quarta-feira, julho 11, 2018

“Dentro de mim

Uma reza uma certeza
Um "canto-correnteza"
Que me leva à ti
A te explicar que a dor
Talvez venha nos visitar”

São Paulo, 25 de janeiro de 2017

Encerrei a primeira etapa da viagem. Separei as fotos que quis imprimir, compilei em um único arquivo todos os textos do diário de viagem que publiquei no blog enquanto viajava – com foto e tudo foram 14 páginas, busquei fotos impressas e as organizei num álbum com 153. Os cinco dias em que percorri o Caminho do Sol até ganhar queimadura de segundo grau são história, assim como o reencontro com o grupo nos últimos quilômetros dia 14, o café com prosa no dia seguinte.
A queimadura que tive foi mesmo de segundo grau, como diagnosticou o médico que me atendeu, não terceiro como sugeriu um companheiro de caminhada. Aparência da queimadura de primeiro grau: vermelhidão; segundo grau: bolhas, terceiro grau: carne necrosada e ferida exposta. O que o sol deixou nos meus pulsos foi bolha e vermelhidão, pele vermelha e enrugada.
Conversar com Palma no final foi desconcertante, não percorri sequer metade do caminho, apenas 104 Km, há muito o que ver e viver. Analisar pousadas e sugerir melhorias? Foi a primeira vez que viajei sozinha, a terceira em que fui a lugares nunca antes visitados, não sou frequentadora assídua de hotéis e pousadas para julgá-los. Antes de sair da pousada registrei uma abobrinha no “livro de visitas” do Caminho do Sol, terminei agradecendo os envolvidos com o Caminho e os peregrinos que me acompanharam.
Entrei em grupos sobre o Caminho do Sol, curti a página deles no Facebook e vi que algumas fotos que compartilhávamos no grupo de Whatsapp foram publicadas na página oficial. Lá também foi divulgado o endereço de meu blog enquanto escrevia o diário de viagem. O triste foi que as publicações sobre o Caminho do Sol pararam no dia seguinte devido ao acidente e houve uma última dias mais tarde relatando os últimos quilômetros e o recebimento da Aris Solaris.
Ainda estou em férias, não entrei em contato com muitos mas duvido que grande parte dos amigos e parentes que convidei acompanharam meu diário de viagem. Com a divulgação na página do Facebook, algumas pessoas que já caminharam comentaram no blog, espero ter sido útil para as que estão interessadas em caminhar.
Dos acertos que fiz: comprar bota com muita, mas muita antecedência (praticamente dois anos antes da viagem. Resultado: somente uma pequena bolha em cinco dias.), calça bermuda com bolso (pra ter celular à mão e outros apetrechos como balas de banana e pregadores de roupa), lavar o cabelo só com condicionador sem componentes petrolados (condicionador para co-wash), creme para dores musculares (Cataflan), remédio anti-inflamatório e analgésico para dores musculares (Ibuprofeno), hidratante com Aloe Vera, cantil de quase dois litros (nunca fiquei sem água), levar cartão do SUS, smartfone com Google Maps e configurações mínimas para aplicativos populares, limpar memória interna do celular e utilizar cartão de memória vazio para ter espaço de sobra para fotos e textos (amo escrever).
Dos erros que cometi: usar protetor solar fator 30 (deveria ser 70!), levar cantil pendurado no pescoço (o melhor é carregar no ombro para não marcar), usar a calça bermuda somente como bermuda (o tecido é leve, fresco e protege bastante do sol), não usar – ou melhor, sequer duvidar da existência de – blusa de manga comprida com filtro solar, não usar chapéu com tecido que facilita a transpiração, levar casaco de frio e jaqueta corta vento para caminhar no verão, praticar exercícios regularmente durante o ano mas nunca pegar pesado, confiar demais na minha resistência física (orgulho maldito!).
A maioria dos erros que cometi por falta ou mau uso de equipamentos já procurei corrigir quando encontrei novamente o grupo no último dia de caminhada. Hoje, feriado municipal, percorri 15 Km com minha mãe e minha tia até a igreja de Santo Expedito, acompanhando o pagamento das promessas que elas fizeram. A graça foi concedida há dez anos.
Caminhei devidamente trajada como peregrina, levando meu cantil como bolsa – só faltou o cajado. Foram 4 horas de caminhada parando algumas vezes para esperá-las. Minha mãe caminhou somente até o metrô São Joaquim, depois nos encontrou numa das saídas da Luz e completou o percurso conosco até o metrô Tiradentes, onde fica a igreja. Ela sentiu dores no calcanhar. Minha tia não sentiu dor alguma, enquanto que senti desconforto nos tornozelos. Tanto tempo de uso e ainda não aprendi a ajustar a bota direito! Ambas levaram apenas meio litro de água.
Assim começa meu ano. Topando alegremente qualquer caminhada. Me sinto pronta para terminar o trajeto do Caminho do Sol ano que vem no verão, já que conheço os males da estação. Porém o melhor é domar o orgulho e viver um dia de cada vez, me preparando para a nova jornada.
Motivos espirituais, filosóficos e religiosos para completar o Caminho do Sol? Não preciso. Caminho por alegria, curiosidade, aventura, caminho porque estou viva e caminhar faz um bem danado pro corpo e pra mente. Não tenho três pedidos para fazer ao abraçar a imagem de Santiago no fim do Caminho do Sol, assim como não tinha nenhuma causa urgente para pedir auxílio a Santo Expedito ao acordar hoje. Durante o caminho pedi ajuda ao santo – encontrei uma causa urgente – mas acredito que agir em prol dela funciona mais do que pedir auxílio a Santo Expedito.

Deixa ser
Deixa nascer
Deixa a roda girar
Seja por amor
Na alegria
Na tristeza
Vem comigo ser meu par!”
Deixa Ser, O Teatro Mágico

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