sábado, abril 25, 2020

Durante a quarentena - 37º dia

Desgraça pouca é bobagem, nosso povo gigante pela própria natureza tem estômago para várias crises cavalares ao mesmo tempo.
Ontem o ministro da justiça, Sérgio Moro, pediu exoneração. A carta branca que ele recebeu no início do mandato, ao que tudo indica não era tão branca quanto ele pensava. Uma pena.
O presidente respondeu a entrevista coletiva matutina de Moro com um discurso, houve panelaço (não na minha rua), alguns partidos políticos entraram com pedido de impeachment no congresso contra o presidente. Meu pai questionou: E a vontade do povo, não conta? Pode entrar com pedido de impeachment sem manifestação popular? Tentei esclarecer que deputados e senadores também são representantes do povo e também estão no congresso para nos defender, eles também representam a vontade popular com seus mandatos, não só o presidente. Tem muita gente lá no Congresso Nacional para evitar que um louco mande e desmande no país conforme sua própria cabeça e esqueça os interesses e deveres coletivos que jurou respeitar e seguir a risca quando assumiu um cargo público.
Ao menos três partidos políticos não estão dormindo, entraram com pedido de impeachment motivados pelo discurso de Moro – que na verdade foi a gota d’água.
Mais gado sendo moído daqui pra frente; quem for de alto nível estique as asinhas e voe daqui, quem se nivelar por baixo que se desbarate em meio a tanta merda que virá.
Ontem resolvi me valorizar: comecei a usar hidratante facial de manhã, o bom e velho óleo de coco. Nessa quarentena só tinha mantido o hidratante noturno (óleo de oliva e laranja), deixei de usar até protetor solar. Hidratante corporal é difícil ter vontade de usar, mas meu rosto gosto de cuidar e cutucar. Tenho mais cutucado do que cuidado, hoje comecei a tentar reverter o quadro.
Semanas atrás meu tio trouxe os esmaltes transparentes que pedi. A intenção era montar uma coleção especial para a terceira idade, mas só anteontem, ao fazer as unhas da minha mãe, percebi que montei a coleção “mocinha da novela das 6”. Os esmaltes da Impala são Lua (branco perolado), Paz (branco acinzentado suave cobertura), Cigana (branco leite suave cobertura), Top pop (branco transparente), Gaia (pêssego suave cobertura). Cores claras e transparentes são tão delicadas! Figuram nas mãos das noivas e mocinhas de novela mais tradicionais. Os pés da minha mãe com uma camada de Lua e outra de Paz por cima pareciam francesinha.
Ver e fazer tanta beleza anteontem me animou a ontem praticar em mim uma francesinha de responsa, tendo uma filha única mais leitosa do que as demais unhas da mão. Não usei esmaltes novos, o branco cremoso que usei foi Paz, da Nati; como branco cintilante escolhi o perolado cintilante Grace, da Colorama; como branco transparente usei o Top blanc, da Impala. O processo de fazer as mãos foi divido em duas partes: de manhã lixei minuciosamente as unhas, que estavam sem esmalte há um bom tempo; depois do banho fiz as cutículas, hidratei as mãos, pintei as unhas.
Foi um bom treino, o resultado ficou razoável, não venderia uma coisa dessas. A filha única não apareceu porque o cintilante da Colorama é muito clarinho, como um bom cintilante deve ser; o traçado branco ficou muito grosso e reto, não valorizou o formato redondo em que lixei minha unha. Na próxima vez faço o traço acompanhando o formato da unha, mais fino; para deixar leitosa a filha única usarei o perolado Lua, da Impala.
Além da mão fiz também meu pé, onde usei apenas um esmalte além da base. O escolhido foi Cigana, da Impala. Nesse processo todo a cadeira do quarto provou-se uma ótima aquisição.
Depois de semanas fazendo cutículas a seco quando me incomodavam, eis que no 36º dia de quarentena faço as unhas com toda pompa que mereço. Leoninos são marcados pela vaidade, e eu demoro muito para assumir esse meu lado; dissimulo, vou aos poucos, porém quando assumo abraço de vez pra não largar mais.
Hoje amanheci com mais ideias de combinações para unhas decoradas, fotografei os esmaltes.

sábado, abril 18, 2020

Durante a quarentena - 30º dia

Venho falar sobre o pronunciamento do presidente do Brasil na tarde do dia 16 de abril, quando oficialmente trocou o ministro da saúde.
Um pronunciamento visualmente coeso, ninguém usou máscara, o novo ministro da saúde chama-se Nelson Teich.
O presidente tem frisado que o emprego é importante, que a economia não pode parar, enfim, ele foi eleito pensando em resolver problemas econômicos. Ao que parece, para quem tem um martelo como ferramenta todos os problemas são pregos. Pensar na vida e no emprego dos mais humildes, que não tem condições de ficar parados por muito tempo.
Perfeito. No sistema capitalista ninguém tem condições de ficar parado por muito tempo, sempre é necessário produzir algo. Os youtubers e artistas produzem conteúdo nas mais variadas formas, ópio para o povo em tempo de quarentena; os restaurantes entregam comida pronta; feiras livres, sacolões e mercados continuam funcionando; o campo não para de produzir alimento; farmácias, hospitais, dentistas e consultórios médicos ainda funcionam; caminhoneiros e demais entregadores seguem na ativa; o comércio agora é via internet, Whatsapp ou telefone – ponto de venda não importa mais.
Fecharam escolas, escritórios, lojas, academias, cinemas, centros culturais, igrejas, e mesmo assim a sociedade ainda produz. Crianças com atividades ou aulas em casa, cursos online, home office, vídeos de atividade física, transmissão de cultos e shows online, grupos de estudo e discussão no Whatsapp. Mesmo em casa, raros pararam de produzir e consumir. Todos fazem a economia girar, ninguém parou de viver. Não é possível ficar parado por muito tempo. Porque de fato não estamos, mesmo que não batamos panelas revoltados com certas sandices.
O pronunciamento do presidente e do novo ministro foi realmente coerente. Saúde não é independente das condições de vida de um povo. Por isso vida e subsistência, saúde e emprego, vida com condições dignas e recursos para desfrutá-la. O novo ministro propõe além do isolamento estudar melhor a doença, e assim tratá-la com mais propriedade. Ninguém é contra o que tem sido feito até agora. Embora o presidente viva lamentando o fato dos governadores e prefeitos não consultarem a esfera federal antes de tomarem atitudes. O presidente podia fazer a parte que lhe cabe calado? Jamais.
Nesse desespero de empregar mais gente a carteira de trabalho verde amarela foi aprovada na Câmara dos Deputados dia 15, falta agora o Senado aprovar a Medida Provisória para que ela tenha validade.
A carteira de trabalho verde amarela servirá para pessoas de 18 a 29 anos ou com mais de 55 anos. O contrato de trabalho pagará no máximo 1 salário-mínimo e meio, sendo válido por no máximo 2 anos. Será válida para novos postos de trabalho, no limite de 25% dos trabalhadores da empresa, sendo que empresas com até 10 funcionários podem contratar no máximo 2 pessoas nesse novo sistema. Um contrato verde amarelo é mais barato para o empresário, tem menos carga tributária; para o empregado é a garantia de um trabalho por no máximo dois anos, onde se ganha experiência ou retorna ao mercado.
Depende do Senado aprovar ou não a medida provisória até dia 20 de abril e incentivar relações de trabalho justas, humanizadas e dignas. O Brasil precisa de incentivo para gerar riquezas, e a maior riqueza de um país é seu povo e sua cultura; o povo precisa viver bem no emprego que conseguir.
O tempo não para nem volta, antes da pandemia era outra realidade que não se repetirá tão cedo. Depois de um mês do primeiro caso de COVID-19 o ministro da saúde é trocado, o Estado de São Paulo estendeu a quarentena até 10 de maio, o novo ministro alega que somente isolamento social não resolve. Ninguém está parado: há cientistas pesquisando métodos de cura, analisando a doença e como ela se comporta em diferentes climas e populações do planeta.
O desafio do momento é encontrar uma forma mais tranquila de se viver. Sem muito agito, festas, viagens, sem necessidade de grande exposição. Viver com o básico, interiorizar, aumentar conhecimento para agir no momento oportuno. Que os projetos felizes sejam adiados para um futuro nunca antes sonhado, que nos encontrará em nosso melhor momento de concretizá-los.

quarta-feira, abril 15, 2020

Durante a quarentena - 27º dia

A cadeira do meu quarto chegou, montei sozinha, passou a Páscoa, a quarentena no Estado vai até dia 22, estou em férias até dia 5 de maio, o barbante laranja acabou.
Montar a cadeira do quarto sem pedir ajuda para meu pai foi uma conquista e tanto. O modelo é bonito, simples e confortável. Depois de montada só fui usar mesmo para estudar passado o segundo dia.
Pouco antes da semana santa começar vinha batendo uma preguiça e nós três já não rezávamos 21h30. A partir da quinta-feira santa, minha mãe acompanhou todas as celebrações da paróquia local pela página da igreja no Facebook, no computador da sala. Deixei de lembrar do nosso terço 21h30 porque todo dia acompanhávamos uma celebração, já nos conectávamos com Deus e rezávamos de acordo com o padre.
O almoço da sexta-feira santa foi fabuloso: dia do meu amado macarrão com sardinha. Gosto tanto do prato que até peço em alguns finais de semana, mas minha mãe vive descartando. Talvez por ser simples demais, talvez por eu não pedir outra coisa quando lhe falta ideia. O dia oficial da iguaria é sexta-feira santa. A vontade de comê-la ainda não foi tamanha a ponto de eu mesma prepará-la para quem estiver comigo em casa, embora faça algumas raras vezes.
Domingo de Páscoa não teve chocolate. Porém precisava de um doce de manhã para dar para meus pais, algo especial. Tapioca doce para nós três: recheio de beijinho, ou seja, leite condensado e coco ralado. Qual a melhor forma de aproveitar o resto do recheio? Afinal abri uma lata de leite condensado e usei três colheres do pacote de coco ralado que estava aberto há tempos no armário. Nesse domingo de Páscoa fiz meu primeiro beijinho. Minha mãe me ensinou a encontrar o ponto do doce. Meu pai tirou aquela foto bonita que publiquei no Facebook oferecendo beijinho de Páscoa para os amigos. Minha tia vizinha também saboreou alguns beijinhos, a maioria comemos até terça-feira. Somente depois de fazer essa receita passei a comer o doce com o cravo da índia, antes tirava. Fica refrescante, menos enjoativo, muda bem o sabor, um gosto refinado. Beijinho é tudo de bom, o primeiro tem um sabor especial.
A quarentena estadual ia até dia 7 de abril, foi estendida até dia 22. No trabalho a documentação do aviso de férias ainda não chegou para eu assinar, porém estou sim em férias; posso ficar em casa tranquilamente até dia 5 de maio.
Minha vontade de presentear as amigas é maior que a quantidade de barbante laranja. Se fosse presentear Lisandra, precisaria comprar mais barbante colorido. Ela até agradeceu a intenção do presente, mas sugeriu que fizesse algo útil para quem passa por dificuldades. Na hora lembrei dos casaquinhos de bebês para grávidas carentes que a Federação Espírita do Estado de São Paulo ajuda. Ainda tenho lãs e botões que sobraram do casaquinho que fiz para meu sobrinho. Lisandra me lembrou de que ainda posso me divertir fazendo caridade; dessa vez sem sair de casa, e quantas vezes quiser durante a semana: posso fazer casaquinhos e sapatinhos de crochê para bebês carentes. Desde janeiro não faço trabalho voluntário, o pedido de Lisandra era o que faltava para retomar essa prática de outra forma.
O trabalho voluntário não é pra ontem, é para depois dos meus caprichos. O presente da Lisandra e de outra amiga pode esperar indefinidamente, elas não esperam nada mesmo. Para mim tenho duas bolsas de lacre de latinha começadas e um jogo americano em crochê que quero ver o resultado. Depois disso parto para os casaquinhos e sapatinhos.
Esses projetos de crochê vão além das férias, quando voltar ao trabalho normal quero separar uma meia hora diária para seguir na ativa.
Ontem ocorreu o primeiro encontro com os colegas do curso do livro de Leon Denis no grupo de Whatsapp. Durou uma hora nossa aula virtual. Depois me animei e voltei a rezar com meus pais 21h30 contra a pandemia, vibrando suporte para a saúde e os governantes.

sábado, abril 04, 2020

Durante a quarentena - 16º dia

Inicio essa nova categoria de diário esclarecendo que meu público-alvo sou eu mesma. Este é um diário pessoal, num espaço pessoal, feito simplesmente para suprir minha necessidade de me expressar. Como está na internet, quem conhece o endereço pode ler, comentar, essa é a abertura que dou aos raros interessados; porém a essência é a mesma de um primitivo diário de papel.
Começo a escrever em meu 16º dia de quarentena devido a gripe COVID-19. Antes disso não tive vontade de produzir abobrinhas, não pretendo escrevê-las com periodicidade regular. Estou com meus pais, todos razoavelmente bem, sem complicações.
No início de março minhas férias esse mês estavam muito bem planejadas, embora os recursos financeiros fossem fazer falta depois. Entretanto estava tudo devidamente calculado e planejado. Na segunda-feira terminei de reservar todas as pousadas do Caminho da Fé, por onde peregrinaria a pé entre os dias 7 e 22 de abril. Porém no fim daquela semana o Estado de São Paulo entrou em quarentena por 15 dias. Durante aquela semana percebi que era necessário traçar um plano B para as férias, comprei linhas para crochê na quinta-feira; na sexta-feira a loja estava fechada e eu cancelava as pousadas que havia reservado já no meu primeiro dia afastada do trabalho.
Desde o dia 20 de março todos os funcionários da divisão estão em trabalho remoto, exceto eu, que fui orientada a completar 3 cursos online gratuitos durante a quarentena. Completei-os antes do início das minhas férias. Escolhi todos da plataforma da FGV, achei muito bons e desafiadores. Aprendi sobre o Sistema Tributário Nacional; um pouco sobre BSC, que é uma forma de gerenciar a estratégia empresarial tão útil que todo sistema administrativo público precisa usar – é sério, o governo está obrigando a máquina pública entrar nesses moldes; e motivação nas organizações. O que me fascinou no curso de motivação foi descobrir que a motivação é algo interno, parte de cada indivíduo, o que o campo externo pode fazer é contribuir com estímulos.
Comecei a marcar os dias que passavam no calendário com um X no 3º dia de quarentena. Os dias parecem todos iguais, todos domingo.
Pensei que varreria o chão todos os dias; faria exercícios físicos; leria 1 capítulo de “O Grande Enigma”, de Leon Denis, por dia; leria 5 revistas digitais da editora Abril; voltaria a estudar inglês; arrumaria o guarda-roupa; tiraria o pó da casa toda uma vez por semana; faria crochê. De toda essa expectativa estou varrendo o chão uma vez por semana e fazendo crochê. Das revistas pelas quais me interessei faltam ler alguns poucos artigos da primeira.
Faço café da manhã para meus pais. Desde o dia 18 nós três tomamos vitamina C diluída em água aromatizada de anis estrelado. Ao invés de pão, preparo tapioca para eles na frigideira menor, de um ovo. O recheio varia entre requeijão e margarina. Eu mesma como tapioca no máximo 1 vez por semana, geralmente tomo vitamina de iogurte de Kefir com fruta e chia; tem dias que tomo leite com chocolate e uma fruta, outros como banana quente com chia, além do cafezinho preto sem açúcar.
Depois do café da manhã trato da gata e dos passarinhos, e estão acabadas minhas obrigações matutinas. Depois disso estudo se é meio de semana, varro a casa se é sábado. Comecei a escrever esse diário depois de varrer a casa. Quem lava a louça do café da manhã é minha mãe.
Minha mãe faz o almoço, geralmente eu lavo a toda a louça. Depois é hora de fazer crochê, assim não durmo. Depois leio as folhas de jornal que colocarei para os passarinhos, gosto de ler. Leio um capítulo de “O Grande Enigma”, volto a estudar, assisto vídeos, olho redes sociais, até dar 17 h, que é quando tomo remédio. Tomo banho, coloco os passarinhos para dormir, continuo lendo, a gente janta e mais ou menos 21h30 nos reunimos na sala para rezar.
Faço uma oração, sempre agradecendo o dia e pedindo suporte para a área da saúde e do governo contra a pandemia; leio e comentamos um trecho de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, de Allan Kardec; rezamos o terço do dia, que minha mãe puxa. Com o passar do tempo, deixei de rezar o “Credo” do terço porque não condiz mais com minhas crenças. Enquanto meus pais rezam “Creio em Deus pai...” eu oro mentalmente pensando em que Deus acredito e como o mundo pode melhorar. As outras orações do terço encaro como mantras, e sempre ao final dos mistérios quando pedimos para Jesus “levai as almas todas para o céu e socorrei principalmente as que mais precisarem da vossa misericórdia” penso em quem está morrendo naquele exato momento. Assim terminam meus domingos, digo, meus dias.
A providência divina fez com que meu irmão mais velho, que mora em Itapetininga, nos visitasse ontem para tomar café da manhã depois de buscar remédios do sogro com a cunhada. Entreguei os presentes que fiz para ele e a esposa, além do que fiz para a sogra dele. Não precisei enviar meu artesanato em crochê pelos correios. Dos trabalhos em crochê que tenho feito, a prioridade são presentes para amigas, depois virão as peças para mim.
Mesmo com tempo, não fiz a limpeza de março no meu guarda-roupa e desconfio se quero mesmo chegar nas 70 peças. Nos próximos dias tentarei tirar mais algumas peças, porém desconfio que a quantidade que possuo já está bem confortável e enxuta.
Depois de anos protelando, encontrei bons motivos para comprar uma cadeira decente para minha escrivaninha e substituir a de encosto quebrado e pés fixos. Quando a ganhei o encosto não estava quebrado, é o único móvel que não escolhi no meu quarto. A cadeira nova tem rodinhas e chega semana que vem.
Além dos 3 cursos que fiz, a FGV tem mais 15 que achei interessante. Assunto para estudar não me falta, sem contar que encontrei mais um concurso público para chamar de meu, com prova em julho. 2020 parece ser o ano da cultura e do conhecimento. Esse ano descobri podcasts em língua estrangeira, podcasts de notícias, o curso espírita sobre o livro “O Grande Enigma” é enriquecedor, e na quarentena consumo mais e mais cultura e conhecimento.
Utilizo a quarentena para aumentar minha bagagem intelectual e expandir meus horizontes. Novos tempos se aproximam. Até o Papa implora por novos tempos, estou certa de que nascem a cada alvorada.