sábado, julho 14, 2018

“Caminhando e cantando e seguindo a canção

somos todos iguais braços dados ou não...”

São Paulo, 3 de agosto de 2017

Ontem atualizei a lista dos itens de viagem. Bela lista para imprimir e conferir nas vésperas da viagem. Tirei casaco corta vento, blusa fleece e óculos escuros; acrescentei creme contra dor muscular, vaselina, Ibuprofeno, hidratante pós sol e loção contra queimadura: 46 itens no total. A loção é o remédio rosa, para passar caso me queime de fato, o hidratante pós sol é prevenção após o banho.
Entre março e agosto prestei concurso público, no qual não passei, e fiz curso profissionalizante de manicure. Trabalho voluntariamente no Lar Bartuíra como manicure nas tardes de sábado. Lá só esmalto unhas das vovós. O Lar Bartuíra é uma divisão da Casa Transitória Fabiano de Cristo, instituição de caridade mantida pela Federação Espírita do Estado de São Paulo, a Casa Transitória é composta de duas creches além do asilo. Presto novo concurso dia 6.
Hoje é dia de lançar minha página de manicure no Facebook, oferecendo serviço a domicílio depois do meu expediente como secretária. Gana por dinheiro? Longe disso! Faço unha por diversão. Peguei gosto em espalhar beleza, resgatei meu gosto primitivo por cores. Minha paixão é embelezar mãos senis, peguei mamãe como garota propaganda. Tio Nuna me apoiou muito: não bastasse os esmaltes Impala que guardei ao longo dos anos, me deu o material de cutilagem. Depois da minha festa de aniversário pretendo me candidatar como manicure aos domingos no salão que funciona dentro do Carrefour mais próximo de casa. A condição das manicures do salão da rua é horripilante! O trabalho final delas pode até ser bom, mas é muito amador: sequer possuem dosador de acetona e biossegurança passa quilômetros dalí - usam forninho de esterilização. Forninho! Coisa que não esteriliza nada!
Praticando meu hobby de manicure aos fins de semana não terei tempo para longas caminhadas preparatórias. O remédio é voltar pra academia firme e forte, de terça a quinta-feira. Além de usar meu stepper toda santa madrugada. Um bom livro e a rádio Eldorado me acompanham no enfadonho exercício matutino – prefiro caminhar ao ar livre.
Ontem participei do jantar comemorativo dos 15 anos de existência do Caminho do Sol. Aconteceu no restaurante do hotel Feller, próximo à estação Brigadeiro.
Conheci Jorge, Roberto e Solange, que ficaram na minha mesa. Também estava acompanhada de Débora, do Armazém do Limoeiro, e a Vó, que participou do primeiro grupo de caminhada em 2002. Vó, Camila e Artur organizam o apoio aos peregrinos. Débora contou que entregou as chaves do armazém ao novo proprietário semana passada, não é ela quem cuidará do ponto de parada, contou que o armazém está todo depredado já que com as dívidas da família não havia como conservá-lo. Entregou a Palma uma foto de quando a imagem de Santiago passou pelo armazém – se não me engano foi em 2012. Palma também recebeu uma placa comemorativa dos 15 anos de existência do Caminho do Sol, placa que segundo ele pertence a todos os peregrinos e voluntários que efetivamente fazem o caminho, ele apenas idealizou e mantém a sinalização. Ele quis dizer que o início é importante, mas é a persistência do grupo que mantém os projetos vivos.
Jorge mora em Indaiatuba, percorreu o caminho pela segunda vez em março e auxilia os peregrinos no trecho entre Aras do Mosteiro e Fazenda San Marino. Contou que muita gente desiste antes da metade do caminho, raros abandonam depois da Fazenda Milhã – que é minha próxima parada. Um ponto estranho: depois de Elias Fausto a paisagem fica mais monótona – cana por todos os lados – e no entanto é quando os peregrinos menos desistem. Passar da metade do caminho tem efeito animador, ou os primeiros quatro dias é o período de maior dificuldade em adaptar-se a rotina. Jorge tem descendência espanhola, família em Sevilha. Contou que o verão europeu é extremamente quente e seco, temperatura entre 30 e 50 graus sem a menor umidade. Desisti de percorrer a rota de Santiago no verão, o melhor mesmo é o início da primavera: fim de março, início de abril.
Roberto fez o Caminho da Fé a partir de Águas da Prata, cidade que iniciou a criação do caminho. Outros ramais como Mococa, de onde pretendo partir, aderiram ao Caminho da Fé mais tarde. Contou que o caminho é muito bem sinalizado e arborizado, possui mais movimento porque tem cunho religioso. Deve-se tomar cuidado e não demorar muito no percurso devido aos animais selvagens – tem até onça. Ele procurava sempre visitar as igrejas nas cidades onde parava. Como é de se esperar, Caminho da Fé tem MUITA igreja. Atualmente ele está animado em fazer o Caminho da Luz, que vai do Espírito Santo até o Pico da Neblina no Rio de Janeiro. Contou que o Caminho da Luz tem esse nome porque possui muitas pedras preciosas que refletem a luz noturna.
Roberto e Jorge deram-me conselhos de como não queimar os braços, pois contei da minha queimadura de segundo grau. Ambos já percorreram o Caminho de Santiago, Roberto contou que sua esposa levou a mochila num carrinho porque perdeu um músculo peitoral para o câncer. Convenceram-me a definitivamente não colocar blusa de frio na mochila se pretendo caminhar no verão. Até o início da conversa estava propensa a carregar minha blusa já que ela pesa tão pouco. O problema é que faz volume, ocupa espaço - além de ser inútil no verão.
Falou-se muito em lugares, paisagens, climas, mas o que faz os caminhos vivos de verdade são as pessoas que o percorrem. São as pessoas que tornam os lugares únicos, com elas interagimos mais do que com a paisagem. São pessoas que nos marcam, não belezas naturais. Não falei dessas convicções para os colegas, mas sei que Palma também partilha essa ideia, por isso agradeceu a presença de todos e nos disse que somos parte do caminho.
A comemoração dos 15 anos do Caminho do Sol foi como se a planta agradecesse o semeador. Não se deve esquecer da força própria de quem faz e zela pelo Caminho. Fiquei grata por pertencer ao seleto grupo de peregrinos.

Vem, vamos embora, que esperar não é saber
quem sabe faz a hora, não espera acontecer”
Pra não dizer que não falei das flores, Geraldo Vandré

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