somos
todos iguais braços dados ou não...”
São
Paulo, 3 de agosto de 2017
Ontem
atualizei a lista dos itens de viagem. Bela lista para imprimir e
conferir nas vésperas da viagem. Tirei casaco corta vento, blusa
fleece e óculos escuros; acrescentei creme contra dor muscular,
vaselina, Ibuprofeno, hidratante pós sol e loção contra
queimadura: 46 itens no total. A loção é o remédio rosa, para
passar caso me queime de fato, o hidratante pós sol é prevenção
após o banho.
Entre
março e agosto prestei concurso público, no qual não passei, e fiz
curso profissionalizante de manicure. Trabalho voluntariamente no Lar
Bartuíra como manicure nas tardes de sábado. Lá só esmalto unhas
das vovós. O Lar Bartuíra é uma divisão da Casa Transitória
Fabiano de Cristo, instituição de caridade mantida pela Federação
Espírita do Estado de São Paulo, a Casa Transitória é composta de
duas creches além do asilo. Presto novo concurso dia 6.
Hoje
é dia de lançar minha página de manicure no Facebook, oferecendo
serviço a domicílio depois do meu expediente como secretária. Gana
por dinheiro? Longe disso! Faço unha por diversão. Peguei gosto em
espalhar beleza, resgatei meu gosto primitivo por cores. Minha paixão
é embelezar mãos senis, peguei mamãe como garota propaganda. Tio
Nuna me apoiou muito: não bastasse os esmaltes Impala que guardei ao
longo dos anos, me deu o material de cutilagem. Depois da minha festa
de aniversário pretendo me candidatar como manicure aos domingos no
salão que funciona dentro do Carrefour mais próximo de casa. A
condição das manicures do salão da rua é horripilante! O trabalho
final delas pode até ser bom, mas é muito amador: sequer possuem
dosador de acetona e biossegurança passa quilômetros dalí - usam
forninho de esterilização. Forninho! Coisa que não esteriliza
nada!
Praticando
meu hobby de manicure aos fins de semana não terei tempo para longas
caminhadas preparatórias. O remédio é voltar pra academia firme e
forte, de terça a quinta-feira. Além de usar meu stepper toda santa
madrugada. Um bom livro e a rádio Eldorado me acompanham no
enfadonho exercício matutino – prefiro caminhar ao ar livre.
Ontem
participei do jantar comemorativo dos 15 anos de existência do
Caminho do Sol. Aconteceu no restaurante do hotel Feller, próximo à
estação Brigadeiro.
Conheci
Jorge, Roberto e Solange, que ficaram na minha mesa. Também estava
acompanhada de Débora, do Armazém do Limoeiro, e a Vó, que
participou do primeiro grupo de caminhada em 2002. Vó, Camila e
Artur organizam o apoio aos peregrinos. Débora contou que entregou
as chaves do armazém ao novo proprietário semana passada, não é
ela quem cuidará do ponto de parada, contou que o armazém está
todo depredado já que com as dívidas da família não havia como
conservá-lo. Entregou a Palma uma foto de quando a imagem de
Santiago passou pelo armazém – se não me engano foi em 2012.
Palma também recebeu uma placa comemorativa dos 15 anos de
existência do Caminho do Sol, placa que segundo ele pertence a todos
os peregrinos e voluntários que efetivamente fazem o caminho, ele
apenas idealizou e mantém a sinalização. Ele quis dizer que o
início é importante, mas é a persistência do grupo que mantém os
projetos vivos.
Jorge
mora em Indaiatuba, percorreu o caminho pela segunda vez em março e
auxilia os peregrinos no trecho entre Aras do Mosteiro e Fazenda San
Marino. Contou que muita gente desiste antes da metade do caminho,
raros abandonam depois da Fazenda Milhã – que é minha próxima
parada. Um ponto estranho: depois de Elias Fausto a paisagem fica
mais monótona – cana por todos os lados – e no entanto é quando
os peregrinos menos desistem. Passar da metade do caminho tem efeito
animador, ou os primeiros quatro dias é o período de maior
dificuldade em adaptar-se a rotina. Jorge tem descendência
espanhola, família em Sevilha. Contou que o verão europeu é
extremamente quente e seco, temperatura entre 30 e 50 graus sem a
menor umidade. Desisti de percorrer a rota de Santiago no verão, o
melhor mesmo é o início da primavera: fim de março, início de
abril.
Roberto
fez o Caminho da Fé a partir de Águas da Prata, cidade que iniciou
a criação do caminho. Outros ramais como Mococa, de onde pretendo
partir, aderiram ao Caminho da Fé mais tarde. Contou que o caminho é
muito bem sinalizado e arborizado, possui mais movimento porque tem
cunho religioso. Deve-se tomar cuidado e não demorar muito no
percurso devido aos animais selvagens – tem até onça. Ele
procurava sempre visitar as igrejas nas cidades onde parava. Como é
de se esperar, Caminho da Fé tem MUITA igreja. Atualmente ele está
animado em fazer o Caminho da Luz, que vai do Espírito Santo até o
Pico da Neblina no Rio de Janeiro. Contou que o Caminho da Luz tem
esse nome porque possui muitas pedras preciosas que refletem a luz
noturna.
Roberto
e Jorge deram-me conselhos de como não queimar os braços, pois
contei da minha queimadura de segundo grau. Ambos já percorreram o
Caminho de Santiago, Roberto contou que sua esposa levou a mochila
num carrinho porque perdeu um músculo peitoral para o câncer.
Convenceram-me a definitivamente não colocar blusa de frio na
mochila se pretendo caminhar no verão. Até o início da conversa
estava propensa a carregar minha blusa já que ela pesa tão pouco. O
problema é que faz volume, ocupa espaço - além de ser inútil no
verão.
Falou-se
muito em lugares, paisagens, climas, mas o que faz os caminhos vivos
de verdade são as pessoas que o percorrem. São as pessoas que
tornam os lugares únicos, com elas interagimos mais do que com a
paisagem. São pessoas que nos marcam, não belezas naturais. Não
falei dessas convicções para os colegas, mas sei que Palma também
partilha essa ideia, por isso agradeceu a presença de todos e nos
disse que somos parte do caminho.
A
comemoração dos 15 anos do Caminho do Sol foi como se a planta
agradecesse o semeador. Não se deve esquecer da força própria de
quem faz e zela pelo Caminho. Fiquei grata por pertencer ao seleto
grupo de peregrinos.
“Vem,
vamos embora, que esperar não é saber
quem
sabe faz a hora, não espera acontecer”
Pra
não dizer que não falei das flores, Geraldo Vandré
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