sábado, abril 04, 2020

Durante a quarentena - 16º dia

Inicio essa nova categoria de diário esclarecendo que meu público-alvo sou eu mesma. Este é um diário pessoal, num espaço pessoal, feito simplesmente para suprir minha necessidade de me expressar. Como está na internet, quem conhece o endereço pode ler, comentar, essa é a abertura que dou aos raros interessados; porém a essência é a mesma de um primitivo diário de papel.
Começo a escrever em meu 16º dia de quarentena devido a gripe COVID-19. Antes disso não tive vontade de produzir abobrinhas, não pretendo escrevê-las com periodicidade regular. Estou com meus pais, todos razoavelmente bem, sem complicações.
No início de março minhas férias esse mês estavam muito bem planejadas, embora os recursos financeiros fossem fazer falta depois. Entretanto estava tudo devidamente calculado e planejado. Na segunda-feira terminei de reservar todas as pousadas do Caminho da Fé, por onde peregrinaria a pé entre os dias 7 e 22 de abril. Porém no fim daquela semana o Estado de São Paulo entrou em quarentena por 15 dias. Durante aquela semana percebi que era necessário traçar um plano B para as férias, comprei linhas para crochê na quinta-feira; na sexta-feira a loja estava fechada e eu cancelava as pousadas que havia reservado já no meu primeiro dia afastada do trabalho.
Desde o dia 20 de março todos os funcionários da divisão estão em trabalho remoto, exceto eu, que fui orientada a completar 3 cursos online gratuitos durante a quarentena. Completei-os antes do início das minhas férias. Escolhi todos da plataforma da FGV, achei muito bons e desafiadores. Aprendi sobre o Sistema Tributário Nacional; um pouco sobre BSC, que é uma forma de gerenciar a estratégia empresarial tão útil que todo sistema administrativo público precisa usar – é sério, o governo está obrigando a máquina pública entrar nesses moldes; e motivação nas organizações. O que me fascinou no curso de motivação foi descobrir que a motivação é algo interno, parte de cada indivíduo, o que o campo externo pode fazer é contribuir com estímulos.
Comecei a marcar os dias que passavam no calendário com um X no 3º dia de quarentena. Os dias parecem todos iguais, todos domingo.
Pensei que varreria o chão todos os dias; faria exercícios físicos; leria 1 capítulo de “O Grande Enigma”, de Leon Denis, por dia; leria 5 revistas digitais da editora Abril; voltaria a estudar inglês; arrumaria o guarda-roupa; tiraria o pó da casa toda uma vez por semana; faria crochê. De toda essa expectativa estou varrendo o chão uma vez por semana e fazendo crochê. Das revistas pelas quais me interessei faltam ler alguns poucos artigos da primeira.
Faço café da manhã para meus pais. Desde o dia 18 nós três tomamos vitamina C diluída em água aromatizada de anis estrelado. Ao invés de pão, preparo tapioca para eles na frigideira menor, de um ovo. O recheio varia entre requeijão e margarina. Eu mesma como tapioca no máximo 1 vez por semana, geralmente tomo vitamina de iogurte de Kefir com fruta e chia; tem dias que tomo leite com chocolate e uma fruta, outros como banana quente com chia, além do cafezinho preto sem açúcar.
Depois do café da manhã trato da gata e dos passarinhos, e estão acabadas minhas obrigações matutinas. Depois disso estudo se é meio de semana, varro a casa se é sábado. Comecei a escrever esse diário depois de varrer a casa. Quem lava a louça do café da manhã é minha mãe.
Minha mãe faz o almoço, geralmente eu lavo a toda a louça. Depois é hora de fazer crochê, assim não durmo. Depois leio as folhas de jornal que colocarei para os passarinhos, gosto de ler. Leio um capítulo de “O Grande Enigma”, volto a estudar, assisto vídeos, olho redes sociais, até dar 17 h, que é quando tomo remédio. Tomo banho, coloco os passarinhos para dormir, continuo lendo, a gente janta e mais ou menos 21h30 nos reunimos na sala para rezar.
Faço uma oração, sempre agradecendo o dia e pedindo suporte para a área da saúde e do governo contra a pandemia; leio e comentamos um trecho de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, de Allan Kardec; rezamos o terço do dia, que minha mãe puxa. Com o passar do tempo, deixei de rezar o “Credo” do terço porque não condiz mais com minhas crenças. Enquanto meus pais rezam “Creio em Deus pai...” eu oro mentalmente pensando em que Deus acredito e como o mundo pode melhorar. As outras orações do terço encaro como mantras, e sempre ao final dos mistérios quando pedimos para Jesus “levai as almas todas para o céu e socorrei principalmente as que mais precisarem da vossa misericórdia” penso em quem está morrendo naquele exato momento. Assim terminam meus domingos, digo, meus dias.
A providência divina fez com que meu irmão mais velho, que mora em Itapetininga, nos visitasse ontem para tomar café da manhã depois de buscar remédios do sogro com a cunhada. Entreguei os presentes que fiz para ele e a esposa, além do que fiz para a sogra dele. Não precisei enviar meu artesanato em crochê pelos correios. Dos trabalhos em crochê que tenho feito, a prioridade são presentes para amigas, depois virão as peças para mim.
Mesmo com tempo, não fiz a limpeza de março no meu guarda-roupa e desconfio se quero mesmo chegar nas 70 peças. Nos próximos dias tentarei tirar mais algumas peças, porém desconfio que a quantidade que possuo já está bem confortável e enxuta.
Depois de anos protelando, encontrei bons motivos para comprar uma cadeira decente para minha escrivaninha e substituir a de encosto quebrado e pés fixos. Quando a ganhei o encosto não estava quebrado, é o único móvel que não escolhi no meu quarto. A cadeira nova tem rodinhas e chega semana que vem.
Além dos 3 cursos que fiz, a FGV tem mais 15 que achei interessante. Assunto para estudar não me falta, sem contar que encontrei mais um concurso público para chamar de meu, com prova em julho. 2020 parece ser o ano da cultura e do conhecimento. Esse ano descobri podcasts em língua estrangeira, podcasts de notícias, o curso espírita sobre o livro “O Grande Enigma” é enriquecedor, e na quarentena consumo mais e mais cultura e conhecimento.
Utilizo a quarentena para aumentar minha bagagem intelectual e expandir meus horizontes. Novos tempos se aproximam. Até o Papa implora por novos tempos, estou certa de que nascem a cada alvorada.

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