O homem de negócios
aponta o dedo enfurecido.
- Você não paga as
minhas contas!
O peregrino suspira
sereno.
- Você não sabe o
quanto eu caminhei...
O homem de negócios
vive em função do dinheiro
vive entre posses,
desempenho, metas
cobrança em todos
os lados
estranha se não for
cobrado
as relações são
sempre troca de interesses
Relações?
Obrigações!
viver é pagar
boletos
sucesso é posse e
acúmulo de bens
No caos que escolheu
viver
a mente do homem de
negócios espana
é proibido falhar
é proibido parar
é proibido sentir
por muito tempo
é permitido
refletir e pensar
mas apenas sobre o
que o mercado de trabalho pede
as doenças de uma
mente encarcerada atacam:
ansiedade,
depressão, suicídio
O homem de negócios
é desumano
é uma máquina que
não sabe amar
aprecia a beleza das
flores de plástico
sem notar que elas
nunca estiveram vivas
O homem de negócios
não aprecia a vida
ele mal sabe que
está vivo
sabe apenas que
existem metas, obrigações
coisas que escolheu
fazer
viver para ele é
cumprir agenda
O peregrino também
tem seus objetivos e metas
que atingirá
seguindo setas
com razão e emoção
batendo em seu coração
Ninguém empurra ou
pressiona o peregrino
ele caminha em seu
propósito divino
prudente como um
velho
alegre como um
menino
Até o destino do
peregrino há uma longa estrada
nem sempre florida e
ensolarada:
há desertos
descampados
monotonia
solidão
calor
frio
chuva e vento
O peregrino aprecia
o caminho em cada momento
bom ou ruim, ele
atravessa sem pressa
certo de que a
experiência vale a pena
reconhece as
limitações de seu corpo e mente
respeita a vida que
carrega e sente
Viver é uma grande
viagem
que o peregrino
percorre sem carruagem
dando um passo por
vez
às vezes se
perdendo
outras tem os pés
doendo
machucados, dor
ele sofre e
soluciona seja o que for
atravessa climas
conflitantes
de lugares e
acompanhantes
Por ser uma viagem,
não há pressa de chegar
pode-se parar quando
quiser para fotografar
enquanto caminha,
pode-se filosofar
apreciar lugares,
pessoas, refeições
agradecer lugares,
pessoas, refeições
O peregrino quer
chegar na meta, o seu ideal
sabe que sobreviver
é fundamental
concentra-se na
sobrevivência durante o caminho
de forma leve vive
em grupo ou sozinho
O homem de negócios
quer chegar na meta
destrincha ela em
pequenas partes
cobra de si pequenas
vitórias
e amealha
insignificâncias
O homem de negócios
enriquece e se consome
o peregrino supera
dificuldades e recorda em lento
seguir
o homem de negócios
precisa vencer
o peregrino precisa
existir.
P.S.: Poesia declamada pela primeira vez e distribuída na Penitenciária Feminina da Capital e na penitenciária masculina Adriano Marrey. Gratidão ao Sarau Asas Abertas.