores em tudo que eu vejo”
Flores, Titãs

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