Uma
reza uma certeza
Um
"canto-correnteza"
Que
me leva à ti
A
te explicar que a dor
Talvez
venha nos visitar”
São
Paulo, 25 de janeiro de 2017
Encerrei
a primeira etapa da viagem. Separei as fotos que quis imprimir,
compilei em um único arquivo todos os textos do diário de viagem
que publiquei no blog enquanto viajava – com foto e tudo foram 14
páginas, busquei fotos impressas e as organizei num álbum com 153.
Os cinco dias em que percorri o Caminho do Sol até ganhar queimadura
de segundo grau são história, assim como o reencontro com o grupo
nos últimos quilômetros dia 14, o café com prosa no dia seguinte.
A
queimadura que tive foi mesmo de segundo grau, como diagnosticou o
médico que me atendeu, não terceiro como sugeriu um companheiro de
caminhada. Aparência da queimadura de primeiro grau: vermelhidão;
segundo grau: bolhas, terceiro grau: carne necrosada e ferida
exposta. O que o sol deixou nos meus pulsos foi bolha e vermelhidão,
pele vermelha e enrugada.
Conversar
com Palma no final foi desconcertante, não percorri sequer metade do
caminho, apenas 104 Km, há muito o que ver e viver. Analisar
pousadas e sugerir melhorias? Foi a primeira vez que viajei sozinha,
a terceira em que fui a lugares nunca antes visitados, não sou
frequentadora assídua de hotéis e pousadas para julgá-los. Antes
de sair da pousada registrei uma abobrinha no “livro de visitas”
do Caminho do Sol, terminei agradecendo os envolvidos com o Caminho e
os peregrinos que me acompanharam.
Entrei
em grupos sobre o Caminho do Sol, curti a página deles no Facebook e
vi que algumas fotos que compartilhávamos no grupo de Whatsapp foram
publicadas na página oficial. Lá também foi divulgado o endereço
de meu blog enquanto escrevia o diário de viagem. O triste foi que
as publicações sobre o Caminho do Sol pararam no dia seguinte
devido ao acidente e houve uma última dias mais tarde relatando os
últimos quilômetros e o recebimento da Aris Solaris.
Ainda
estou em férias, não entrei em contato com muitos mas duvido que
grande parte dos amigos e parentes que convidei acompanharam meu
diário de viagem. Com a divulgação na página do Facebook, algumas
pessoas que já caminharam comentaram no blog, espero ter sido útil
para as que estão interessadas em caminhar.
Dos
acertos que fiz: comprar bota com muita, mas muita antecedência
(praticamente dois anos antes da viagem. Resultado: somente uma
pequena bolha em cinco dias.), calça bermuda com bolso (pra ter
celular à mão e outros apetrechos como balas de banana e pregadores
de roupa), lavar o cabelo só com condicionador sem componentes
petrolados (condicionador para co-wash), creme para dores musculares
(Cataflan), remédio anti-inflamatório e analgésico para dores
musculares (Ibuprofeno), hidratante com Aloe Vera, cantil de quase
dois litros (nunca fiquei sem água), levar cartão do SUS, smartfone
com Google Maps e configurações mínimas para aplicativos
populares, limpar memória interna do celular e utilizar cartão de
memória vazio para ter espaço de sobra para fotos e textos (amo
escrever).
Dos
erros que cometi: usar protetor solar fator 30 (deveria ser 70!),
levar cantil pendurado no pescoço (o melhor é carregar no ombro
para não marcar), usar a calça bermuda somente como bermuda (o
tecido é leve, fresco e protege bastante do sol), não usar – ou
melhor, sequer duvidar da existência de – blusa de manga comprida
com filtro solar, não usar chapéu com tecido que facilita a
transpiração, levar casaco de frio e jaqueta corta vento para
caminhar no verão, praticar exercícios regularmente durante o ano
mas nunca pegar pesado, confiar demais na minha resistência física
(orgulho maldito!).
A
maioria dos erros que cometi por falta ou mau uso de equipamentos já
procurei corrigir quando encontrei novamente o grupo no último dia
de caminhada. Hoje, feriado municipal, percorri 15 Km com minha mãe
e minha tia até a igreja de Santo Expedito, acompanhando o pagamento
das promessas que elas fizeram. A graça foi concedida há dez anos.
Caminhei
devidamente trajada como peregrina, levando meu cantil como bolsa –
só faltou o cajado. Foram 4 horas de caminhada parando algumas vezes
para esperá-las. Minha mãe caminhou somente até o metrô São
Joaquim, depois nos encontrou numa das saídas da Luz e completou o
percurso conosco até o metrô Tiradentes, onde fica a igreja. Ela
sentiu dores no calcanhar. Minha tia não sentiu dor alguma, enquanto
que senti desconforto nos tornozelos. Tanto tempo de uso e ainda não
aprendi a ajustar a bota direito! Ambas levaram apenas meio litro de
água.
Assim
começa meu ano. Topando alegremente qualquer caminhada. Me sinto
pronta para terminar o trajeto do Caminho do Sol ano que vem no
verão, já que conheço os males da estação. Porém o melhor é
domar o orgulho e viver um dia de cada vez, me preparando para a nova
jornada.
Motivos
espirituais, filosóficos e religiosos para completar o Caminho do
Sol? Não preciso. Caminho por alegria, curiosidade, aventura,
caminho porque estou viva e caminhar faz um bem danado pro corpo e
pra mente. Não tenho três pedidos para fazer ao abraçar a imagem
de Santiago no fim do Caminho do Sol, assim como não tinha nenhuma
causa urgente para pedir auxílio a Santo Expedito ao acordar hoje.
Durante o caminho pedi ajuda ao santo – encontrei uma causa urgente
– mas acredito que agir em prol dela funciona mais do que pedir
auxílio a Santo Expedito.
“Deixa
ser
Deixa
nascer
Deixa
a roda girar
Seja
por amor
Na
alegria
Na
tristeza
Vem
comigo ser meu par!”
Deixa
Ser, O Teatro Mágico
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