quinta-feira, dezembro 31, 2009

ACHADOS DE 2009

Aproveitando que o ano está com as horas contadas, vou contar meus achados no período das últimas 365 voltas que a Terra fez em seu próprio eixo.

A soma dos algarismos desse ano resultou em 2. Na numerologia esse número representa a dúvida, entre outras coisas que não lembro. Acho que fiquei em dúvida só depois de terminar a faculdade... Agora já sei o que quero da vida, já posso procurar emprego de novo.

Terminei meu estágio, arrumei emprego com carteira assinada, e serei dispensada em janeiro com muita felicidade. De ambas as partes, acredito. Farei parte do corte de gastos da empresa. Já estava começando a pensar em montar meu pé de meia e sair, recebo no último mês essa agradável e inevitável surpresa. Sabe quando a gente percebe a onda se formando perto da gente e se prepara? Foi o que fiz. Ano que vem vou surfar.

Me preparei o ano inteiro pra ser quem sempre quiz. Já comecei a mudar, embora haja muito a executar. Eliminei peso desnecessário no meu corpo, para levar uma vida mais leve, voar de uma vez por todas. Aprendi a retribuir esquecimento, desatenção, desinteresse com mais do mesmo. Foi difícil, não é da minha natureza esquecer quem me esquece, retribuir a tristeza que me causam com desprezo. Precisei me conter muito para ser menos generosa, domar a alegria explosiva que me faz de palhaça no decorrer da vida.

Terminei a faculdade, comecei um curso de inglês, encontrei pessoas que não me decepcionam, não encontrei quem me decepciona. Não encontrar pessoas me decepciona, e por causa desses desencontros as distâncias aumentam cada vez mais. Só agora percebo que é um sinal de que também estou em outro caminho, assim como as pessoas que não encontro. Sinal de que estou chegando em algum lugar.

Esse ano fui no lugar mais alto e frio do meu estado. Um sobretudo foi comprado para a ocasião, mas teve seu momento especial no aniversário de 15 anos de minha prima. Festas chiques no inverno? Pode babar que o sobretudo é meu, não é alugado não. Lindas luvas curtas de pelúcia preta também podem completar meu visual em qualquer evento ou momento chique. Compradas em Campos do Jordão, próximo ao Bar Fim do Mundo.

Falando em fim do mundo, finalmente li “O Guia do Mochileiro das Galáxias”, mas não me empolguei para encontrar “O Restaurante no Fim do Universo”, que é a continuação. Li muito em 2009, espero ler cada vez mais. Termino o ano em 1757, em meio a história do quilombo do Cruzeiro que o livro “Sesmaria”, de T.J. Martins, conta. Quem quiser baixar na internet pra ler, o site é http://tjmar.sites.uol.com.br/sesmaria.htm . “Amanhecer”, de Stephenie Meyer, fica pra ler em 2010.

Em 2010 vou encontrar minha turma, vou encontrar um circo pra chamar de meu. Os planos já estão esboçados.

Em 2009 encontrei-me, gostei bastante de me conhecer. Foi importante para mudar. Quem mal me conheceu antes talvez não note mudança alguma, e isso é bom. Agora posso conhecer outras pessoas além da minha família.

2009 foi ano de compreender e valorizar a família, a célula fundamental da sociedade que tantas e tantas vezes se mostra problemática. Foi ano de tentar difundir o senso de família na própria família, com algumas conversas boas. Muitos costumam só fazer parte e achar que o simples laço sanguíneo nos une, o que não é verdade.

Viver em família é mais do que dormir sob o mesmo teto. É participar da manutenção da casa, é se importar com o dia e a vida de quem está perto, é querer ajudar e ser ajudado por quem está sob o mesmo teto. Daí vem a força da família: da união e respeito de pessoas diferentes. O objetivo? Ser feliz.

No fundo todos querem a felicidade, mas quem admite isso em plena segunda-feira treze de um mês qualquer? Felicidade é palavra só pra final de ano, início de outro ciclo.

Felicidade foi um dos meus achados em 2009. Quem não encontraria ao finalizar tantos ciclos, ao mudar tantas vezes? - Os pessimistas, certamente. Como não é meu caso, digo que encontrei felicidade nesse ano e marcamos vários encontros para o ano seguinte. Ela não especificou a data nem o local, mas como uma boa amiga temperamental que é, há de me encontrar até em dias chuvosos.

Descobri que chuvas são bom sinal. Uma mudança que o céu manda para a terra. Dia de chuva é tempo de mudança, dia de sol é tempo de bonança. Além, é claro, de ser um ótimo dia para visitar o Aquário de Santos - eleito o programa de índio da vez, igual fiz anos atrás com o pico do Jaraguá.

Aprendi jogar Copas, Tranca, e Fudido, mas não Gamão. Não acredito que passei um ano sem querer aprender jogar Gamão, me esqueci completamente do brinquedo que não tenho. Porém batalhei com as Legiões Bege no Império Romano de Pedro, e de lá trouxe força e determinação para meus exércitos Brancos do jogo War II. Estou me transformando numa oponente difícil. AH! Adoro jogar! Amo dançar! Preciso usar mais meu tapete de dança, pular rápido e sair do básico.

Por que gosto de coisas infantis e primitivas como jogar e dançar ao invés de conversar? Porque nesses momentos temos a liberdade de sermos mais espontâneos, podemos nos transformar no que não somos, podemos gritar, sair do educado estado normal. A gente se conhece de um jeito diferente, quase animalesco. A bicharada é tão simples... e divertida! Adoro!

Parabéns para quem conseguiu ler essa abobrinha balanceada entre as voltas terrestres, entre nacimentos e mortes de nossa estrela matutina, a estrela guia da humanidade. Que ela continue cozinhando nossos miolos e curtindo nossa pele por muitas e muitas eras que estão a caminho.

Que o próximo ano dois mil seja dez para os heróicos leitores dessa terra.

domingo, dezembro 20, 2009

TIRE ESSE AZEDUME DO MEU PEITO
e com respeito trate minha dor
se hoje sem você eu sofro tanto
tens no meu pranto a certeza de um amor...”

Continuando a dramática novela romântica do útimo texto, olhei “Eclipse” por 7 dias. O terceiro livro da série iniciada com “Crepúsculo” coloca mais ação e violência para dividir espaço com as emoções arrebatadoras do triângulo amoroso mais previsível que já vi. Será que todos triângulos amorosos são tão previsíveis assim? Nunca reparei ...

O romance que embala as idéias de Bella dessa vez é “Morro dos Ventos Uivantes”, que felizmente não li nem pretendo ler. O par romântico comenta e se comprara com os personagens principais desse livro. Já recebeu uma declaração de amor copiada de um livro? Cena bonita, a pesar de não ser de originalidade genuína.

No “Eclipse” lobisomens e vampiros mostram suas armas, suas raízes e lutam. Hora de conhecer lendas da tribo Quileute e a história de mais dois integrantes da família Cullen. Os personagens secundários vão dando as caras e se envolvendo mais na trama.

Continuo me identificando com a turma da alcatéia, admirando a tribo. Mesmo assim não faço torcida para a Julieta da história mudar de idéia. Na trama, a autora faz a mocinha ficar indecisa, mas esse triângulo amoroso me parece tão previsível que sequer considero triângulo de verdade. A essência do par é Romeu e Julieta, não importa quanto floreio se coloque na situação. Eles ainda viverão amaldiçoados para sempre, como todo amor eterno deve ser visto pela sociedade. Não é todo mundo que consegue amor eterno, então o mundo amaldiçoa essa preciosidade por pura inveja.

O lobisomem mostra sua natureza crua: é uma criatura selvagem, impulsiva, violenta mas de bom coração. Na maioria das vezes ele é assustador, em outras surpreendentemente encantador. O vampiro ataca com destreza, estratégia e altruísmo - coisa de gente civilizada. Um perfume doce para quem adivinhar qual dos dois personagens é mais encantador para a donzela indefesa. Falando nisso, o lobisomem tem cheiro almíscar amadeirado, se não me engano. – Pela primeira vez Bella comenta o cheiro de seu melhor amigo.

Pobre lobisomem. Fadado a uma vida de cão. Ele finalmente consegue beijar a mocinha, o problema é que já é tarde para conseguir o coração dela. Mas o bicho é esperto e teimoso, consegue provar que já estava no coração dela antes, sempre vai estar. Esse feito deixa uma ferida ardida tanto no lobo quanto na mocinha. Pior pro lobo, que perde o rumo da vida.

“Mas peço pra que um dia se pensares
em trazer-me seus olhares
faça por que te convém.”
Azedume, de Los Hermanos


INCONSCIENTE ESTÚPIDO,

De onde você tirou a idéia de que não posso ser alegre?

Me coloca num ônibus com Fernando Anitelli, do Teatro Mágico. Devidamente caracterizado de palhaço como em todo show, porém sem fãs histéricos e lunáticos ao redor. Conversávamos como dois amigos normais, que viajavam juntos. Naturalmente, no sonho eu fazia parte da troupe. De repente ele fica triste e comenta:

- Sabe, você é otimista demais.

Tudo que faço é olha-lo com cara de interrogação, expressando um gritante E DAÌ?

Daí acordo com raiva do meu inconsciente idiota, que piamente acredita que não posso ser feliz nem em sonho. Tem a audácia de usar um dos meus ídolos pra me dizer isso.

Ah! Que bom que sou mais do que meu inconsciente!


SWEET DREAMS are made of this
who am I to disagree?...”

As mulheres do ônibus de manhã simplesmente A DO RAM um perfume doce. Tão enjoativo que embrulha o estômago.

Culpa da linha Fun da Boticário, empipocada de “divertidos” cheirinhos doces. Passo em frente a 4 lojas da rede todo dia, sei muito bem que outras empresas também vendem perfumes doces, mas só O Boticário pula nos meus olhos todo dia. No fundo é até bonitinho a plaquinha verde... felizmente a promoção da linha Fun costuma acontecer em outubro, mês da criançada louca por doce babar na vitrine. Agora é a vez das caixas de natal com apetrechos combinando.

Enquanto isso, no ônibus, a mulherada capricha no perfume doce que comprou ou ganhou meses atrás. Com essas interferências e a pouca quantidade que uso, meu perfuminho verde some na viagem. Nem por isso desisto de usa-lo de manhã e senti-lo um pouquinho. Mil vezes melhor do que esse povo que se emboneca com açúcar.

“Hold your head up
keep your head up
movin’on...”
Eurythmics, Sweet Dreams

quinta-feira, dezembro 10, 2009

O AMOR É FILME
eu sei pelo cheiro de menta e pipoca que dá quando a gente ama...”
bem canta Cordel do Fogo Encantado

Não acho que “Lua Nova” seja o livro da vez, embora muitos estejam lendo por causa do filme que está em cartaz e não pretendo assistir. Não estou em tempo de romance.

Li o livro em 3 dias, ele é muito bem escrito, sem dúvida. Mas não é o livro da vez, não achei extraordinário. Me surpreendi como consegui adivinhar a trama a partir do primeiro livro da série. Bem que comentei no sítio que a história era mais uma roupa pro clássico Romeu e Julieta. Não deu outra: em Lua Nova a peça de Shakespeare é mencionada dezenas de vezes.

Não me identifico muito com a heroína, não morro de amores pelo herói, gostei do lobo. Não por ser marombado, mas por se índio, concertar carros, ter uma família muito bem estruturada, ter tradições a seguir. De certa forma ele é um porto seguro: fiel, corajoso e companheiro como um cão de guarda. Quem não amaria um bichinho bonitinho e quentinho assim? A heroína da trama.

A nova Julieta do pedaço se apaixonou por seu gélido Romeu e não tem olhos pra mais ninguém. O triângulo amoroso de “Lua Nova” tem seus dias contados. Julieta é fiel a seu par ideal, não importa a idiotice que Romeu cometa. Ela não é uma Colombina que morre de amores pelo Pierrô mas termina o carnaval com o Arlequim. Julieta seria a Colombina que mesmo depois de dançar com o Arlequim terminasse o carnaval nos braços do Pierrô.

Julieta é puro ideal: encontra seu Romeu com índole de Pierrô e não troca por nada, não importa quanto ou como a forcem mudar. Julieta é constante, Colombina é mutável. Não há triângulos amorosos com Julieta, ela enfrenta obstáculos contra seu amor.

Como uma heroína romântica que se preze, no próximo livro Bella vai tentar amenizar a dor seu amigo rejeitado. Mulher nasceu pra ser flor, não sabe ser espinho. O moço sofre pela decisão que você tomou? Deixa sofrer, vai sarar. Quando o próprio espinho tenta concertar a ferida que causou ele acaba se aprofundando mais, piorando a situação. - Heroínas clássicas não pensam assim. Se pensassem, cortariam os pedaços cruciais dos clássicos românticos.

Bella não gosta do que é vivo, quente e mutável como a vida. Prefere o que é eterno, perfumado, brilhante e ideal como um sonho mortífero. Somos ou não somos feitos da matéria dos sonhos?

“Um belo dia a gente acorda e humm!
Um filme passou por a gente...”
Cordel do Fogo encantado

domingo, novembro 22, 2009

O CÉU ESTÁ AO MEU LADO

Hoje meu anjinho da guarda se encarnou num ciclista que construiu sua própria bicicleta motorizada. Geralmente suspeito de sua presença como Bem-te-vi, hoje ele era um ciclista acompanhado de dois meninos em bicicletas normais. Coincidência? Na imagem, o Anjo da Guarda aparece cuidando de duas crianças.

A bicicleta do cara me chamou atenção. Tive a sorte de parar e perguntar a ele se era uma Mobilete, no que ele disse cheio de orgulho que era uma bicicleta motorizada que ele mesmo tinha feito. Mobilete é marca, e não tem a opção de andar sem combustível. QUE BACANA! Foi minha alegre expressão diante do cara grisalho de boné. Então atravessei o viaduto a pé: Um moleque maltrapilho na minha frente, os meninos que acompanhavam o cara da bicicleta atrás de mim, e o cara da bicicleta motorizada na pista, do meu lado. Depois que atravessamos o viaduto ele disse que o maltrapilho queria me assaltar. – Eu não tinha reparado, vivo andando anestesiada.

Um cara que caminha na minha frente querendo me assaltar? Podia ser, eu não havia reparado na fisionomia do maltrapilho antes de entrar no viaduto. Reparei na bicicleta e depois no ciclista, tão bacana quanto a bicicleta. Se bobear até mais. Mas não agradeci o rapaz, que me lembre. Só exclamei - Noossa! Não tinha reparado! E continuei meu caminho sem nem saber o nome desse meu anjinho da guarda. Anestesiada.

Como alguém pode se sentir quando tem certeza da presença de Deus ao seu lado? Eu voltava da igreja, a pé, sentindo-me em harmonia com o mundo, maravilhada, e anestesiada. Caminho ao lado do meu anjinho da guarda e nem pergunto o nome do mortal que o encarna.

Verei o ciclista novamente? Talvez não. Mas o céu está do meu lado. Certamente encontrarei um cara criativo e bonzinho feito o ciclista pra me acompanhar centenas vezes.

domingo, novembro 15, 2009

CONSELHO DE SEGURANÇA

Da ONU. Há anos o Brasil que uma vaga permanente no conselho de segurança das Nações Unidas. Um dos brilhantes conselhos que o país desde já espalha é possuir mais de uma forma de geração de energia elétrica.

Organização? Planejamento estratégico? Isso é coisa para momentos festivos: copa, olimpíadas, carnaval. Em locais bem específicos, é bom que se esclareça. No dia a dia o povo só leva na cabeça, caminhando automaticamente pro buraco, sem se preocupar nem se rebelar. Temos pão e circo.

“Temos bananas, temos bananas
temos o sol pra rasgar nossas retinas
temos bananas, temos bananas
e temos o céu pra exorcizar nossa ruína...”
Bananas, de Titãs

sábado, novembro 07, 2009

QUE PETULÂNCIA!

Por suportar algumas horas em minha companhia, observando e julgando a seu bel prazer cada detalhe mínimo de meus atos, a pessoa acredita que me conhece a ponto de dizer-me o que penso e o que acho. Acredita que me conhece por dentro olhando de fora, sem nunca investigar o que se passa comigo por dentro. Não pergunta direto, não demonstra claro interesse em mim, só na idéia completamente unilateral que faz de quem eu seja.

Adora um espelho, ama o mais do mesmo, delicia-se em seu camarote vendo novelas da vida alheia. Sedenta de tempestades em copo d'água, pois é tudo que consegue provocar. Petulante, hipócrita. De gente assim quero distância, o tempo que passei perto de vocês já é mais do que suficiente para aprender o quanto não combinamos.

Gente assim eu atropelo. Cruzo o caminho delas com tudo sem me importar com suas dores e mágoas mesquinhas. Devo ter atropelado muita gente sem perceber. Fizeram por merecer.

segunda-feira, novembro 02, 2009

MI QUERIDO DIÁRIO

Hoy yo quería estar en México, sólo para ver la fiesta del día de los muertos. Es verdad que no quería mucho, porque si quisiera mismo encontraría una manera de ir a México. Tal vez algún día iré, en verdad, aún no lo sé.


Por semanas quis postar o texto abaixo como arquivo de voz nesse sítio. O tempo passou e não aprendi a mexer no celular onde o gravei, somente lá ele é escutável. Essa poesia tem tudo a ver com o dia de finados, mas foi feita em resposta a Gleice, do Murmúrios Pessoais, que quiz saber como consigo me desvencilhar de paixões não correspondidas.

GUARDA FEITO SONHO
As mais belas lembranças que você quer esquecer
não esquece
guarda feito sonho
perto do inconsciente
longe da realidade
na espera de que desapareçam
sem fotografia
sem objeot algum pra lembrar
deixa só no pensar
guarda feito sonho
as maravilhas vividas que não se repetem
as delícias que você não se atreve a repetir
e quer esquecer
elas fazem por merecer
guarda feito sonho
até amanhecer.

domingo, outubro 25, 2009

O FILME DA VEZ É

Watchmen. Tão agradável quanto o primeiro Matrix da trilogia.

Tem heróis, vilões, personagens complexos. Tem fundo histórico – a saudosa década de 80 – mas não se esqueça que é pura fantasia. Tem política pra deixar a trama intrincada, tem romance para as mulheres suspirarem, sexo pros homens pirarem. Pros homens tem carnificina crua, que é o que realmente ecita, além de uma boa dose de porrada. O que me fez liga-lo a Matrix foi a filososia e o existencialismo encarnados em Dr. Manhatam, o mutante indestrutível super power cuja fraqueza é a emoção.

Ou seria a mente? Enfim, convença-o e Dr. Manhatam fará o que você quiser. Manipula-lo é muito difícil. Ele vê o futuro, mexe no tempo, nas energias, teleporta coisas... isso por si só pira a cabeça de qualquer um. Porém ele já era pirado antes de ganhar poderes: um físico que sofreu acidente com radiação nuclear. Falei que o filme tem fcção científica? Enfim, me amarrei no existencialismo desse personagem, o cara azul me cativou. Quem me contou da existência de Neil Gaiman usava o nick de Dr. Manhatan, por isso desde o início queria saber quem raios era esse personagem.

Uma pena que a heroína da trama seja um tanto libertina, daí parece uma putinha pra quem não pára para analisar o ponto de vista dela. O narrador é fantástico, o irmão bastardo da heroína. Ele escreve um diário e não usa roupas de látex, mas sobretudo, chapéu e uma máscara muito doida. O mais extremista, o único que não é manipulado – mas fica com a imagem de louco do grupo, por isso ninguém o ajuda no início.

O filme trata de heróis aposentados. Começa com a morte de Comediante. Mais uma vez um palhaço sem noção põe ação no circo. Vi essa fórmula em “Batman – Cavaleiro das Trevas”, e nesse mesmo filme encontro o mesmo final onde o herói de verdade se faz de vilão pra o bem da população. Contei o final? Acho que não, esse filme demora pra acabar.

Wartchmen foi uma revista em quadrinhos, que fez sucesso há 30 anos mais ou menos. Personagens complexos, enredo muito bem bolado, puxando pra realidade. Existencialismo, ação, carnificina e romance no mesmo pacote. Simplesmente um filme perfeito.

sábado, outubro 17, 2009

ALL I REALLY WANT
DESEJO, necessidade, VONTADE, necessidade, DESEJO...

O Livro Verde, de Elizabeth Rogers e Thomas M. Kostigen, mostra como é possível salvar o planeta da poluição e do superaquecimento, livrar-nos da fúria da natura mesmo sem um anel de terra, água, vento, fogo ou coração. - Vai Planeta!

O poder é de vocês! A contracapa diz que com pequenos gestos podemos colocar nossa querida bola azul nos eixos. Não é preciso deixar o conforto tecnológico de lado ou ser hippie natureba. Uma compilação de “dicas fáceis e práticas para reciclar, reutilizar, reduzir o consumo e economizar dinheiro em casa, no trabalho, em viagens, nos esportes e em áreas que vão do entretenimento à construção civil, passando pela tecnologia e a cosmética”, segundo a contracapa e o site da editora Sextante. Algumas dicas: ler jornais na internet, colocar açúcar antes do café no copo para não precisar misturar com pasinha descartável. Adolescentes histéricas adorarão ler algumas sugestões de Justin Timberlake.

Outros ícones famosos também dão seus pitacos ao longo da obra (Robert Redford, Jennifer Aniston e Owen Wilson), entretanto o mais interessante é que o livro – em papel reciclado – ajuda a gente a tornar nossa vida diferente.

Aqui vai uma dica pessoal para os revolucionários extremistas, a galera de 15 a 18 anos, que toma consciência do mundo e não faz cerimônia pra ir a luta: Se quiser modificar o mundo, comece modificando a si mesmo.
FOI VOCÊ QUE ME CHAMOU DE PALHAÇO?

O Circo dos Horrores pegou fogo no Hopi Hari de agosto a outubro. Esse é o período da Hora do Horror do parque. Enquanto na capital o Playcernter tem seu tradicional período de Noites do Terror, o grande vizinho caipira tem a Hora do Horror.

O Hopi Hari deve ser ótimo: tem espaço pra crescer, brinquedo, só falta consolidar a fama. Porém isso vem com o tempo. Nos primeiros tempos o parque praticamente não tinha fila, hoje a fama é contrária.
NOVELA DAS NOVE

Parece estranho. Depois do jornal, você pára de pensar diante de uma novela sobre Viver a Vida.

“A programação existe pra manter você na frente
na frente da TV
que é pra te entreter
que é pra você não ver que o programado é você”
Canta Gabriel Pensador, em Até Quando?

Foi nessa novela que escutei uma nova versão de “Over the Rainbow”, a música tema do filme O Mágico de Oz. Anestesia pura, ópio maravilhoso! A idéia é fazer a gente relaxar até pela trilha sonora. A gente merece depois de um cansativo dia de trabalho, não?

Claro que no meio das novelas existem algumas questões comportamentais e culturais, existe a propaganda que banca a emissora, mas toda novela que se preze precisa anestesiar que a acompanha. Quer realidade? Assista documentários, leia estudos, tratados e pesquisas acadêmicas, compre um jornal.

Novela é a distração mais barata, tem uma influência absurda na vida dos brasileiros. Não merece críticas severamente radicais, como muitos que se consideram “cultos” adoram fazer no intuito de mostrar sua “superioridade” ou “refinamento”. Em gente assim vejo ostracismo, intolerância e incompreensão.
PRIMEIRO CAPÍTULO

Conhece alguém que consegue parar nele? Olá!

Consegui tal proeza com o livro Angus, O Primeiro Guerreiro, escrito por Orlando Paes Filho. A pesar do ritmo a história é maravilhosa, as ilustrações são muito bonitas – qualquer cara que joga RPG ficaria babando, o pano de fundo é um assunto que nunca sonhei em conhecer – Reino Unido no início do período medieval, MAS...

É testosterona demais pros meus olhos. Me arrepiei com o capítulo da Águia de Sangue - lembro até hoje, mas não tenho vontade alguma de ler o segundo livro. A série tem sete, se não me engano.

Normalmente gosto de ir até o fim com o que começo, porém tenho começado bastante sem continuar nada. Aqui vai minha lista de “primeiros capítulos”, livros que iniciam uma longa história:

Éragon, de Christopher Paolini. Primeiro vi o filme, achei um bom livro. Fantasia, aventura, lutas, o ritmo é um pouco ruim mas consegui chegar ao fim.

Os Sete, de André Vianco. Foi o terceiro livro que li desse autor, que é famoso pelos vampiros e suas linhas macabras. Não importa a história: em algum momento você terá medo ao ler André Vianco. Os Sete, seu romance mais famoso, prende o leitor do início ao fim, é preciso muita força de vontade parar fazer uma pausa enquanto se lê.

O Guia do Mochileiro das Galáxias, de Douglas Adams. Para manter a linha de aventuras fantásticas envolventes, o diferencial dessa é ser hilariante. Assisti o filme antes de ler, assim como fiz com Éragon. O filme Éragon é melhor que o do Mochileiro, o livro do Mochileiro é melhor do que Éragon. Marvim é o grande personagem secundário da história interplanetária, consegue cativar o leitor mesmo com seu mau humor. O alegre e entusiasmado computador de bordo da nave me chamou atenção, mal reparei que essa coisa existia no filme.

Crepúsculo, de Sthephenie Meyer. Vampiros? Romance, na verdade. Com uma pequena fantasia macabra embalando a história. Se quiser vampiros, leia André Vianco. A história de Sthephenie Meyer é envolvente, mal consegui parar de ler, merece a consagração de best-seller. Por que é preciso brincar com vampiros para ensinar o quão bom é um carinho? Ou que os caminhos indiretos da conquista amorosa são torturosamente fascinantes? - Porque sem isso seria Romeu e Julieta, não Crepúsculo. Ótimo para momentos sensíveis, ótimo para meninas que sonham com sua alma gêmea - o termo príncipe encantado é muito ultrapassado. O que me choca é a fulaninha gostar de um cara gelado. Qual a graça de abraçar um deus grego PÉTREO? Que nem tem coração pra acompanhar as batidas da bomba que carrego no peito? Tudo bem, primeiro amor a gente releva qualquer defeito, além disso gosto é gosto. Eu gosto de sentir o quentinho no meu braço quando dôo sangue.

O próximo livro que lerei é continuação de Crepúsculo, Lua Nova. Minha prima adolescente vai me emprestar, enquanto fica eletrizada com Os Sete de André Vianco.

sábado, outubro 10, 2009

O LIVRO DA VEZ É

O Guia do Mochileiro das Galáxias, de Douglas Adams.

Prova que física, matemática, filosofia, e política são coisas muito divertidas. Hilárias. Principalmente se muito bem dissolvidas e embaladas numa alucinante aventura além do horizonte. - O espaço sideral tem horizonte?

Não esqueça sua toalha. Não entre em pânico. A resposta é 42. Quer saber a pergunta? Por que a pergunta é tão interessante assim? Ela só vai lhe aborrecer com uma dúvida, a resposta é 42 e ponto final. Quem pergunta não quer uma resposta? Pois bem, aí está: 42. Resolve todos os mistérios insondáveis.

Diversão e risadas fáceis você encontra no Guia do Mochileiro das Galáxias. Se prestar atenção, verá que oferece muito mais. Oferece até continuação: O Restaurante no Fim do Universo. Um dia irei conhece-lo.

Por enquanto, sei que o Bar Fim do Mundo fica no Pico do Itapeva, próximo a Campos de Jordão. Verdade, tenho foto e tudo. Certamente é um lugar que não está no Guia do Mochileiro das Galáxias, a pesar de vasto ele quase não fala sobre nosso planeta. Um livro pra tirar a gente da Terra em segurança, e SEM ENTRAR EM PÂNICO.

sexta-feira, outubro 02, 2009

COMO VOCÊ É INFANTIL! VOCÊ NÃO CRESCE, NÃO?

Em certas partes não cresço, não mudo. No fundo porque não quero.

Ser infantil, pra mim, é agir de acordo com minha natureza primária. Não uma natureza bestial, agir de acordo com a natureza bruta e pura é literamente agir feito besta. Lembra dos primeiros ensinamentos? As primeiras lições? A infantilidade mora nessas bases, esses princípios educacionais que mais visam domar nossas bestialidades do que direcionar nossa vida.

Quem teme ser infantil teme um pedaço da própria essência, teme o próprio passado, e acaba não gostando do novo. Fica ranzinza... Os adultos que temem a própria infantilidade carregam muita amargura. E antipatia. Não acham que envergonhar-se do próprio passado é envergonhar-se de si mesmo.

Ninguém existe sem passado, devemos agradecer nossa existência a ele. Se a infância faz parte do passado, por que envergonhar-se? Se ela influencia muito o presente, que mal tem? Cada um escolhe uma pedra do passado pra lustrar com orgulho e carregar perto do coração. Sem contar o melhor: podemos trocar essa jóia por outra sempre que quisermos.

É hora de se assumir. E sumir.



SOBRE A QUEDA DE PRODUÇÃO
Durante um mês não escrevi uma única abobrinha nesse pedaço. Porém andei escrevendo em inglês, comecei um curso e toda semana é necessário escrever um texto. Gosto dessa interação, desse direcionamento de idéias, conversar com as pessoas... e tudo de forma leve: ninguém ali compete contigo nem quer te convencer de nada, a intenção é simplesmente praticar o idioma.



Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante” – é o lema da minha vida, Raulzito toca meu espírito.



VIVER SEM NOME
Tem coisa mais triste do que isso? Sem ser chamado, sem ser querido, sem diferenciação... uma dupla de peixes Lips viveu assim, a nova dupla aquática tem história diferente: a pesar de não aparentarem diferença alguma, receberam o nome de Nadie e Nobody. Fazem companhia ao musgo de Java desde o último dia 19, hoje foram informados de seus nomes. Se gostaram dos nomes? No fundo não acham nada... só acham comida, quando recebem.



“Ahí me voy outra vez
ay, te dejo Madrid!
Tus rutinas de piel
tus ganas de huir...”

Porque Shakira não quis saber de Madri, a música explicou bem. Hoje o comitê olímpico resolveu deixar Madri pra cair no Rio!

Rio de Janeiro em 2016 vai realizar as olimpíadas e as para-olimpíadas. Eles devem ter explicado muito bem por que resolveram parar no Rio, eu sei que lá tem centenas de problemas, um dos pontos fracos era a falta de transporte, condução. A cidade é mal sinalizada, então é fácil as pessoas e as balas se perderem, e quando essas coisas se encontram é uma tristeza só. Porém qual cidade não tem pessoas e balas perdidas? Violência não é privilégio do Rio de Janeiro. O privilégio dessa cidade é geografia, só isso.

SÓ isso? Isso é muita coisa! Por causa da geografia não importa a tragédia que ocorra, o perrengue que o povo passe, “O Rio de Janeiro continua lindo...”

2016 vai ter festa bonita nas olimpíadas pois é o que o Rio faz de melhor. O Brasil não vai fazer feio com o Rio de Janeiro na linha de frente.

domingo, agosto 23, 2009

PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DAS FLORES

No show do projeto/programa Criança Esperança, Sandy pulou a penúltima estrofe de “Ciranda da Bailarina”, música composta por Chico Buarque e Edu Lobo. Pudera, o verso não é boa influência para as crianças:

“O Padre também
pode até ficar vermelho
se o vento levanta a batina
reparando bem, todo mundo tem pentelho
só a Bailarina que não tem”

A interpretação da música procurava frisar que “todo mundo tem” ($), quem não tem? A intenção era mesmo pedir esmola, ou melhor, doação para. Anos atrás a banda Penélope gravou uma versão completa, com todos os versos, num ritmo mais rock, que frisava exatamente a idéia que a ciranda dos tempos de ditadura: “só a Bailarina que não tem”.

Segundo a música, a Bailarina é sempre bela e sorridente, não tem problema nem doença. Quem era a Bailarina? A princípio representava o governo, que a censura vivia protegendo. Também foi o modelo intocável nas guitarras de Penélope, sabe aquelas pessoas tão “perfeitinhas” que dão raiva?

Na última noite a Bailarina dançou mais pela ciranda do que pela letra, não mostrou seu pior ângulo, mudou sua razão de ser, e transfigurou-se em crianças atendidas pelo projeto Criança Esperança. A bela Bailarina pede esmola em sua divertida letra nojentinha, na voz da Sra. Lima, produzindo maravilhados sorrisos bobos em quem nunca ouviu falar de sua primeira versão.


POR FALAR EM MÚSICA

21 de agosto foi o 20º aniversário de morte do pai do Rock brasileiro.

O baiano fã de Elvis, que provavelmente nasceu “há dez mil anos atrás” e não era “besta pra tirar onda de herói”, que era “o tudo e o nada”, que acordou “no dia em que a Terra parou” pra dizer que o mal “vem de braços e abraços com o bem num romance astral”, nosso Maluco Beleza, que preferiu viver numa “metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”, há vinte anos foi selado, registrado, avaliado, carimbado e pôde “partir sem problema algum”.

Há vinte anos podemos encher a cara e gritar “TOCA RAUL!” com um pouco de tristeza no coração. Esse maluco, que por escolher o caminho da loucura jamais pode ser tomado como exemplo. Segundo ele, "A arte de ser louco é jamais cometer a loucura de ser um sujeito normal".

Não é a tôa que a Virada Cultural de 2009 em São Paulo teve um palco chamado “TOCA RAUL!”. No meio daquela festa multi cultural - que é a cara de Sampa - ele ganhou 24 horas de homenagem. Feliz o público que grita bem alto as letras do artista e extravasa alegria nos shows.

Em algum lugar do cosmo do universo Raul deve estar feliz por provocar tantas alegrias. Afinal ele mesmo dizia que "Ninguém morre, as pessoas despertam do sonho da vida".

sexta-feira, julho 24, 2009

NOSSO VICE PRESIDENTE JOSÉ ALENCAR

Sobreviveu a sua 15ª operação e não pode morrer antes de terminar o mandato. Se isso acontecer, quem assume a presidência enquanto Lula viaja é o atual presidente do senado. Que não é ninguém menos famigerado do que José Sarney. Alguém escutou alguma notícia sobre corrupção envolvendo o atual presidente do senado? Alguém suspeita que ele na realidade pensa essencialmente no bem da própria família?

Há alguma forma de tirar Sarney do senado? Por enquanto tudo que posso fazer é rezar pela saúde de José Alencar. Com ele na vice-presidência o quadro político não piora tanto.
Eu acho.

quinta-feira, julho 16, 2009

Que sítio é esse? Peixinhos mortos, infância... Quem escreve tem quantos anos? 15 ou 13?

Desculpe, sinto o dever de registrar óbitos de animais de estimação. Do contrário dá a impressão de que a vida deles foi em vão, de que eles passaram em brancas nuvens. Reparou que uma história sobre cachorro gerou uma grana doida para certo autor? Depois dele vieram mais histórias sobre cachorros, gente falando sobre gatos... Nessa onda animal, por que não falar de peixes?

APRENDI COM OS PEIXES

A ser menos preconceituosa. Começando por aceitar o ambiente em que ele vive, que é completamente diferente do nosso. O ambiente deles é mais denso, limitado. Aprendi que o ambiente de cada um tem uma densidade, uma atmosfera, e que temos limites também.

Tem coisas que são de água doce, e coisas que são de água salgada. Quem nasce para água doce se envenena com coisas de água salgada, fica mirrado no meio salgado. Quem vive em água salgada até tolera coisas de água doce, mas explode nesse ambiente.

A importância de ser indireto e tratar do que está em volta primeiro antes do assunto principal. Aprendi que pessoas indiretas preparam o terreno para depois tratar do que importa. Essa dissimulação tem como objetivo evitar o violento confronto direto. Ainda tem muito chão para eu ser mais indireta, é um comportamento que não me é natural, no fundo não quero mesmo. Com os peixes, aprendi a compreender melhor as pessoas indiretas.

Existem regras que são corriqueiras demais para a gente e extremamente importantes para os outros. Podemos morrer ao quebrar regras de relacionamento.

Dar atenção a quem não pede de forma alguma, mas depende da gente sem saber. Ingratidão da parte que precisa de cuidados e atenção? Não! Pura ignorância. Padre Antônio Vieira escreveu sermões aos peixes. Acho que fez isso por saber que peixe é um símbolo cristão - nos tempos em que o cristianismo era proibido, indicava secretamente quem era cristão.

Aprendi que rotina é boa, traz bons resultados com pouco esforço de cada vez. A automatização da rotina faz com que a executemos cada vez mais rápido, que sejamos cada vez mais práticos. Com os peixes aprendi que rotina é muito importante, para alguns seres chega a ser vital. Descobri que ela me dá criatividade: tanto para quebrá-la como para melhora-la. Não gosto de rotina para me divertir, porém sinto-me incomodada enquanto não encontro uma no ambiente de trabalho.

Tudo isso aprendi até agora com a morte de 5 peixes (sem contar os 40 filhotes que o Lebiste trouxe junto). Há quem aprenda tais coisas de outras maneiras, passe por experiências mais intensas e comoventes, envolvendo vidas mais complexas do que a de peixes e plantas de aquário.

quinta-feira, julho 09, 2009

NOTA DE ÓBITO

“Se eu fosse um peixinho
E soubesse nadar
Numa caixa de vidro
Eu não ia ficar...”

Morre dupla de peixes Lips, com 5cm de comprimento cada um. Motivo do óbito: troca de mais da metade da água contida na caixa de vidro.

Os representantes da terceira população animal a ocupar a caixa de vidro com bolinhas de gude passaram pouco mais de dois meses tendo um bom tratamento (25.04 a 09.07.2009). Não ganharam nome porque eram muito parecidos.

Cuidar de peixe não é difícil, basta respeitar algumas poucas regras e rotinas sem NUNCA mudar ou dar pouco crédito a elas. Sei de quatro:

Alimente a cada dois dias.
Não troque mais da metade da água do aquário.
Não use sabão ou qualquer produto químico para limpar o aquário. – Essa nunca quebrei!
Aquários com plantas não precisam ser limpos. – Dessa eu duvidei.

Havia muita sujeira entre as bolas de gude que ficam no fundo, o aquário definitivamente precisava ser limpo. Como a água estava muito suja, decidi não respeitar a regra e troquei mais da metade. Resultado: morte animal. Poderia muito bem ter limpado a caixa de vidro sem trocar quase nenhuma água, os peixes morreram por descuido bobo. Bastava passar a água numa peneira ou pano para retirar o grosso da sujeira. Peixes não perdoam descuidos bobos, para eles tais descuidos tratam de coisas vitais.

Porém nem tudo está perdido. Musgo de Java, segunda população vegetal a habitar a caixa, continua sua luta pela sobrevivência. O período de luto dura um mês, que é o tempo do ciclo da água de toda caixa de vidro habitável. O ciclo da água deve ser respeitado. Período em que a água perde o cloro e demais elementos nocivos aos delicados habitantes aquáticos. Nesse tempo Musgo de Java faz fotossíntese sozinho, sem barulho de bomba de ar.

“Siriri pra cá
Siriri pra lá
A turma do vidro
Não quer nadar...”

quarta-feira, julho 01, 2009

Consegui! Faz tanto tempo que escrevi a primeira parte, que ninguém em casa lembra-se que fiquei de fazer a segunda. O texto mal mudou em relação ao primeiro rascunho.

SOBRE MINHA INFÂNCIA
PARTE ll – ESCOLA

Na primeira série Fábio, que era um baixinho bagunceiro e moreno (descendente de índios, caiçaras ou bolivianos, nunca me interessei em saber), dizia para a turma dos meninos que eu era uma garota legal pra se brincar, contava das minhas molecagens do Pré. Na primeira série fiquei quieta, só abria a boca para falar “presente” e não desgrudava da carteira. A sala podia estar na maior algazarra, fazia lição absorta a tudo. Tomava lanche atrás do latão de lixo com abelhas na esperança de que um dia elas me protegessem se necessário.

Na segunda série arrumei amigos novamente, dessa vez amigas: Ana Carolina e Denise. Na terceira não me lembro de amigos, lembro que gostava da professora Lourdes, que ensinava português e Estudos Sociais enquanto a maioria da sala preferia a Silvana. Nesse ano interpretei a Vovozinha da Chapeuzinho Vermelho na gincana da escola. Adorava as aulas de redação, passava a semana inventando algo para escrever... muitas vezes o que bolava não relacionava-se com o tema, mas não havia problema. Assim como agia com a nave roubada, procurava coisas novas.

Falando em redação, a professora da segunda série sugeriu a minha mãe que eu escrevesse menos, porque errava muito. Na cabeça da professora eu erraria menos se escrevesse menos. Pura lógica. Não era de se estranhar que no ano seguinte a dita professora tenha preferido lecionar matemática e ciências para a terceira série – porém nunca mais foi minha professora. Anos mais tarde ela virou coordenadora de ensino... seu nome era Iara. Nunca suspeitei que o fato acima descrito poderia ser uma grande vergonha para a vida profissional dela.

Na terceira série passava os recreios em baixo de uma árvore. Que batizei de Folhetinha e conversava baixinho com ela. Quando perguntavam-me se fazia isso, eu negava na cara dura. Ririam da minha cara, me chamariam de louca, coisas que nunca gostei.

Sempre fui à escola usando rabo de cavalo, só parei de usa-lo quando terminei o Ensino Médio. Na terceira série lembro que caminhava olhando para o chão, meus pés se arrastavam rapidamente e a cola vivia vazando na minha mochila que não era de lona nem plástica. Ficava sempre uma camada dura naquele bolso onde guardava a cola, a mochila era feita de algo parecido com pelúcia. Nunca pedi material escolar de um ou outro tema, não invejava mochilas de carrinho (Deviam ser horríveis de serem puxadas!), mochilas rosa ou com mais do que quatro compartimentos. O lanche que levava era pão com manteiga, desde que entrei na escola. Na terceira série meu lanche mudou para pão com manteiga amassado. Nunca reclamei, porém dificilmente como pão com manteiga hoje em dia.

Na terceira série minha sala descobriu o jogo salada mista. Participei uma vez, entendi pouca coisa, achei uma brincadeira muito besta. Minha mãe contou-me uma vez que marcaram reunião com pais da minha sala para falar somente dessa brincadeira e ela pensou que eu fosse retardada porque nunca comentava nada sobre o assunto. Na realidade não havia como me envolver: passava os recreios sozinha, brincando com gravetos e folhas de uma árvore, e conversando com ela. Isso não era normal, e me envergonhava muito. O mais estranho é que não passava pela minha cabeça a possibilidade de mudar de atitude.

Na quarta série arrumei um grupinho de amigas: Lígia, Carolina, Aline e Ana Carolina. Nesse ano meu pai me ajudou a escrever um belo discurso com o qual me elegi representante de classe, e me arrependi da experiência. Não sirvo para essas coisas. Foi o ano em que comecei a estudar de tarde, o Brasil foi Tetracampeão e o Loro veio para casa – da minha vó, que sempre me criou. Tratava dele com sopa de fubá. Quando chegava em casa, já no início da noite, dizia oi para ele e para minha vó. Um dia disse “Oi Loro.”, ele respondeu “Oi vó.”. Estava decretado: sou a vó do papagaio. Hoje ele não me chama de mais nada, talvez de “Oi Loro”, pois é o que mais falo. Minha vó ele deve conhecer por “Qué café?”, pois sempre fala isso quando a vê.

Voltando à quarta série, não consegui deixar o cargo de representante. Não sabia como faze-lo. Um representante de classe servia para dizer as respostas de um jogo na semana dos Eventos Interdisciplinares da escola, mais conhecido como Eventos. Haviam respostas que eu não decorava, então pedia para quem soubesse que subisse no palco e dissesse a resposta. Nenhuma sala fazia isso, acharam que estávamos roubando. Porém não havia regras impedindo isso, não estávamos roubando. Esclarecido o fato, os participantes das outras salas começaram a brigar para decidir quem subiria para responder, enquanto minha sala contentava-se com qualquer um que subisse com a resposta certa. Recordando, a cena é cômica. Na hora nem reparei nas demais equipes, achei que agira de forma normal. Normal... Ah ah ah!... Agi de forma natural, seguindo minha estranha natureza, o que definitivamente não se enquadra nos padrões comportamentais.

Na quarta série voltei a estudar com Fábio, aquele garoto do pré. Ainda baixinho e moreno, só não continuava espalhando minha fama de bagunceira e amigona dos meninos. Isso já era passado, naquele ano era a menina tímida, representante de classe, que todos queriam que deixasse o cargo – lembro de rasgarem um abaixo assinado que faziam para que eu deixasse de ser representante quando disse que não queria mais. Isso aconteceu quando perguntei para a professora como fazia para deixar de ser representante e ela não me disse como.

Voltando ao Fábio, só lembro dele na quarta série por causa do grupo de matemática. Entrou um aluno novo na sala, Felipe, por quem Maria Carolina se apaixonou e combinou com as demais meninas de coloca-lo no dito grupo. A pedido delas, saí do grupo e entrei no de Fábio, que além dele tinha mais dois meninos. O grupo de matemática funcionava assim: cada um comprava um dos cinco livros que seriam usados ao longo do ano e emprestava para os demais colegas quando era chegada a hora de fazer trabalho. Minhas amigas tiveram a cara de pau de me pedir o livro emprestado depois que saí do grupo. Não emprestei. Colocaram Felipe no meu lugar, ele que comprasse e emprestasse o livro. No grupo do Fábio, meu livro não precisou ser emprestado, todos tinham o livro. Ou a mãe do Fábio era professora e ele acabou por emprestar todos os livros ao seleto grupinho de agora quatro pessoas. Entretanto o meu era o último livro da lista, e tais livros eram usados somente em sala.

A quinta série foi o primeiro ano em que os alunos organizavam as equipes de eventos sem ajuda dos professores. Era praticamente a mesma sala do ano anterior. Escolhemos por tema Contos de Fada, nós mesmos fizemos às pressas uma camiseta feia de doer, com um castelo na frente e o nome da equipe nas costas: C.D.F. Nome vexatório para os mais bagunceiros da sala. Encenamos Branca de Neve, onde fiz o papel de caçador, Ana Carolina era a personagem principal e Felipe o Príncipe. Carolina ficou muito bem de bruxa, se não me engano Aline era o espelho e Lígia dirigia. Detestei meu papel, mas fiz o melhor que podia acreditando no esforço dos demais. Não queria ser personagem principal, mas custava me dar um papel melhor? Custava sim, e muito, porque continuava com a imagem de menina tímida. Era mesmo, porém ninguém espera que um tímido revele-se um ótimo ator. Levamos o último lugar na parte de teatro. Também lembro do dia em que Mateus me atormentou puxando a alça do meu sutiã. Depois de minutos de incômodo reclamei com a professora. Ele não estava sozinho nisso de me atormentar, lembro que Vagner, Vitor e Augusto bagunçavam no fundão, não sabia dizer qual ficava puxando a alça do meu sutiã. Lembro que Mateus foi o culpado: o branquelo cabeludo de olho verde que se dizia metaleiro. Fui estudar com ele novamente no Primeiro Colegial. Ele havia mudado bastante, era o ateu da sala e já não bagunçava tanto – mas cultivava idéias revolucionárias. A lembrança da quinta série sempre me impediu de me aproximar dele. Hoje sei que concluiu biologia na USP, adora um samba de raiz, e está terminando o mestrado. Lígia contou-me quando a encontrei por acaso no metrô. Ela cursou Letras e leciona Francês.

Na sexta série cultivei amizade com Anna Carla e Kelly. Muy amiga, Anna Carla morava em Diadema e roubou o walkman de minha tia quando foi em casa. Descobriu que eu não sabia lavar copo e tirou sarro disso, além de eu ainda gostar de Xuxa. Tentei contar pra sala inteira que ela roubara o walkman, não sei se consegui. Ela devolveu antes que eu espalhasse a notícia eficazmente, porém continuei contando a quem desejasse saber. Nesse ano resolvi entrar para o grupo de teatro da escola. Passei no teste, e no fim do ano interpretei o arauto em “Palácio dos Urubus”. Tudo que precisava fazer era falar alto quando necessário, na prática, não contracenava com ninguém. Entretanto roubei várias cenas ao interagir com o que acontecia na cena. Ficava no fundão, interagindo com tudo, e a platéia morria de rir de mim. Fiquei famosa, já não era mais a irmã do Fulano (meu irmão mais velho), era a Colombina. O grupo de teatro da escola me encheu de orgulho durante os dois anos seguintes, sugou boa parte da criatividade antes direcionada apenas para redações.

Redações que, desde a primeira série, nunca venciam o concurso de Contos e Poesias da escola. Tinha o péssimo hábito de inventar coisas novas para concursos, quando o correto é já possuir algo extraordinário na manga. Nenhum professor indicava uma redação minha para o concurso. Mesmo assim, todo ano concorria, todo ano perdia.

Voltando à sexta série, foi naquele ano em que ocorreu o tão planejado primeiro beijo. Não gostei, e disse na hora para o menino (que hoje considero um grande amigo, dos mais antigos) magoando- o sem perceber. Anos mais tarde ele contou-me como aquilo foi planejado, o que acontecia na vida dele. Só assim compreendi em qual sinuca de bico nos encontrávamos. No dia me senti uma palhaça, com toda a turma tentando espiar a gente na casa de uma amiga. Naquele dia decidi que nunca mais faria algo somente para ser aceita, para ser normal. Naquele dia comecei a desistir de buscar a normalidade, naquele dia – o dia do meu primeiro beijo – a infância terminou.

Consegui!! A segunda parte da minha infância! Nem tive que modelar muito o texto, uma pequena aparadinha no que brotou espontaneamente resolveu o problema. Faz tanto tempo que escrevi a primeira parte, que ninguém em casa lembra que prometi a segunda. Resultado: menos censura.


SOBRE MINHA INFÂNCIA
PARTE ll – ESCOLA

Na primeira série Fábio, que era um baixinho bagunceiro e moreno (descendente de índios, caiçaras ou bolivianos, nunca me interessei em saber), dizia para a turma dos meninos que eu era uma garota legal pra se brincar, contava das minhas molecagens do Pré. Na primeira série fiquei quieta, só abria a boca para falar “presente” e não desgrudava da carteira. A sala podia estar na maior algazarra, fazia lição absorta a tudo. Tomava lanche atrás do latão de lixo com abelhas na esperança de que um dia elas me protegessem se necessário.

Na segunda série arrumei amigos novamente, dessa vez amigas: Ana Carolina e Denise. Na terceira não me lembro de amigos, lembro que gostava da professora Lourdes, que ensinava português e Estudos Sociais enquanto a maioria da sala preferia a Silvana. Nesse ano interpretei a Vovozinha da Chapeuzinho Vermelho na gincana da escola. Adorava as aulas de redação, passava a semana inventando algo para escrever... muitas vezes o que bolava não relacionava-se com o tema, mas não havia problema. Assim como agia com a nave roubada, procurava coisas novas.

Falando em redação, a professora da segunda série sugeriu a minha mãe que eu escrevesse menos, porque errava muito. Na cabeça da professora eu erraria menos se escrevesse menos. Pura lógica. Não era de se estranhar que no ano seguinte a dita professora tenha preferido lecionar matemática e ciências para a terceira série – porém nunca mais foi minha professora. Anos mais tarde ela virou coordenadora de ensino... seu nome era Iara. Nunca suspeitei que o fato acima descrito poderia ser uma grande vergonha para a vida profissional dela.

Na terceira série passava os recreios em baixo de uma árvore. Que batizei de Folhetinha e conversava baixinho com ela. Quando perguntavam-me se fazia isso, eu negava na cara dura. Ririam da minha cara, me chamariam de louca, coisas que nunca gostei.

Sempre fui à escola usando rabo de cavalo, só parei de usa-lo quando terminei o Ensino Médio. Na terceira série lembro que caminhava olhando para o chão, meus pés se arrastavam rapidamente e a cola vivia vazando na minha mochila que não era de lona nem plástica. Ficava sempre uma camada dura naquele bolso onde guardava a cola, a mochila era feita de algo parecido com pelúcia. Nunca pedi material escolar de um ou outro tema, não invejava mochilas de carrinho (Deviam ser horríveis de serem puxadas!), mochilas rosa ou com mais do que quatro compartimentos. O lanche que levava era pão com manteiga, desde que entrei na escola. Na terceira série meu lanche mudou para pão com manteiga amassado. Nunca reclamei, porém dificilmente como pão com manteiga hoje em dia.

Na terceira série minha sala descobriu o jogo salada mista. Participei uma vez, entendi pouca coisa, achei uma brincadeira muito besta. Minha mãe contou-me uma vez que marcaram reunião com pais da minha sala para falar somente dessa brincadeira e ela pensou que eu fosse retardada porque nunca comentava nada sobre o assunto. Na realidade não havia como me envolver: passava os recreios sozinha, brincando com gravetos e folhas de uma árvore, e conversando com ela. Isso não era normal, e me envergonhava muito. O mais estranho é que não passava pela minha cabeça a possibilidade de mudar de atitude.

Na quarta série arrumei um grupinho de amigas: Lígia, Carolina, Aline e Ana Carolina. Nesse ano meu pai me ajudou a escrever um belo discurso com o qual me elegi representante de classe, e me arrependi da experiência. Não sirvo para essas coisas. Foi o ano em que comecei a estudar de tarde, o Brasil foi Tetracampeão e o Loro veio para casa – da minha vó, que sempre me criou. Tratava dele com sopa de fubá. Quando chegava em casa, já no início da noite, dizia oi para ele e para minha vó. Um dia disse “Oi Loro.”, ele respondeu “Oi vó.”. Estava decretado: sou a vó do papagaio. Hoje ele não me chama de mais nada, talvez de “Oi Loro”, pois é o que mais falo. Minha vó ele deve conhecer por “Qué café?”, pois sempre fala isso quando a vê.

Voltando à quarta série, não consegui deixar o cargo de representante. Não sabia como faze-lo. Um representante de classe servia para dizer as respostas de um jogo na semana dos Eventos Interdisciplinares da escola, mais conhecido como Eventos. Haviam respostas que eu não decorava, então pedia para quem soubesse que subisse no palco e dissesse a resposta. Nenhuma sala fazia isso, acharam que estávamos roubando. Porém não havia regras impedindo isso, não estávamos roubando. Esclarecido o fato, os participantes das outras salas começaram a brigar para decidir quem subiria para responder, enquanto minha sala contentava-se com qualquer um que subisse com a resposta certa. Recordando, a cena é cômica. Na hora nem reparei nas demais equipes, achei que agira de forma normal. Normal... Ah ah ah!... Agi de forma natural, seguindo minha estranha natureza, o que definitivamente não se enquadra nos padrões comportamentais.

Na quarta série voltei a estudar com Fábio, aquele garoto do pré. Ainda baixinho e moreno, só não continuava espalhando minha fama de bagunceira e amigona dos meninos. Isso já era passado, naquele ano era a menina tímida, representante de classe, que todos queriam que deixasse o cargo – lembro de rasgarem um abaixo assinado que faziam para que eu deixasse de ser representante quando disse que não queria mais. Isso aconteceu quando perguntei para a professora como fazia para deixar de ser representante e ela não me disse como.

Voltando ao Fábio, só lembro dele na quarta série por causa do grupo de matemática. Entrou um aluno novo na sala, Felipe, por quem Maria Carolina se apaixonou e combinou com as demais meninas de coloca-lo no dito grupo. A pedido delas, saí do grupo e entrei no de Fábio, que além dele tinha mais dois meninos. O grupo de matemática funcionava assim: cada um comprava um dos cinco livros que seriam usados ao longo do ano e emprestava para os demais colegas quando era chegada a hora de fazer trabalho. Minhas amigas tiveram a cara de pau de me pedir o livro emprestado depois que saí do grupo. Não emprestei. Colocaram Felipe no meu lugar, ele que comprasse e emprestasse o livro. No grupo do Fábio, meu livro não precisou ser emprestado, todos tinham o livro. Ou a mãe do Fábio era professora e ele acabou por emprestar todos os livros ao seleto grupinho de agora quatro pessoas. Entretanto o meu era o último livro da lista, e tais livros eram usados somente em sala.

A quinta série foi o primeiro ano em que os alunos organizavam as equipes de eventos sem ajuda dos professores. Era praticamente a mesma sala do ano anterior. Escolhemos por tema Contos de Fada, nós mesmos fizemos às pressas uma camiseta feia de doer, com um castelo na frente e o nome da equipe nas costas: C.D.F. Nome vexatório para os mais bagunceiros da sala. Encenamos Branca de Neve, onde fiz o papel de caçador, Ana Carolina era a personagem principal e Felipe o Príncipe. Carolina ficou muito bem de bruxa, se não me engano Aline era o espelho e Lígia dirigia. Detestei meu papel, mas fiz o melhor que podia acreditando no esforço dos demais. Não queria ser personagem principal, mas custava me dar um papel melhor? Custava sim, e muito, porque continuava com a imagem de menina tímida. Era mesmo, porém ninguém espera que um tímido revele-se um ótimo ator. Levamos o último lugar na parte de teatro. Também lembro do dia em que Mateus me atormentou puxando a alça do meu sutiã. Depois de minutos de incômodo reclamei com a professora. Ele não estava sozinho nisso de me atormentar, lembro que Vagner, Vitor e Augusto bagunçavam no fundão, não sabia dizer qual ficava puxando a alça do meu sutiã. Lembro que Mateus foi o culpado: o branquelo cabeludo de olho verde que se dizia metaleiro. Fui estudar com ele novamente no Primeiro Colegial. Ele havia mudado bastante, era o ateu da sala e já não bagunçava tanto – mas cultivava idéias revolucionárias. A lembrança da quinta série sempre me impediu de me aproximar dele. Hoje sei que concluiu biologia na USP, adora um samba de raiz, e está terminando o mestrado. Lígia contou-me quando a encontrei por acaso no metrô. Ela cursou Letras e leciona Francês.

Na sexta série cultivei amizade com Anna Carla e Kelly. Muy amiga, Anna Carla morava em Diadema e roubou o walkman de minha tia quando foi em casa. Descobriu que eu não sabia lavar copo e tirou sarro disso, além de eu ainda gostar de Xuxa. Tentei contar pra sala inteira que ela roubara o walkman, não sei se consegui. Ela devolveu antes que eu espalhasse a notícia eficazmente, porém continuei contando a quem desejasse saber. Nesse ano resolvi entrar para o grupo de teatro da escola. Passei no teste, e no fim do ano interpretei o arauto em “Palácio dos Urubus”. Tudo que precisava fazer era falar alto quando necessário, na prática, não contracenava com ninguém. Entretanto roubei várias cenas ao interagir com o que acontecia na cena. Ficava no fundão, interagindo com tudo, e a platéia morria de rir de mim. Fiquei famosa, já não era mais a irmã do Fulano (meu irmão mais velho), era a Colombina. O grupo de teatro da escola me encheu de orgulho durante os dois anos seguintes, sugou boa parte da criatividade antes direcionada apenas para redações.

Redações que, desde a primeira série, nunca venciam o concurso de Contos e Poesias da escola. Tinha o péssimo hábito de inventar coisas novas para concursos, quando o correto é já possuir algo extraordinário na manga. Nenhum professor indicava uma redação minha para o concurso. Mesmo assim, todo ano concorria, todo ano perdia.

Voltando à sexta série, foi naquele ano em que ocorreu o tão planejado primeiro beijo. Não gostei, e disse na hora para o menino (que hoje considero um grande amigo, dos mais antigos) magoando- o sem perceber. Anos mais tarde ele contou-me como aquilo foi planejado, o que acontecia na vida dele. Só assim compreendi em qual sinuca de bico nos encontrávamos. No dia me senti uma palhaça, com toda a turma tentando espiar a gente na casa de uma amiga. Naquele dia decidi que nunca mais faria algo somente para ser aceita, para ser normal. Naquele dia comecei a desistir de buscar a normalidade, naquele dia – o dia do meu primeiro beijo – a infância terminou.

segunda-feira, junho 29, 2009

Que belo fruto a terra nos deu! Uma abobrinha verde acabou de brotar! Não foi prometida, nem encomendada. Aproveitem a espontaneidade dessa nova abobrinha que retrata meus momentos recentes.

FINAIS FELIZES

Finais felizes acontecem. Terminar o proposto é maravilhoso. O fim das coisas é como o mar, que se quebra em ondas e mais ondas na praia. Cada coisa que termina é uma onda, e a vida da gente é repleta de finalizações, a gente tem uma vida inteira pra se acostumar com a morte.

Sabe o que é a morte? O fim de um estágio. Terminei meu estágio na empresa onde trabalhava, terminei a faculdade, sinto-me alegremente livre. Como da última vez que me desvencilhei de uma paixão não correspondida.

Demonstrando minha aguçada percepção frente a tragédias, descrevo a seguir minha transição no trabalho.

Em março fui informada que me consideravam ótima funcionária, porém por falta de verba não poderiam me efetivar. Foi o aviso prévio, me senti como o doente terminal que entra no hospital. Porém não me esforcei em procurar maneira de sair dali, preocupava-me mais com a faculdade.

Há duas semanas, mais precisamente na quinta-feira, a nova estagiária foi escolhida. Ela começaria na semana seguinte. Somente nesse dia fiquei triste. A sensação de que já deveria ter saído daquele lugar veio me atormentar culpando-me pela minha falta de ação. No dia seguinte estava alegre novamente.

Passei a última semana ensinando todo o serviço para a nova estagiária, apresentando-a para os funcionários. Terminei feliz por conseguir juntar bastante gente numa foto em frente o museu onde trabalhei. Mandei um e-mail convidando todos para a foto. Nisso percebi algo engraçado: foram nove messes na empresa, tempo de uma gravidez. Depois da gravidez, vem o parto. Por isso parto.

Parto para uma nova vida, para novos lugares, sem grande vontade de voltar, e muito grata pela experiência. A idéia de gravidez e parto foi escrita na mensagem de despedida que enviei, a intenção era faze-los rir. Diz-me qual palhaço não gosta de alegrar o dia? Mesmo em despedida.

Lembrei da música dO Teatro Mágico, e é a primeira do Segundo Ato que embala esse final feliz:

Amadurecência

A poesia prevalece!!!
O primeiro senso é a fuga.
Bom...
Na verdade é o medo.
Daí então a fuga.
Evoca-se na sombra uma inquietude
uma alteridade disfarçada...
Inquilina de todos nossos riscos...
A juventude plena e sem planos... se esvai
O parto ocorre. Parto-me.
Aborto certas convicções.
Abordo demônios e manias
Flagelo-me
Exponho cicatrizes
E acordo os meus, com muito mais cuidado.
Muito mais atenção!
E a tensão que parecia não passar,
“O ser vil que passou pra servir...
Pra discernir...”
Pra pontuar o tom.
Movimento, som
Toda terra que devo doar!
Todo voto que devo parir
Não dever ao devir
Não deixar escoar a dor!
Nunca deixar de ouvir...

com outros olhos!

terça-feira, junho 23, 2009

MI QUERIDO DIARIO

No último final de semana fui a 4 lugares: 2 festas de aniversário, um show, e uma peça de teatro. Normalmente mal saio de casa.

terça-feira, junho 16, 2009

coleção de DECLARAÇÕES BIZARRAS

Existem coisas que saem do corpo da gente e é bom que não retornem.

segunda-feira, junho 08, 2009

Usando espelho, surgiu no canteiro uma
ABOBRINHA REFLEXIVA

Hoje estava lendo sobre dicas para conseguir emprego, e uma chamou-me atenção:

* Manter um blog relacionado com o que você trabalha, ou gostaria de trabalhar.

CONCLUO QUE o mal dos artistas e artesãos amadores é não ter tino comercial, não saber se vender em tempo integral. Não gostar de se vender, só de se exibir. Isso prova que existem milhares de pessoas que se contentam com pouco.

segunda-feira, maio 18, 2009

QUERIDOS LEITORES

Antes de mudar o nome do espaço para Abobrinhas Podres, ou Abobrinhas Mofadas, informo que:

Minha ausência não se dá pela falta de tempo, não culpo o tempo. O tempo faz parte do universo onde vivo, mas ele nunca foi meu para molda-lo á vontade. O tempo está aí, passando numa boa, e nunca falta.

Meu grande problema é que não me adequo ao tempo, então nada se resolve no prazo esperado. Nem eu resolvo, nem as abobrinhas da vida se resolvem por si mesmas. Parece espelho.

Essa semana me esforçarei mais para colocar mais ações no tempo que atravesso.

MAS NÃO CONTEM COM NOVAS POSTAGENS, queridos leitores.

quarta-feira, abril 01, 2009

¿DÓNDE ESTÁN LOS LADRONES?
¿DÓNDE ESTÁ EL ASSESSINO?

Ao som de Shakira, que não tem relação nenhuma com primeiro de abril, lembro que há exatos 45 anos ocorreu o Golpe Militar.

1º de abril de 1964: as águas de março fecharam o verão.

Hoje seria um dia perfeito para se protestar. Lembrar as verdades que vieram depois do mais famoso dia da mentira no Brasil. Ou será preciso esperar a data ícone da ditadura? O dia da instauração do A.I.5? Nesse caso será preciso esperar até dezembro: 13 de dezembro de 1969, quando a ditadura começou a pegar geral, sem conversa nenhuma.

Enfim, venho pedir que lembrem das verdades do dia da mentira de 1964. Lembrem das maldades que vieram depois desse dia. Perguntem a si mesmo se as coisas realmente passaram, ou se ainda sofremos com espólios de nosso período militar.


Vai Passar
Chico Buarque

Vai passar
Nessa avenida um sambapopular
Cada paralelepípedo
Da velha cidade
Essa noite vai
Se arrepiar
Ao lembrar
Que aqui passaramsambas imortais
Que aqui sangraram pelos nossos pés
Que aqui sambaram nossos ancestrais

Num tempo
Página infeliz da nossa história
Passagem desbotada na memória
Das nossas novas gerações

Dormia
A nossa pátria mãe tão distraída
Sem perceber que era subtraída
Em tenebrosas transações

Seus filhos
Erravam cegos pelo continente
Levavam pedras feito penitentes
Erguendo estranhas catedrais

E um dia, afinal
Tinham direito a uma alegria fugaz
Uma ofegante epidemia
Que se chamava carnaval

O carnaval, o carnaval
(Vai passar)
Palmas pra ala dos barões famintos
O bloco dos napoleões retintos
E os pigmeus do bulevar

Meu Deus, vem olhar
Vem ver de perto uma cidade a cantar
A evolução da liberdade
Até o dia clarear

Ai, que vida boa, olerê
Ai, que vida boa, olará
O estandarte do sanatório geral vai passar

Ai, que vida boa, olerê
Ai, que vida boa, olará
O estandarte do sanatório geral
Vai passar

domingo, março 15, 2009

Atendendo ao pedido de Marília, escrevo

SOBRE MINHA INFÂNCIA
Parte I – Da família até o Pré

Essa parte triste da vida da Colombina. Que não aceitava a máscara de palhaça, não gostava de ser chamada de doida nem ser feita de boba, que se importava muito com o que cada um pensava sobre ela. – Acredite, já fui normal.

Uma criança tímida e normal. Se os astrólogos aceitarem que um nativo de leão pode ser tímido. Também há a astrologia chinesa, na qual assumo o signo de javali, o porquinho vaidoso desde criança. Que detestava ganhar roupa e precisava de ordem para usar batom quando fosse visitar alguém. Fora essas contrariedades astrológicas, poderia ser considerada uma criança perfeitamente normal.

Voltando pro começo da história: não fui desejada, fui aceita. Há vidas humanas que não são aceitas, são abortadas em benefício de vidas adultas já existentes. Sem contar os pessimistas que acreditam que o mundo só tende a piorar, não havendo perspectivas de melhora - nesse caso menos uma vida humana no planeta evita o sofrimento mundial. Quando criança não imaginava a existência de tais possibilidades, de modo que me entristecia saber que fui aceita.

Meus pais não planejavam mais uma criança, meu irmão tinha cerca de um ano quando o ato criativo aconteceu. Eles me aceitaram, prepararam tudo com ajuda das famílias, porque Deus queria mais um humano no planeta. Um que fosse criado entre aquelas pessoas.

Aquelas pessoas que me criaram foram meus pais, meus avôs, meu irmão mais velho (exato, ele também me educou), e os três irmãos mais novos da minha mãe. Eram essas pessoas que viviam comigo. Tinha também o cachorro Popi. Como vizinhos: meus tios-avôs, bisavôs, e a família dos zeladores do estacionamento ao lado. Havia um casal de irmãos, com o qual raramente eu e meu irmão brincávamos. Minha vó não nos levava para brincar em lugar algum, também não pedíamos. A família mudou, encontrei Fabiana, uma menina que só recordo nome, olhos puxados, cabelo liso e pele morena. Minha vó me passava pelo muro para que brincássemos algumas vezes.

Geralmente brincava sozinha. Levava bronca por depenar samambaias para brincar de comidinha. Juntava com meu irmão para matar lesma, tentar matar caramujo, matar formiga, brincar com tatu-bola, jogar qualquer jogo e brigar – isso inclui gritar e chorar para vó, que nunca batia em ninguém.

Adorava assistir televisão. O Xou da Xuxa começou quando eu tinha três anos. O castigo costumeiro que recebia por xeretar nas coisas de minhas tias mais novas era ficar sentada em frente a televisão apagada. O pior era escutar os sermões, dos quais não lembro nada, só o fato de que era ruim escuta-los.

Coleção de broncas: por estragar as plantas (minha tia-avó na verdade só ralhava comigo), por riscar a mesa da cozinha com tesoura de ponta (dessas de cortar unha), por rabiscar com canetinha as portas dos armários, por rabiscar cadernos em branco, por mexer nas coisas da minha tia mais nova, por imitar uma de minhas tias no telefone com o meu de brinquedo enquanto ela falava.

Nem sempre as broncas vinham acompanhadas de castigo. Foi assim que aprendi a respeitar o espaço alheio. Acho que levava bronca para aprender isso... melhor que fosse esse o motivo.

A televisão dos anos oitenta pensava que criança só existia de manhã. Os programas infantis tinham brincadeiras explorando a eterna rivalidade entre meninos e meninas, desenhos – tinha medo de “Caverna do Dragão” mas vivia assistindo, e cantores chatos. Não lembro o horário de “Cozinha Maravilhosa da Ofélia”, lembro que minha vó assistia de vez em quando. Os piores filmes que a televisão mostrava eram de terror, davam muito medo. “Fredi Gruguer”, “A Coisa”, “Casa do Espanto”, “Casa de Cera”, um com mortos vivos... só meu irmão assistia. Pior do que filmes de terror somente o chatíssimo “A Lagoa Azul” – achava romântico e demorado. Outro que não gostei foi “Guerra nas Estrelas”, onde tudo que enxergava era política. Queria aventura! Queria humor! Meus desejos eram atendidos nas férias escolares, quando passavam filmes dos trapalhões e da Xuxa. Perto do natal a programação de filmes também melhorava. Filmes sobre Papai Noel e o clássico “Esqueceram de Mim”. “A Lenda” e “Labirinto” eram filmes que davam medo, mas também eram aventuras fantásticas e lindas. O que me pegou de jeito foi “Labirinto”, com David Bowie. Assisti só uma vez e não tirei da cabeça – tanto que vinte anos depois comprei o DVD.

“Fantástico” e “Os Trapalhões” eram programas para assistir na sala comendo bife à milanesa com purê. Domingo era dia de acordar cedo e assistir “Magaiver”, “Viki” e “Alf”. A primeira novela que soube que existia chamava-se “Que rei sou eu?”, tudo que lembro da trama é o bruxo Ravengar e um personagem do ator Edson Celulari. Os jornais falavam sobre o dragão da inflação, por isso achava que minha família era pobre (o país inteiro era pobre) e pensava mil vezes antes de pedir Barbie ou disco da Xuxa. Barbies eram caras, a casa delas mais ainda. Nunca perguntei o preço, só achava que tais brinquedos eram caros.

O primeiro disco que pedi foi do Raul Seixas, com 10 anos. Dois anos depois, pedi “Luz no meu caminho”, um dos discos mais desconhecidos de Xuxa, na época o último que havia saído. Precisei assistir um show gratuito das Paquitas aos 13 anos para perceber o quão idiota era aquele bando de macaquinhos pulando no palco, cantando músicas que sequer tinham capacidade de compor. Das músicas quero as letras, o compositor tem grande valor, é praticamente o primeiro criador. Mesmo que a voz dele não combine com a música, que é o caso de John do Pato Fu, e ele não cante, admiro bastante os compositores. Raul Seixas não só cantava como compunha as próprias músicas, que dificilmente eram românticas ou bobas demais como as da turma da Xuxa.

Falando em música, Lula merecia ganhar a primeira eleição para presidente por causa da musiquinha e porque era um barbudo simpático – não um engomadinho feito o Collor. Além das eleições e da inflação, os jornais mostravam guerras; e meus pais tinham um comentarista especial: o Repórter Caroço. Era minha mão comentando no carro as notícias do dia, enquanto meus pais nos levavam para a casa da vó. Ele falava de notícias nacionais e internacionais, visitava a sogra na Lua, e um ano antes de meu irmão mais novo nascer ele foi para a Legião Estrangeira. Nunca mais houveram notícias do Repórter Caroço.

Não conseguia acreditar em Papai Noel com Jesus nascendo ao mesmo tempo. Papai Noel nunca deu presente pra Jesus, só os Reis Magos fizeram isso. De fato nunca pensei no motivo de Jesus não ganhar presente do Papai Noel, não lembro a lógica infantil que me impedia de acreditar nos dois ao mesmo tempo, sei apenas que não acreditava.

Com quatro anos conheci meu primo de terceiro grau, Jaiminho. Nisso eu já estava na escola, sem nenhum amigo. Na minha cabeça, ia para o Jardim 2 estudar, não precisava fazer amigos. Mas tinha vergonha de dizer isso, não era coisa normal. Então inventava que era amiga de Bia e Michele, que eram duas amigas mesmo, mas nunca falava com elas. Interagia na sala com os meninos, ao menos até o pré. Sempre que podia fazer alguma atividade sozinha, fazia. No parque não brincava com ninguém. Ninguém me procurava, eu também não procurava ninguém, nunca questionei.

O que mais gostava de fazer no parque era procurar pedras redondas. Também gostava de fazer bolo na areia, cavar buraco, me balançar na parte mais baixa do balanço. Quando chovia e o recreio era dentro da sala, montava ônibus espaciais que abriam a capota (Quanta tecnologia!) e brincava na maioria das vezes, quando algum menino não tomava meu brinquedo. Nesse caso eu buscava mais peças para fazer outra nave. Quando acabavam os blocos, procurava montar algo com blocos mais tradicionais, aqueles com o qual só sabíamos montar martelos e pulseiras. Nunca consegui montar naves com eles. Sem contar o fato de que quando acabavam os blocos esquisitos e feios que usava, quase não restavam blocos do outro tipo. Meninas adoravam os bloquinhos normais para brincar de comidinha. Mesmo assim, procurava os restos para montar qualquer coisa.

Resto, sempre mexendo com o abundante resto, a sobra, o que ninguém usava, ninguém queria. Nessas coisas sempre pude mexer sem culpa. Aos quatro anos uma de minhas tias ensinou-me fazer crochê, comecei a fazer bicos em panos de prato e até seguir receitas para toalhinhas. Por conta disso, brigava menos com meu irmão. Passei a criar roupinhas com restos de linha – quando davam os restos, porque sempre devolvia o novelo depois de usa-lo. Estranhei quando a mesma tia deu-me um novelo inteirinho da cor marrom, soube que era meu somente depois de entregar diversos trabalhos. Era marrom claro, um beje da vida. Cor horrível para roupas de boneca, aceitei sem reclamar. Estava com cerca de 10 anos. Fiz um macacão para uma bonequinha e usei a linha sem medo em diversas brincadeiras. A roupinha foi admirada e destruída tempos depois. Sempre estragava os brinquedos que mais usava.

Meus brinquedos eram tranqueiras, segundo minhas tias. O tom com que falavam “tranqueira” nunca pareceu bom, mas viviam se referindo a eles como tal. Se me recordo bem, chamavam minhas coisas de brinquedo apenas no dia em que ganhava, depois viraram um monte de tranqueira atrás da porta da sala. Tal tratamento nunca me incomodou.

O que me incomodou quando tinha treze anos e vivi de fato aos seis, foi a escolha de noivinhas para o casamento do meu tio, que era mais velho do que minhas tias. Escolheram minhas primas Mariana e Gabriela. Lembro que quando as roupas de noivinhas chegaram pediram para que eu vestisse uma das luvas, mas não quis vestir. As roupas não eram pra mim, por que vestiria? Dias depois disseram que não haviam me escolhido para ser noivinha porque era muito alta. Ocorre que não tinha perguntado nada, não possuía a menor inveja, jamais quis ser noivinha. Aos treze veio a adolescência, e num dia em que olhavam fotos antigas revelaram que me achavam feia quando criança. Eis o porquê de minhas primas serem noivinhas de casamento dos cinco aos doze anos. Decidi que quando casar, criança nenhuma desfila até o altar.

Inconscientemente sabia o que ocorria. Sempre me identifiquei com a história do Patinho Feio, adorava ouvi-la no disco. Mais do que a história da Dona Baratinha, que era a primeira. Patinho Feio era a segunda, não lembro se do lado A ou B.

Minhas primas têm cabelo liso. Sempre foram magras, sempre gostaram de roupa, sempre gostaram de dançar. Minha vó e minhas duas tias viviam elogiando as meninas. Se elas eram “As Meninas”, o que eu era? Não importa. O dia em que resolvi me importar foi dramático.

Entre meu quarto e sexto aniversário, de alguma forma concluí que “Ninguém gosta de mim!”. Atravessei uma perna para dentro do poço aberto e gritei aos quatro ventos “Ninguém gosta de mim!!”. A segunda vez que fiz isso não lembro, lembro apenas que a cena ocorreu mais de uma vez na minha infância. Nunca tive coragem de pular, não lembro como ou porquê saía de lá. Lembro de depois dessas cenas meus pais me diziam que as críticas que recebia era porque as pessoas gostavam e se importavam comigo, caso contrário não criticariam, não apontariam meus defeitos a serem corrigidos. Gostar também é apontar defeito. Aprendi direitinho: só consigo achar defeito no que gosto, o que não gosto não prende minha atenção para enxergar defeito.

Decorava músicas da Xuxa e cantava só para poder ouvir. Quando me empolgava cantava alto. Sempre que me empolgava com alguma brincadeira solitária acabava falando alto. Brincava de ser apresentadora de programa infantil, meu nome era Cultura. Mal assistia o canal dois, não sabia que ele levava esse nome, se soubesse inventaria outro nome de apresentadora. Brinquedos como platéia? Não precisa! No máximo uma escova como microfone no quintal. Era época pré-escolar, quando raramente brincava com vizinhos ou duas netas de um amigo de meu vô vinham nos visitar. Chamavam-se Juliana e Jaqueline.

Quando conheci Jaiminho, meu primo de terceiro grau, passei a brincar de corrida com o carro amarelo de meu irmão e as várias motocas de Jaiminho. Quando estava em casa, meu irmão também participava. Brincávamos no quintal dos avós dele, que tinha uma rampa ótima para descer nos brinquedos. Naquele quintal também havia uma mesa de sinuca, onde montávamos escorregadores para as bolas. Nunca tentamos jogar sinuca de verdade. Os tacos viravam espadas algumas vezes, e lembro que já foram microfones. Uma vez aquela garagem enorme recebeu um balanço... mas não durou muito. O principal daquele quintal era a corrida de carros.

Aos cinco anos inventei uma fada chamada Legrina para brincar. Não era amiga invisível, nunca tive isso, era meu personagem. Igual a apresentadora de programa infantil. Não que soubesse o conceito de personagem, brincava apenas de ser a fada. Legrina, fada da alegria, com o passar do tempo transformou-se na principal fadinha guerreira que inventei. Foram nove fadinhas, nenhum inimigo específico, nove fadinhas desenhadas no papel, um diário nunca terminado e um resumão de quem elas foram no meu último caderno.

Minhas Barbies dificilmente iam a festas: aventuravam-se na floresta do quintal da minha vó. Porém Barbies eram sempre muito delicadas, viviam pedindo socorro. Quem as socorria era Xura, a rainha dos vulcões, filha da Mãe Natureza. Tratava-se de uma Xuxinha Ciclista que tinha trapos de cachorro como roupa. Ela nadava no lago do tanque, sofria torturas pendurada no varal, não se apaixonava, dominava o fogo, resistia a lava vulcânica. Parei de brincar com ela quando a perdi.

Anos mais tarde, numa brincadeira de compasso feita na escola, o nome da minha boneca preferida apareceu como o espírito do jogo. Perguntaram se o espírito era bom, a resposta: Talvez. Sabia que responderia isso. Não tive medo de receber o espírito de uma boneca na brincadeira do compasso, ao contrário: quis saber onde ela estava, queria encontrar novamente meu brinquedo. Porém o espírito não respondeu mais nada, só disse o nome, que talvez fosse bom, e que gostaria de sair da brincadeira. Até então nunca havia falado desse meu brinquedo para meus amigos. Eles estranharam – espírito de boneca? O assunto morreu ali. Invocamos o próximo espírito.

Além das Barbies, brincava com meus ursinhos no fim de semana – quando ia para casa em Taboão da Serra. Eles formavam uma caravana e iam não sei para onde, sei que desciam a escada do sobrado. Minha mãe tinha muitos perfumes, que dificilmente acabavam. Acreditava que isso acontecia porque ela não usava, então fazia comidinha com os perfumes dela.

Quando ganhei um estojo de maquiagem velho de minhas tias, passei alguns dias pintando-me horrivelmente. A intenção era realmente ficar feia, pois as bonitinhas da família sempre foram minhas primas. Era divertido lambrecar o rosto. Porém para fazer visitas não usava nenhum batom ou perfume, não queria, não era meu estilo. Naquela época mal existia perfume para criança, mas uma tia minha (dessas que me educaram) encontrou e presenteou-me com uma colônia de maçã verde. Não lembro de passear perfumada, o vidrinho sempre pareceu-me algo raro que deveria ser preservado.

Entre as brincadeiras também jogava com meu irmão. Sempre perdia. Ele tinha dez anos quando nós ganhamos nosso primeiro vídeo-game, que só ele jogava. Era um Atari: tinha pinbol, basquete, golfe e enduro. Ele deixava eu jogar, o problema é que eu morria de medo de morrer, por isso nunca jogava. Precisou inventarem Dance Dance Revolution para Playstation 2, com tapetinho de dança, para só então não me importar em perder. Do Atari até o Playstation 2 assisti passar pela sala o Megadrive e o Super Nintendo. Gostava de ver meus irmãos jogando, até hoje gosto, sou capaz de ficar horas assistindo.

Haviam alguns finais de semana em que visitávamos meus tios irmãos de meu pai. O legal era visitar tio Chico e tia Tânia, pais da Vanessa e do Fabiano. Só perto da casa deles tinha geladinho e pirulicóptero. Lá na zona Leste a gente brincava de Mãe da Rua com os vizinhos e primos deles, esconde-esconde, pega-pega e até polícia e ladrão na casa em construção. Lá escutava o terceiro disco da Xuxa, que Vanessa dançava com as vizinhas. Eu não dançava, não tinha jeito pra isso, não gostava de dançar.

Meu outro tio por parte de pai é Tarcísio, mas os filhos dele sempre foram muito mais velhos que eu. Alexandre, Cristian, Acássia, Mark e tempos depois nasceu Nicolas. Os três primeiros eram muito mais velhos do que nós, porém lá havia um MasterSistem, autorama, comandos em ação... coisas de menina eram poucas, porque Acássia nunca foi muito cuidadosa com os brinquedos e adorava fazer molecagens com os irmãos – eu também era assim. Brincar com os meninos era mesmo muito legal, brigar nem tanto porque sempre apanhava mais. Foi na casa do tio Tarcísio que prensei o dedo do meu irmão na porta sem querer, o dedo dele ficou deformado. Querendo atirei uma tesoura de costura nele, na casa da vó. Errei, minha pontaria sempre foi péssima... e toda noite rezávamos para nossos anjos da guarda, como nosso pai nos ensinava.

Nas férias dificilmente íamos para praia, onde catava conchinha e brincava na areia. Medo do mar, demorei anos para largar. Lugar de tomar raspadinha. No sítio de tia Neusa adorava dar milho para galinhas e moer café. Tentava me acostumar com animais mortos, precisava disso porque quando crescesse iria cozinhar, não podia temer bicho morto. Assistia matarem as galinhas, brincava com elas depenadas, mas quando minha tia abria a barriga de uma para tirar as tripas, não agüentava olhar por muito tempo. Gostoso mesmo era cozinhar chuchu num fogãozinho montado no quintal. Brincar de cazinha em baixo de árvore... não existiam aquelas casinhas pequenas dos buffets de hoje - buffet era coisa para casamento ou debutante - o pé de tamarindo coberto pelo chuchu era o mais próximo que havia de uma casinha. Perfeito.

Com seis anos aprendi a escrever e fiquei maravilhada. Mais do que quando aprendi fazer crochê. Numa de minhas divagações, cheguei a imaginar Deus como um autor que escrevia a história de cada um. Ele tem todo tempo para escrever a história de cada um porque pode mexer no tempo – ele criou tudo que existe. Pode escrever uma história de cada vez. Ou simplesmente inventar, nada precisa ficar registrado em folhas. Escrever livros é brincar de ser Deus. A primeira profissão que desejei foi a de escritora. Nessa época escrevi meu famoso livro: A Vaca Sem Pé. Não sobrou um único exemplar para contar história, fica tudo na memória.

Voltando para a escola, aos seis anos finalmente minhas amizades alcançavam algum progresso. Eu divertia os três meninos que sentavam na mesma mesa, fazendo palhaçada. Porém nunca passava o recreio perto deles. Lembro que no Jardim 3 tinha um amigo: Diego. Era muito branco e vez ou outra brincava comigo no parque – só não lembro de quê. Sempre achei estranho ser amiga de menino, até porque a televisão vivia explorando a rivalidade. Quando perguntavam, eu dizia que era amiga de Bia e Michele. Um dia no Pré elas me intimidaram perguntando por que eu dizia para minha mãe que era amiga delas, disse que não dizia isso.

No pré continuava sem amigos e não sentia falta – sempre fui só. Um dia resolvi engatinhar na sala do Pré, toda a sala riu e a professora me mandou passar um tempo na sala do Maternal. Fiquei morrendo de vergonha e voltei a ser calada. Depois disso fiz amizade com Daniela, com quem troquei alguns papéis de carta. Foi ela quem deu meu primeiro papel de carta. Naquele ano meus pais mandaram para a sala um bolo com cerejas, e só porque o primeiro pedaço não tinha, coloquei-o na minha mesa. Os colegas entenderam que eu não gostava de ninguém, quase ninguém aceitou o resto do bolo. As professoras ficaram tristes, sem saber o que fazer com tanta sobra de bolo, na hora não me importei. Não imaginei o que meus amigos de sala pensavam, apenas queria um pedaço sem cereja.

Quando estava no pré meu irmão mais novo nasceu. Pensei que seria mais um para me irritar, brigar comigo. Entretanto é com ele que menos brigo. Não fui uma irmã cheia de carinhos para o mais novo, do tipo grudenta. Tampouco tive inveja de perder o posto de mais nova, não encontrava vantagem alguma em ser mais nova, nem imaginava vantagem em ser mais velha. Ele nasceu e tudo que fiz foi esperar que brigasse comigo quando crescesse, me irritasse sem motivo, me xingasse, deixasse com raiva... Ele até conseguiu me irritar algumas vezes quando criança, dificilmente sozinho. Imaginei que seria super parecido com o mais velho, felizmente errei.

Depois que meu irmão nasceu o muro De Berlim caiu. Quando Repórter Caroço foi para a Legião Estrangeira, pensei justamente naquele lugar depois do muro. Muro que nunca questionei onde ficava, por que tinha sido construído, o que separava. Sabia que era um muro importante, aparecia no jornal e ninguém nunca sabia nada do que acontecia depois dele.

Infância é isso: todas atrocidades são normais, todos absurdos são possíveis, tudo é natural. Próxima parte, a segunda metade. Praticamente somente escola.

quinta-feira, março 05, 2009

DESCULPEM O TRANSTORNO

Meu sítio ficou improdutivo por quase um mês, e não foi por falta de inspiração.

Foi preguiça de verão. - Isso explica, mas não justifica. O que posso fazer é pedir desculpas pela ausência.

Gleice! Adorei selo que você me deu, mas ainda não tive tempo de fuçar na internet para coloca-lo aqui.

Preciso atualizar as fronteiras. Tem vizinho que mudou de endereço, outro trouxe Esfiha de Carne.

Estou revisando o texto gigante que Marília pediu, podando a abobrinha que mamãe pediu para ler antes de colocar aqui. Ela preocupou-se porque eu chorava enquanto escrevia. Desde então me questiono por que podemos chorar enquanto assistimos filme, mas não enquanto escrevemos. Ao revisar, choro cada vez menos - o texto transforma-se em patético. Nesse meio tempo Conrado contribuiu com a criação da abobrinha que segue.


POSITIVO E NEGATIVO

Pensamento Positivo:Tudo dará certo, tudo será resolvido, o melhor certamente acontecerá.

Pensamento negativo:Nada dará certo, nada será resolvido, o pior certamente acontecerá.

O pensamento positivo no fundo é tão bobo quanto o negativo. A diferença é que o bobo que pensa positivo não se preocupa, e espera sorrindo.

domingo, janeiro 18, 2009

CHORANDO AS PITANGAS

Com aquela ferramenta básica de bate papo, você tem na tela o nome do seu amigo, de forma que ao menos o nome dele está sempre perto. Se o nome está perto, a lembrança também. Nesse caso seu amigo pode estar sempre disponível, para nos momentos mais emocionantes da sua vida você chorar as pitangas com ele.

Suas lágrimas, do tamanho de pitangas, não escorrem pelo seu rosto. Nem a quantidade de lágrimas pode ser comparada com a das frutas na pitangueira, o fato é que você reclama por algo pequeno e abundante. Com tamanha abundância vegetal, venho chorar as pitangas no meu sítio para que minhas abobrinhas cresçam saudáveis e verdejantes em meio as pitangueiras.

Acho um absurdo reclamar de mim mesma pra uma amiga. Mas deu vontade. Sem querer ela me deu idéia de jogar as lamúrias no blog. - Eis-me aqui, pronta para realizar um absurdo múltiplo, que é reclamar de mim mesma para todos os gatos pingados que lêem minhas abobrinhas verdes.

A DROGA DA OBEDIÊNCIA me revolta. Não o livro do Pedro Bandeira (que tem um história muito bem bolada e cativante), mas minha obediência cega. Honrar pai e mãe. Obedecer... mesmo com milhões de motivos para não fazê-lo.

A idéia era enviar por correio um presente. Tem o PAC, que é um serviço prático, econômico e confiável. Pelo dobro do preço você envia pelo SEDEX, e tem o conforto de rastrear sua encomenda pelo site dos Correios. AUTO LÁ! O destinatário não espera ansiosamente pelo mimo. O destinatário nunca faria o mesmo por você: esperaria algum conhecido passar pela região e enviaria o pacote por essa pessoa. Assim você receberia a troca da roupa que não te serviu no natal quase no natal seguinte. Enfim, já estou fazendo muito enviando pelo PAC, baratinho, que entregaria o embrulho em no máximo 7 dias úteis. Praticamente uma semana e dois dias!

O que são uma semana e dois dias pra quem não espera nada? Nããão! O melhor é mandar por SEDEX, e a encomenda chega em 2 dias. O destinatário não está ansioso, o remetente menos ainda. SEDEX é melhor. Acho que estou dando pérolas aos porcos. SEDEX é melhor. Por que devo dar sempre o melhor? Tem quem se contente com menos, quem não espere nada, tem principalmente aqueles com quem mal falamos e nunca queremos dar o melhor pra eles. Por que dar o melhor de mim quando minha boa vontade não chega a tamanha generosidade? POR QUE DAR O MELHOR QUANDO O ATO DE DOAÇÃO ME SACRIFICA????

Porque tenho palavra. Porque prometi na minha primeira comunhão, e aprendi que é bom honrar – e obedecer – pai e mãe. Cristo obedeceu sua mãe e realizou seu primeiro milagre num casamento. Seu primeiro milagre poderia ter ocorrido numa ocasião mais notória, exótica, não numa das centenas de bodas do povo Hebreu em Canaã. O Deus vivo realizou seu primeiro milagre público por quê? POR QUÊ? POR QUÊ? – Para obedecer os caprichos da mamãe. Pra não levar puxão de orelha em casa, nem ofender os costumes. Deus obedeceu, porque quem obedece vive em paz.

Ele veio pregar a paz e o amor, veio para unir, veio para trazer o vinho da festa, mesmo a contragosto. Em seu primeiro milagre Cristo engoliu sua revolta. - Eu ficaria revoltada. Mas engoliria a revolta do mesmo jeito de Cristo. - Porque no fundo Ele sabia que o fervor dessa pequena raiva que acende os olhos de quem está revoltado não era nada frente aos espinhos que a humanidade lhe cravaria na testa.

Não que o Deus encarnado sabia desde o início cada detalhe de sua jornada, nem é necessário quando se sabe que o mundo é e sempre foi cão: Quer crucificar qualquer ser humano para roer seus ossos, depois de devorada a carniça e bebido seu sangue. A religião tenta insanamente nos pregar que é bom fazer o bem, é bom dar sempre o melhor de si. Diz que nossa existência é mais do que carne, osso e sangue, diz que existimos além do físico. Enquanto os cães mundanos devoram quem existe além da forma física para que existam apenas além da forma física. Esse círculo vicioso só pode ser quebrado quando os cães perceberem que também eles existem além do físico, então irão parar de matar a humanidade. Para isso acontecer falta muito.

Enquanto o mundo não rejeita sua ferocidade canina, viciosamente provo a droga da obediência, obedeço os mandamentos divinos, mantenho minha palavra. Escrito dessa forma parece algo reluzente e exemplar, porém tem seu lado funesto e torturante, como todo vício. A tortura me faz vir, por meio desse texto, chorar as pitangas.

terça-feira, janeiro 06, 2009

Bandeira do Divino
Ivan Lins

Os devotos do Divino
vão abrir sua morada
Pra bandeira do menino
ser bem-vinda,
ser louvada, ai, ai

Deus nos salve esse devoto
pela esmola em vosso nome
Dando água a quem tem sede,
dando pão a quem tem fome, ai, ai

A bandeira acredita
que a semente seja tanta
Que essa mesa seja farta,
que essa casa seja santa, ai, ai

Que o perdão seja sagrado,
que a fé seja infinita
Que o homem seja livre,
que a justiça sobreviva, ai, ai

Assim como os três reis magos
que seguiram a estrela guia
A bandeira segue em frente
atrás de melhores dias

No estandarte vai escrito
que ele voltará de novo
Que o rei será bendito
ele nascerá do povo



Reis do povo

A primeira festa popular do ano, no Brasil, é a dos Santos Reis. No interior do nosso país, e resistindo em algumas cidades grandes, as “Companhias de Reis”, com os devotos do Deus Menino, encerram no dia 6 de janeiro o ciclo do Natal. A “folia”, louca de alegria pela chegada da Eterna Criança, abençoa com sua bandeira cada lar, desejando saúde, paz e bem durante todo o ano que se inicia. Os palhaços, com suas espadas de madeira, que divertem muito a meninada, seriam soldados desertores de Herodes, disfarçados. Eles se recusaram a cumprir as ordens do chefe para continuar a matança dos inocentes. Não perseguiriam o Divino, pequeno Rei nascido numa estrebaria, pois sabiam que o poder do Amor é maior que o de todos os soberanos deste mundo.

Chico Alencar, autor de “Cântico das Criaturas: alegria e esperança do mundo”, da editora Vozes.