domingo, fevereiro 28, 2010

PENSAMENTO DA SEMANA

Desde que o mundo é mundo a noite cai sobre a terra. O azul escuro que ela mostra é hematoma.

segunda-feira, fevereiro 22, 2010

O LIVRO DA VEZ É

Sesmaria – Cruzeiro, o Quilombo das Luzes; de T.J. Martins.

Disponível na internet gratuitamente desde 2001 pelo site http://tjmar.sites.uol.com.br/sesmaria.htm, também doado para bibliotecas escolares de Minas Gerais. Romance épico brasileiro passado em 1750, quando o Brasil era colônia e explorava metais e preciosidades das minas além de escravos, índios e o povo pobre.

Sesmaria trata de um quilombo fictício, baseado na realidade e história que o autor pesquisou durante anos. As verdades se encontram em “Quilombo do Campo Grande”, livro onde o autor junta as peças de documentos de 1700 para contar o que acontecia no Brasil enquanto os franceses viviam o iluminismo na Europa. Por ser romance, Sesmaria é fácil de ler, nada de dissertações argumentativas dos livros de história. Quem curte Senhor dos Anéis, de Tolkien, vai adorar saber que o passado nacional tem tudo que o autor estrangeiro fantasiava e mais um pouco.

Sesmaria se passa no período colonial brasileiro. Tem línguas que foram de fato faladas, personagens retirados de arquivos judiciais antigos, e uma espécie de língua ou dialeto geral negro que os escravos foram obrigados a criar para se comunicar entre si sem que seus senhores entendessem. Espia: Havia muitos povos africanos, cada qual com suas línguas e costumes. Ocorre que os portugueses tinham cuidado de nunca juntar muitas pessoas de mesma origem, assim dificultava organização de revoltas por parte dos escravos. Óbvio que não falar a mesma língua dificulta qualquer organização.

Para quem gosta de sangue: torturas, batalhas, lutas e emboscadas. Pra quem gosta de romance tem vários casais, cada um com sua peculiaridade. Em especial o estranho amor entre Luis Hilário e Divina Homem. Magias, profecias e rezas para quem busca o transcendental. Para quem busca lugares fantásticos: Minas Gerais três séculos atrás. Nada de atravessar oceanos ou cruzar os ares, a bela natura está perto: basta atravessar rios e cruzar montanhas.

O herói do livro é Francisco Adão, ou Chico Beiçado. Negro malandro que sabe diversas línguas além de lutar – com catana, espingarda, faca... afinal só televisão quer passar a ilusão de que capoeira sozinha resolve tudo. Ele é emissário de Dr. Fernandes Preto, o líder do futuro povoado do Cruzeiro – que por enquanto é quilombo. Dr. Fernandes junta meios e estrutura para legalizar seu povoado, cuja localização é secreta. Eles comercializam com quilombos e vilas. Nas vilas utiliza-se a nobreza e pompa de Francisco Adão, emissário de Dr. Fernandes. Nos quilombos o respeitado malungo Chico Beiçado é mais um comerciante do Cruzeiro, povoado de gente boa do Sô Fernandes. Assim um pouco dos costumes e história dos anos 700 envolve o leitor, que descobre que meio de vida socialista não é novidade do último século, nem impossível de coexistir com meio de vida capitalista. Melhor ainda: descobre que o Brasil, célebre país do futuro, tem um passado perfeito para romances épicos.

sexta-feira, fevereiro 12, 2010

MINHA VIDA É UM GARRANCHO

Se
Deus
escreve por linhas tortas
minha vida é um garrancho

Se
Deus
escreve por linhas tortas
minha vida é um garrancho

Entre duas pautas exatas e retas num branco papel
entre duas pautas que oprimem a vida
entre o inferno e o céu
se escre a essência de uma existência
num lento ir e vir
de um garrancho
incompreensível
que só os anjos
haverão de ler
e entender
que

Se
Deus
escreve por linhas tortas
a vida é um garrancho.