domingo, setembro 25, 2022

Aparecida do Norte, 25 de setembro de 2022

 

Começo a escrever na van, retornando com o grupo para casa. Depois de 3 anos de início, finalmente concluí o Caminho da Fé, cheguei ao santuário de Nossa Senhora Aparecida.

O fim fácil que nunca chegava, os joelhos e panturrilhas em frangalhos, travadas até não poder mais, a primeira vista do Santuário depois de atravessar o rio Paraíba, o almoço antes de chegar na igreja, os quilômetros que se anda até pegar o certificado de conclusão do caminho, a missa das 14h com um sermão acolhedor que eu precisava ouvir e no final a benção dos objetos. Pedi para abençoar meu bastão de caminhada e meu cantil.

Também pedia para rezar por todos que pediram por nossa intercessão, e me lembrei de Aparecida, em 2019, lá no ramal de Mococa, que pediu para rezar por ela. Lembrei de todos que moram comigo, e dos meus sobrinhos. Todos foram abençoados com minha chegada em Aparecida.

Caminhar é muito bom e quem começa quer repetir a dose. Por isso tantas pessoas se prendem a um caminho, uma rota, tentando reviver os passos de forma melhor. Sim, o Caminho da Fé é encantador e árduo, mas já aprendi tudo o que queria com ele.

Minha próxima rota será Santiago de Compostela em 2025, um caminho português. Até lá o universo há de conspirar a favor de eu trilhar essa rota de uma vez só. Conhecer o mundo com 3 mudas de roupa e muito preparo físico. Manter corpo, mente e espírito sãos.

Minhas amigas entenderam na pele de onde vem a suposta loucura de caminhar dezenas de quilômetros todo dia carregando uma mochila. É um meio de superação. Vencer distâncias, vencer seus limites interiores. Um exercício de solidariedade e humanidade, para provar que você é mais um na multidão.

Obrigada Deus, Nossa Senhora, meu anjo da guarda, e todos que me acompanharam nesse caminho abençoado!

sábado, setembro 24, 2022

Guaratinguetá, 24 de setembro de 2022

O dia começou frio em Campos do Jordão. Casaco fleece e corta vento pra caminhar. A van nos levou até o horto florestal de Campos do Jordão, percorrendo os primeiros 15 Km e nos poupando da estrada sem acostamento.

A subida até o ponto mais alto do Caminho da Fé não é íngreme. Paisagens lindas, porém com subidas suaves para o Caminho da Fé.

As descidas são repletas de curvas e belas paisagens. Esperava terrenos mais íngremes, o que não livrou meus joelhos e panturrilhas de doerem no fim do dia. A distância entre uma pousada e outra foi de 57 Km. Cheguei no destino 17h20, nunca andei por tanto tempo. Usei o mato 2 vezes, nunca tinha feito isso no Caminho da Fé.

Andei no pelotão da frente, enquanto minhas amigas ficavam na retaguarda fotografando cada detalhe lindo que viam. Assim elas curtem o caminho. Eu apenas passo.

Esses peregrinos carregam a casa na mochila que despacham. Remédios mil, alicate de cutícula, lixa de unha, rolinho de massagem, hidratante labial e corporal, amostra de perfume...

Foi um dia bem cansativo porque foram muitos quilômetros de uma vez. Mas minhas unhas estão inteiras e minha cabeça não doeu até o ponto mais alto do Caminho.

Amanhã o trajeto será mais fácil, só preciso me recuperar. Faltam 20 quilômetros.

sexta-feira, setembro 23, 2022

Campos do Jordão, 23 de setembro de 2022

 

  Começo a escrever na rodovia, dentro da van. Tem música católica tocando.

No salão paroquial da igreja São Pedro ganhei colete de identificação para usar durante a caminhada, crachá para colocar na mochila que vai no carro de apoio, terço de lembrancinha, chaveiro da minha tia Silvia – ela quem fez.

A concentração começou na casa da Silvia, onde encontrei as duas Silvanas: uma tia minha, outra cunhada da Silvia. Nem me liguei para levar a camiseta da pescaria e andar uniformizada com o grupo, não gostei da camiseta com manguito porque já tenho minhas luvas com proteção solar. A blusa verde de pesca é a terceira preferida... Em viagens onde levo no máximo 3 blusas com proteção solar. Viagens que duram 2 dias ela fica de fora pra não carregar peso extra. Mas chegou pra ficar no meu guarda roupa peregrino, embora não esteja agora.

No grupo tem bastante gente experiente: vários estão fazendo o percurso com carro de apoio novamente. Eles andam de Crocs parte do percurso, me deu medo, preciso colocar minha parte na mochila de ataque amanhã.

Não sairemos caminhando da pousada. O trecho é perigoso e seremos levados até o horto. 15 km de tranquilidade e segurança.

Uma subida de deixar a cabeça zonza e uma longa descida de arrancar as unhas dos pés são meus fantasmas essa noite. Tudo possibilidade para amanhã. Fantasmas. Apenas suspeito dos desafios até Gomeral em Guaratinguetá amanhã. 

O certo é que tenho muita companhia boa me apoiando. Espero poder apoiar também.

quinta-feira, setembro 22, 2022

"Não sei se vou ou se fico

 Não sei se fico ou se vou...”


São Paulo, 22 de setembro de 2022


Essas duas semanas de intervalo do Caminho da Fé foram bem indecisas. 

Meu pai foi internado com pneumonia e acompanhei ele alguns dias. Minha mãe também estava muito ruim, com o pulmão congestionado e acompanhei-a no pronto socorro. Felizmente ela não precisou de internação. Meu pai teve alta hoje e tomará antibiótico na veia por dias seguidos em casa. Colheram sangue dele para acompanhar a evolução do tratamento, havendo alguma alteração chamam para o hospital novamente.

Meus pais medicados em casa, sinto-me confortável para viajar. Mesmo que somente meu pai estivesse internado, já estaria bom, eu não iria de jeito nenhum se meus dois pais estivessem no hospital. Mesmo depois de já ter pago toda viagem em grupo, depois de comprar pomada contra assadura e separar o dinheiro dos lanches. Cancelaria a viagem se meus pais estivessem internados. Meu coração não estaria na viagem, seria um desperdício.

Com meus pais bem, sendo cuidados em casa, posso curtir o fim de semana por completo. Obrigada Deus, Nossa Senhora e meu anjo da guarda! 


“Ficando eu sei que não fico

Ficando eu sei que não vou.”

Vinheta do programa do Silvio Santos 

domingo, setembro 11, 2022

Campos do Jordão, 11 de setembro de 2022

Começo a escrever hoje no ônibus, na rodoviária, voltando pra casa. Saí cerca de 6h20 e cheguei ao meu destino 13h45. Atravessei a Serra de Luminosa!

Ela é linda e muito cansativa. Parei pra descansar várias vezes. Na pousada do Mirante, no quilômetro 103, fui informada que deixei o pior pra trás. Foi um alívio.

Mais alguns morros e quilômetros depois chego ao asfalto. Encontro um carro de apoio a ciclistas de Ribeirão Preto que me ofereceu água, suco, bisnaguinha com goiabada. Faltavam 9 quilômetros para o meu destino. O motorista disse que havia mais uma subida em seguida várias descidas até Campista.

Antes disso havia parado na pousada da Dona Inês e enchido meu cantil, comido a maçã na serra de Luminosa, parei no restaurante Oásis e um peregrino sem mochila, que carregava apenas 2 garrafas, me pagou água, bananinha e paçoquinha, depois parei pra descansar no banquinho da pousada do Mirante e aproveitei pra reabastecer de água. O último ponto de apoio foi o carro dos ciclistas na estrada.

É muito bom caminhar na estrada. Terreno mais seguro para os pés, apesar de árido. A estrada tinha trechos em obras e precisei caminhar por pedriscos nós últimos quilômetros. Muito bem sombreada.

O almoço na pousada da Rose foi farto, comi com tranquilidade. Maurinho me levou de carro até a rodoviária de Campos do Jordão, peguei o último lugar no ônibus das 15h30.

O sentimento que fica após cumprir essa etapa do Caminho da Fé é gratidão. A Deus, Nossa Senhora, meu anjo da guarda e o universo.

 

sábado, setembro 10, 2022

Luminosa, 10 de setembro de 2022

Os 24 quilômetros de hoje tiveram muitos morros, mas foram bem espaçados. Nenhum excessivamente íngreme, porém muito extensos. Num deles parei por meia hora pra descansar.

Nunca parei tanto numa caminhada. Ponto de apoio 9h pra lanchar, depois a parada de meia hora 10h30, pousada do Jucemar 7 quilômetros antes do destino pra tomar água de coco, parada na divisa de Luminosa com São Bento do Sapucaí.

Encontrei muitos ciclistas no caminho, um me deu o gel de carboidratos na parada de meia hora. Caminhei com 2 casais: Regina e Genésio de Fortaleza, Ceará; Kelly e César de Macaé, Rio de Janeiro.

Acompanhava Regina e Genésio na última parada quando encontramos um pelotão de ciclistas com um carro de apoio que me levou 3 quilômetros adiante até minha pousada. O motorista do carro de apoio é Carlos Serafim, ele e seus amigos ciclistas são de Teresópolis, Rio de Janeiro; terminam o caminho amanhã. Está no caminho pela primeira vez e tem vontade de fazer de bike, não ir no carro de apoio da próxima vez. No total eles levam 4 dias de Águas da Prata até Aparecida.

Na pousada sou a única hóspede. Agora é descansar porque amanhã o dia será cheio. Chegando na pousada vou almoçar e voltar pra casa.

 

sexta-feira, setembro 09, 2022

Paraisópolis, 9 de setembro de 2022

A lua está linda hoje. Amarela e quase cheia, meu pequeno sol que me acompanhou durante a viagem.

Passei por Campos do Jordão antes de chegar em Paraisópolis.

Não sei pra que lado saio amanhã do hotel rumo ao Caminho da Fé.

Pois é, Paulo Coelho, você que no Diário de um Mago não foi até o final do Caminho de Santiago; parou num pórtico encurtando a viagem e fazendo valer a compostelana; aqui estou eu no Caminho da Fé abreviando meu trajeto. Ao invés de quase duzentos quilômetros que faltavam de Borda da Mata até Aparecida, percorro só os cem finais pra fazer valer meu passaporte Mariano.

Amanhã e depois farei quarenta e cinco quilômetros no total. Depois virá um fim de semana com um grupo onde percorrerei mais cinquenta e oito.

Vinte e quatro quilômetros amanhã! Serra de Luminosa! Deus, dai-me luz, bons joelhos e um bom descanso.

 

quinta-feira, setembro 08, 2022

"Tempo, tempo

 

mano velho

falta um tanto ainda, eu sei

pra você correr macio…”


São Paulo, 5 de setembro de 2022


Não acredito, fiz nova planilha, comprei passagem, arquei com os custos e próxima sexta embarco para Paraisópolis, Minas Gerais, tentando percorrer parte dos últimos cem quilômetros do Caminho da Fé. Os últimos cinquenta e oito, a partir de Campos do Jordão, farei com um grupo dia 24 e 25 de setembro.

Se não arrumar emprego antes, estou partindo. Tudo devidamente planilhado, reservado e pago.

Que Deus, Nossa Senhora e meu anjo da guarda me acompanhem. Deus no comando, Nossa Senhora me protegendo e meu anjo da guarda me guiando sempre. Que venha o melhor.


Tempo amigo

seja legal

conto contigo

pela madrugada

só me derrube no final.”

Sobre o tempo, Pato Fu