sexta-feira, março 08, 2019

Sobre o dia internacional da mulher:

Flores?
Parabéns?
Ser mulher é difícil e perigoso? Sim, aqui no Brasil é. Mas também corre risco de vida quem é pobre, negro ou homossexual.

O que quero hoje é uma vida melhor. Estou no caminho, me aprimorando em várias áreas e superando um obstáculo por vez. É de vagar que as grandes mudanças ocorrem? Tudo bem, me esforço para mudar um pouquinho por dia.

segunda-feira, março 04, 2019

Jacutinga, Minas Gerais

Chegou o terceiro e último dia de peregrinação. Amanheci com sem vontade de caminhar.
Chovia no hotel. Peguei 4 rosquinhas no café da manhã para lanche no caminho e decidi tomar leite com açúcar ao invés de suco. Nem reparei, mas era de uma marca estranha, quem tomou suco passou mal.
A van nos levou ao ponto de partida na Venda da Ziza em Inconfidentes. Como chovia, todos vestiram capa – ou usaram guarda-chuva. A chuva durou pouco. A paisagem é realmente linda: os mares de morros. Hoje foi dia de subir e descer quatro morros segundo a altimetria do Wikiloc. Na prática não conto os morros quando os atravesso.
Um bom tempo após a chuva parar, após o primeiro cruzeiro, decidi que tiraria a capa de chuva e colocaria as meias para secar penduradas na mochila assim que encontrasse um bom lugar. Passei pelo primeiro ponto de apoio: fechado. Entretanto Poli disse que pouco depois haveria uma igreja com barracão onde poderia parar e até usar o banheiro. A igreja não chegava. Calor e fome apertaram, tirei capa, pendurei meias e comi um lanche nos pés de um morro. Era a primeira do grupo, ninguém chegou depois que parei. Continuei. No alto do morro havia uma cerca de cimento pintada de verde com piso sestavado na entrada. Deduzi que era uma casa chique, pra completar dois cachorros que pareciam Rottweiler avançaram latindo para mim. Quando um cão late pra mim eu sigo o caminho, ao invés de subir a direita e provavelmente ver a entrada da casa chique, desci a íngreme ladeira a esquerda. 10 minutos depois Poli aparece com o carro informando que errei o caminho.
O que pensei ser uma casa chique era os fundos da igreja. Trabalhadores perto comentaram sobre minha passagem pelo caminho quando Poli chegou na igreja. Se ninguém tivesse me visto, estaria perdida até agora.
Silvana e Selma estavam com Marlene, que conhece o caminho, por isso não se perderam. Já Marilda e Marines foram avisadas pelos trabalhadores para não tomarem o rumo errado. Poli percebeu que a seta próxima estava apagada, com visualização difícil. Esse foi o benefício que trouxe ao grupo e ao Caminho da Prece: me perdi num trecho mal sinalizado. Encontrei talvez a única falha, porque de resto a sinalização é perfeita.
Almoçamos no meio do caminho, onde pedi que São Benedito abençoasse a cozinheira por cozinhar tão bem. São voluntários moradores da fazenda que sempre oferece comida aos peregrinos em seu ponto de apoio.
Depois do almoço meu ritmo ficou mais lento, não participei mais do pelotão da frente. Também não me juntei ao pelotão do meio. Comecei a fotografar. No portal de Borda da Mata noto que o Wikiloc resolveu funcionar. Algumas setas depois fico em dúvida sobre qual rumo tomar e o aplicativo me orienta. Sigo uma grande reta cheia de ladeiras até a Basílica de Nossa Senhora do Carmo. A reta desemboca na lateral da praça da igreja. Em frente a igreja está o marco zero do caminho.
No fim todos agradeceram antes da oração final, depois da oração nos abraçamos e entramos na van para voltar a Jacutinga.
No terceiro dia de caminhada o corpo se acostuma com a rotina e dói menos, terminamos o caminho melhor do que o início. Até o corpo se acostumar, não é boa ideia submetê-lo a 30 quilômetros ou mais. Se quiser permanecer inteiro, caminhe na casa dos 25, aproveita-se bem a viagem.
Concluo o caminho descobrindo que sim, meu corpo suporta os morros de Minas, sobreviverei ao Caminho da Fé.

domingo, março 03, 2019

Borda da Mata, Minas Gerais

Felizmente hoje não choveu. Foi dia de caminhar de Ouro Fino até Inconfidentes, atravessando o Morro do Monjolinho.
Tudo vai muito bem entre o Bar da Ponte Preta, em Ouro Fino, até o Bar do Maurão, em Inconfidentes. Uma bela estrada de terra sem grandes ladeiras. Preciso registrar a quantidade de canários da terra na região. Ontem eram bandos e mais bandos na chuva. Hoje pela manhã foi hora de ver maritacas, um carcará, galinhas da angola, galinhas normais. Até uma galinha com pintinhos cruzou meu caminho, reparei também num galo índio.
A geografia é de morros e mais morros, uma graça! Principalmente na Cruz de Pedra, que fica no alto do Morro do Monjolinho. Ainda bem que não choveu, a subida do morro com capa de chuva seria extenuante. Antes da cruz pensei que não teria nada para deixar simbolicamente com as pedrinhas. No alto do morro descobri que sim, tenho o que deixar pra trás com muita alegria.
Depois do morro havia uma plantação de bucha em flor, achei linda. Passamos direto ponto de apoio seguinte, não pegamos carimbo, e terminamos o percurso na Venda da Ziza, que é um bar. 14h o bar tinha acabado de fechar, mas chamei o dono, Marcos, que mora perto. O pessoal tomou cerveja e eu um refrigerante.
A van nos levou para Borda da Mata, onde assistimos missa e recebemos certificado de conclusão pois amanhã a igreja não abre amanhã, segunda-feira. Na igreja encontramos o grupo que de fato concluiu o Caminho da Prece hoje.
Amanhã serão 3 ou 4 morros bem mais altos do que o Morro do Monjolinho, pra terminar bem perto do céu.

sábado, março 02, 2019

Inconfidentes, Minas Gerais

Ontem chegamos em Jacutinga 22h, depois do banho, arrumar a mala e escrever, fui dormir 1h.
Hoje acordamos 5h35. 6h30 Silvana e eu fomos as primeiras a chegar na Casa do Peregrino. Na verdade uma mulher saiu 6h sozinha. Aguardamos a chegada dos integrantes dos dois grupos, rezamos e partimos 7h.
Plantação de rosas, vários morros, garoava mas não chovia. A chuva começou a cair forte 10h, quando cheguei com Marlene no Bar da Léia. Ela e eu caminhamos na frente dos grupos. Ela conhece o percurso, mora em Jacutinga, faz o Caminho da Prece pela segunda vez. Tentei usar o aplicativo Wikiloc no início mas como já havia caminhado até chegar na Casa do Peregrino, ele me mandava voltar pro hotel.
No Bar da Léia encontramos Poli, que trouxe o cajado que Marlene pediu. Tomei um picolé de limão, ela tomou café, esperamos a chuva suavizar um pouco e partimos. Chegamos no bairro Peitudos, de Ouro Fino, 11h39. Lá almoçamos na casa do Salvador e da Sirlene, que cuidam desse ponto de apoio no caminho, junto com o mercado Nossa Senhora, que carimba a credencial.
O grupo em que não estou fará o Caminho da Prece em 2 dias, depois seguirá para Bom Repouso. Depois de almoçar esperamos alguns peregrinos, partimos junto com a chuva. Ao chegarmos a chuva parou, não choveu durante o almoço.
O percurso após o almoço era muito plano, chegamos no Bar da Ponte Preta em Ouro Fino às 14h15. Aí terminou nosso percurso do dia, foram cerca de 26 Km. Já o segundo grupo seguiu para Inconfidentes.
Algumas pessoas acharam ruim esperar os últimos por pouco mais de 1h. Eu e Marlene esperamos a van por 2h. Vocês vão muito rápido! Eles caminham de vagar demais, parecem que estão passeando! Não é bem assim. Estamos todos viajando, ninguém veio por obrigação. Cada um tem seu ritmo, e quem anda rápido precisa esperar quem fica atrás porque estamos em grupo, o organizador não pode abandonar ninguém. Os discípulos de Cristo não vieram ao mundo para serem servidos como clientes especiais, mas para amar ao próximo e servir. Na peregrinação não é o mundo que se adequa aos meus desejos, sou eu quem suporta as adversidades e segue adiante rumo a novos horizontes.
Após um dia em baixo d'água, concluí que prefiro chuva torrencial a sol escaldante. Chuva refresca o ambiente e nos mantém quentes dentro da capa. Meu pé chegou a nadar na bota com tanta chuva que tomei, mas não ganhei nenhum machucado. Nenhum músculo meu doeu, mas usei pomada de arnica após o banho só pra relaxar. Emprestei minha mochila de ataque para Marlene, carreguei os 5 Kg da minha mochila normal sem problemas.
Amanhã retomamos o percurso a partir do Bar da Ponte Preta. O final nos brindará com um morro íngreme. Hoje não rezei pelo caminho, apenas o contemplei.

Jacutinga, Minas Gerais

Ontem tive uma noite de beleza após arrumar a mochila. Fiz umectação no cabelo, esfoliei o rosto e me besuntei de hidratante, passei até nos pés. Preciso começar a viagem muito bem cuidada, com todos os luxos que abdico no percurso. Dois anos atrás ganhei queimadura de segundo grau com o sol do verão na minha primeira peregrinação. Amanhã volto a caminhar no verão, crente que esse carnaval será diferente.
Enfrentarei o sol muito bem vestida, muita roupa com proteção solar fator 50: calça, camisa com manga, luva, chapéu e bandana para cobrir o rosto. Não tenho paciência com óculos de sol, mas trouxe. Protetor solar usarei só no rosto – fator 99. Todo esse aparato não é precaução contra o sol do verão. É precaução contra o sol mesmo, fosse inverno me vestiria da mesma forma, a diferença seria uma jaqueta contra o frio.
Cheguei no trabalho com mochila cargueira, cajado, vestido e papete. Botas penduradas na mochila. Antes de sair tirei a maquiagem com óleo de coco que deixei no trabalho.
No domingo anterior coloquei em prática o projeto Corrida no Ibira. Em 50 minutos dei uma volta correndo no parque, outra andando. Corri por quase 3 Km, nessa pequena distância já dá vontade de desistir pelo esforço físico que se faz, mas persisti: durante a semana já havia corrido 3 Km em 30 minutos de esteira, domingo estava confiante na minha capacidade. Minha disposição foi turbinada com a troca de pontos do cartão de crédito por uma camiseta de corrida nova. Encontrei o Ibirapuera estava menos cheio pelo horário em que fui (mais cedo do que o costume), e pelos blocos de pré carnaval. Fim de semana passado tinha mais pessoas nos transportes públicos, porém não nos lugares que frequento.
No início da primeira peregrinação acreditava piamente que ajudaria muito os outros com minha parca experiência de vida e visão de mundo. Hoje quero ampliar meus horizontes conhecendo o possível dos lugares e das pessoas. Na bagagem levo interesse genuíno. Parece que isso está em falta no cotidiano.
A peregrinação de aniversário do Caminho da Prece costuma ocorrer no fim de semana do Domingo de Ramos, esse ano será entre os dias 12 e 14 de abril; o organizador, Poli, postou fotos no Facebook dias atrás mostrando a revitalização do percurso para caminharmos agora.
A Sol, que conheci em caminhadas anteriores, também está no grupo. Finalmente conviveremos por mais de um dia. Somos 12 peregrinos, alguns iniciantes. Eu e Silvana encontramos Vera, que pertence a outro grupo de caminhada, na rodoviária em São Paulo. Ela começou a caminhar em 2005  pelo Caminho da Fé, é sua segunda vez no Caminho da Prece. Patrícia pertence ao mesmo grupo de Vera e também estava no ônibus. Fomos as últimas a chegar no hotel em Jacutinga. Não encontramos outros integrantes do nosso grupo mas Poli nos buscou e levou até a Casa do Peregrino.
Lá pegamos camiseta, passaporte, botons e bandana. Poli nos ofereceu um lanche e contou um pouco sobre os caminhos que percorreu e registrou na parede. Perguntei se o Caminho de São Francisco, na Itália, é mais difícil do que o da Fé, no Brasil. Ele contou que foi o mais difícil de todos, mas também o mais espiritualizado, com fortes emoções provocadas pelos lugares e suas histórias.
Que tendência a me interessar por coisas difíceis! Entretanto a dificuldade pouco importa. Antes do caminho de Assis tenho o de Santiago de Compostela, o Caminho da Fé, e o Caminho da Prece, que começo amanhã. Posso concluir todos, como qualquer pessoa. Tudo que preciso é dar um passo por vez.