terça-feira, dezembro 26, 2017

Manifesto por resenhas razoáveis

Escrever resenha não é comentar sobre o início do livro e dizer que é bom ou ruim. Em muitos casos não precisa mencionar a vida do autor do livro, ou como foi o processo de escrita.

Resenha é uma análise da obra. Da obra inteira, não apenas o começo. "Ah! Não quero falar sobre o final do livro para não estragar a surpresa de quem lê!" Então você quer escrever apenas uma propaganda, não uma resenha.

A resenha que aprendi a escrever na escola precisava conter resumo do livro - um resumo sem muitos detalhes, do contrário não é resumo, observações sobre a história e sua opinião baseada nas observações que fez.
Escrever resenha é argumentar, por isso aprendemos antes de fazer dissertações. Nas dissertações você tem tese, argumento, conclusão. Em resenhas não há teses a serem defendidas, a tese é trocada por exposição. Então você expõe a obra, argumenta com suas observações, e conclui com sua opinião.

A internet está cheia de resenhas de livros com exposições parcas, opiniões pessoais até demais - sem muita lógica, e conclusões ao sabor do vento. O povo ainda dá nota pros livros! Eu só coloco estrelinha no site da Amazon, pois sem isso não se pode publicar. Não sou professora nem crítica profissional para distribuir nota. Não crio método de avaliação para julgar o que leio.

O fato é que na internet são poucos os que se dão ao trabalho de analisar profundamente, opinar com argumentos. Espero estar entre os poucos que escrevem boas resenhas, mesmo sempre destacando os pontos positivos dos livros que leio.


Que cada vez que eu publique "O LIVRO DA VEZ É" exista uma resenha razoável (cheia de razão) e não uma mera propaganda. 

domingo, dezembro 17, 2017

O LIVRO DA VEZ É O Jogo do Equilíbrio, de Ana Lúcia Merege


Atenção jogadores de RPG medieval sem experiência! Esse livro é para vocês! Acompanhem a vida de um artista medieval por um dia. Não um artista qualquer, mas um mestre em sete artes que parou de rodar o mundo como saltimbanco para criar seu filho de três anos.

Cyprien vive em Pwilrie e deixou de viajar mas não deixou de ser saltimbanco, ganha a vida entretendo a cidade. Nas horas vagas namora uma exuberante dançarina e ensina contorcionismo a seu filho. Ele é contorcionista, malabarista, músico, comediante, faz teatro com fantoches e é equilibrista.

Nosso personagem principal não é exemplo de homem medieval, mas exemplo de cidadão para os dias de hoje. Vive uma relação de amigado com a namorada - a qual todos no bairro consideram sua esposa, exceto ela mesma. Ele faz o trabalho doméstico da casa e ela lava suas roupas. Contrariando os costumes medievais ele tem a audácia de tomar banho todos os dias, e está educando o filho no mesmo caminho. Seu filho não é fruto do relacionamento com a atual namorada, Cyprien é viúvo. Nosso herói não bate em mulher, não educa o filho batendo, é a simpatia em pessoa (como todo artista deve ser), e bem esperto – como todo pobre precisa ser.

Começa o dia com um galo na cabeça, um problema com a namorada e uma grande dívida para pagar; termina comemorando com os amigos o sucesso do espetáculo apresentado na inauguração do relógio da cidade. No meio de tudo ainda disciplina o filho que resolveu emburrar com a comida, além de se livrar de uma briga e de morrer caindo da corda.

O livro é um retrato medieval das pequenas batalhas que uma pessoa comum vence ao longo do dia, para acordar no dia seguinte e resolver novos problemas. Uma prova de que nosso cotidiano heroico vem de épocas remotas. Alô criançada! A vida adulta te espera com um divertido jogo de equilíbrio.