quinta-feira, fevereiro 28, 2019

O homem

(Roberto Carlos)

Um certo dia um homem esteve aqui
Tinha o olhar mais belo que já existiu
Tinha no cantar uma oração.
E no falar a mais linda canção que já se ouviu.

Sua voz falava só de amor
Todo gesto seu era de amor
E paz, Ele trazia no coração.

Ele pelos campos caminhou
Subiu as montanhas e falou do amor maior.
Fez a luz brilhar na escuridão
O sol nascer em cada coração que compreendeu

Que além da vida que se tem
Existe uma outra vida além e assim...
O renascer, morrer não é o fim.

Tudo que aqui Ele deixou
Não passou e vai sempre existir
Flores nos lugares que pisou
E o caminho certo pra seguir

Eu sei que Ele um dia vai voltar
E nos mesmos campos procurar o que plantou.
E colher o que de bom nasceu
Chorar pela semente que morreu sem florescer.

Mas ainda é tempo de plantar
Fazer dentro de si a flor do bem crescer
Pra Lhe entregar
Quando Ele aqui chegar

Tudo que aqui Ele deixou
Não passou e vai sempre existir
Flores nos lugares que pisou
E o caminho certo pra seguir

Tudo que aqui Ele deixou
Não passou e vai sempre existir
Flores nos lugares que pisou
E o caminho certo pra seguir

quarta-feira, fevereiro 27, 2019

“A chama da vela que reza

direto com santo conversa
ele te ajuda te escuta
num canto colada no chão mas sombras mexem
pedidos e preces viram cera quente
pedidos e preces viram cera quente”

São Paulo, 14 de fevereiro de 2019

No Caminho da Prece há uma cruz de pedra em Inconfidentes onde a tradição pede para depositar 2 ou 3 pedrinhas de sua cidade. Passaremos por essa cruz no domingo de carnaval. Levo uma pedra da Avenida Senador Queirós retirada próxima ao cruzamento com a Avenida do Estado, uma da pista de corrida do Parque Ibirapuera. São os lugares que mais frequento em busca do corpo ideal. Corpo ideal para caminhar quilômetros a fio, seja em terreno montanhoso ou plano. Um corpo que vence distâncias e proporciona novos horizontes para minha mente.
Qual o significado das pedras? O que você quiser! Se quiser mandar a tradição às favas e não levar pedra alguma, tudo bem, siga em paz. As pedrinhas que levo simbolizam o lugar de onde vim, meu passado. A intenção é deixar o passado na Cruz de Pedra e voltar do Caminho da Prece com outros olhos, mesmo que ainda frequente os lugares de sempre. O exercício de desvencilhar-se do passado é sempre bom. Passou pela cabeça deixar 3 lacres de latinha, mas preferi pedras – não poluem.
Já que meu celular tem memória sobrando, surgiu a maníaca dos aplicativos em mim. Depois de duas semanas monitorando o peso num aplicativo de acompanhamento de ciclo menstrual e conseguindo emagrecer, instalo o My Fitness Pal para monitorar as calorias que consumo e tentar eliminar meio quilo por semana. Preciso de motivação. O problema é que essa calculadora de calorias não conversa com os aplicativos de saúde que já possuo, por isso dias mais tarde baixei outro da mesma empresa só para registrar minhas caminhadas, seja final ou meio de semana. Gastando calorias a calculadora permite que eu consuma mais, sem ultrapassar a meta diária.
My Fitness Pal registra seu diário alimentar, consumo de água, prática de exercícios. Você pode participar de uma comunidade no aplicativo, registrar suas impressões em posts sobre qualquer coisa (adoro escrever!), convidar amigos para acompanhar o desempenho um do outro. Emagrecer não precisa ser um processo solitário, que limite a convivência com outras pessoas.
Aplicativos de saúde são incentivadores. Quem sabe esse ano não atinjo minha meta de peso e paro de consultar nutricionista? Voltar a uma vida sem fórmulas emagrecedoras e chás com gosto de perfume. Porém agradeço os chás, melhor prepará-los do que sucos mirabolantes. Chás possuem ingredientes fáceis de guardar e conservar, são mais baratos e práticos.
Encontrei a rota completa do Caminho da Prece no aplicativo Wikiloc, que também pode ser acessado a partir do computador. Realmente é um ótimo treino para o Caminho da Fé: morro todo dia. O segundo dia engana porque há muita planície antes da subida 15 Km após o início, sendo que a distância total do segundo dia é de pouco mais de 22 Km.
Se algum peregrino iniciante suporta subir e descer morros por 3 dias seguidos, acredito que fisicamente ele está preparado para qualquer peregrinação. Um batismo de fogo. Em 3 dias não solucionam-se os possíveis desconfortos e machucados, convive-se com eles por pouco tempo. Porém músculo e resistência você prova que tem, se atravessa o Caminho da Prece.
Pesquisando sobre as cidades por onde o Caminho da Prece passa, descobri que ele situa-se na Mesorregião do Sul e Sudoeste de Minas, entremeia o circuito turístico de Malhas do Sul de Minas. Fiz uma breve pesquisa para saber por onde irei caminhar, comer, escrever e dormir. Descobri que ao terminar o percurso em Borda da Mata preciso tomar café, que é o produto agropecuário de maior destaque da cidade.
Beber café parece trivial mas não é no meu caso, pois passarei os dias de peregrinação sem a bebida para me prevenir de palpitações durante a caminhada. A caminhada exige muito esforço, meu coração não suporta o estímulo extra da cafeína.
Recém completei 3 meses de academia e já vi resultados na silhueta. O peso baixou pela disciplina tanto na dieta quanto nos exercícios, a calculadora de calorias me animou e passei a me tatuar com decalque sempre que elimino algumas gramas durante a semana. Subir escadas após o almoço e caminhar no parque aos domingos é rotina.
Hoje consigo as passagens para Jacutinga e passo a imaginar como será ir trabalhar dia primeiro de março carregando uma mochila cargueira cor-de-rosa e um cajado. O próximo carnaval será só festa.

Se tudo move se o prédio é santo
se é pobre mais pobre fica
vira bucha de balão ao som de funk
e apertada tua avenida
a cera foi tarrada
não se admire”
Reza Vela, O Rappa

terça-feira, fevereiro 26, 2019

“Eu sou eu

Dom Quixote
senhor de La Mancha
e o meu destino é lutar

pois quem não se aventura
com fé e ternura
não pode o mundo mudar...”

São Paulo, 20 de janeiro de 2019

Fui com Silvana numa trilha no Parque da Cantareira. Fomos em excursão, onde ela me apresentou Luzia, uma caminhante de Osasco. Quem organizou a excursão foi o grupo Clube da Caminhada. Eram cerda de 38 trilheiros para desbravar o fácil acesso à Pedra Grande e a bela vista da cidade de São Paulo. Prédios e mais prédios no meio da cratera delimitada pela Serra da Cantareira.
Cântaros eram jarros onde guardava-se água. Cantareira eram prateleiras onde guardavam-se cântaros. Essa explicação encontramos numa placa próxima a uma bica d’água, próxima à Pedra Grande, onde chegamos por volta das 10 h. Depois desse ponto atravessamos o limite de municípios entre São Paulo e Mairiporã. Próximo a esse limite fica o Lago das Carpas, que estava com acesso interditado. Caminhamos até o núcleo Águas Claras. Depois fizemos todo o trajeto de volta. Ao todo foram cerca de 16 Km pela mata atlântica. Na volta vimos até bugios no alto das árvores pelo caminho. O guia nos informou que o Parque da Cantareira a princípio fazia parte de um município chamado Juqueri, que depois foi dividido entre vários municípios vizinhos: como Franco da Rocha – que abriga o hospital psiquiátrico Juqueri, Mairiporã, Guarulhos, São Paulo, e outros que abrigam o Parque Ecológico da Serra da Cantareira.
Todas as trilhas que fizemos eram caminhos de tropeiros no início, sendo que a da Pedra Grande é até asfaltada. Como não tinha mato, fui com minha calça de camping transformada em bermuda. Exibi minhas pernocas neon com a recente tatuagem decalque aplicada em comemoração ao emagrecimento semanal de 300 g. Minha surpresa ocorreu às 5 da manhã, quando ao me arrumar para o passeio descobri que meu celular novo cabe no bolso das calças de camping. Não precisarei levar bolsa especial para o celular na peregrinação, menos coisa para carregar pendurada – já carrego meu cantil. Comprei celular novo atrás de bastante memória interna (são 64 GB) e ganhei câmeras maravilhosas. Obrigada, celular top de linha, seu preço salgado vale o espaço para dezenas de aplicativos e as fotos cheias de detalhes que me proporciona.
Foi uma ótima trilha de treino: muita subida na ida, ladeira na volta. Contornamos o parque de um portão a outro ida e volta. O Parque da Cantareira é enorme, tanto que é dividido entre vários municípios, não posso dizer que o atravessamos. Os 3 meses de academia fizeram que não sentisse os joelhos nas descidas, apenas a natural dificuldade de fôlego das subidas. Ao fim da trilha todos ganharam o Passaporte das Trilhas do Estado de São Paulo com o carimbo do Parque da Cantareira. O passaporte é gratuito e é uma ótima sugestão para próximas trilhas, um incentivo para conhecer novos lugares.
Muitos dos caminhantes conhecem e acompanham o Clube da Caminhada há um bom tempo, fazem várias excursões. Esse clube não pertence ao SESC, tem apenas uma página no Facebook, onde divulga seus eventos. Tânia contou que já percorreu vários trechos do Caminho da Fé, mas nunca ele completo, de uma vez. Não encontra tempo nas férias. Ela é descendente de japonês e percorreu trechos do caminho dos templos japoneses com amigos, dos quais quatro falavam japonês, ela não sabe direito japonês nem inglês, se não fosse em grupo, não iria sozinha.
Um dos guias falou da programação de carnaval do Clube da Caminhada: ir de Vitória (Espírito Santo) até Inhotim (Minas Gerais) passando por Belo Horizonte de trem. Gostei da ideia de passar o carnaval caminhando, é realmente o que gosto de fazer, como gosto de viajar. Depois Silvana convidou a mim e Luzia para o Caminho da Prece, bem mais em conta porque não envolve deslocamento aéreo até Vitória.
O Caminho da Prece pode ser percorrido em 3 dias, tem 71 Km de extensão pelo sul de Minas Gerais. Passa por Jacutinga, Ouro Fino, Inconfidentes, Tocos do Mogi, Borda da Mata. Que me recorde, quatro dessas cidades também fazem parte do Caminho da Fé, por isso é um bom treinamento, bom até para iniciantes como Luzia, que nunca peregrinou. Tenho minhas dúvidas se é bom começar a vida de peregrino encarando morro todo dia.
Vejo que março pesará no bolso: carnaval, concurso em Arujá, presente de casamento do meu irmão mais novo – ele casa em junho mas quero presenteá-lo no mês de seu aniversário. Por enquanto desconto minhas angústias na bolsa de lacre de latinha para meu celular. Preciso dela o quanto antes para sair com pouca coisa durante o almoço. Se fizer mais bolsinhas posso presentear amigas e quem sabe até vender. Tenho dois modelos menores: um com linha preta e outro com linha verde, quero colocá-los à venda assim que terminar a bolsa do celular novo.
Virou o ano e percebi que preciso juntar bastante grana para bancar minhas viagens, principalmente Santiago de Compostela. Hora de regular os gastos, buscar renda extra, investir bem o pouquinho que separo todo mês.
Tudo há de correr bem se me dedicar.

Não pode o mundo mudar
quem não se aventurar”
Eu sou Eu, Dom Quixote; canção do musical “O Homem de La Mancha”

segunda-feira, fevereiro 25, 2019

“Quando entro na história

o roteiro é só pra mim
não aguento essa escória
que não quer me ver assim...”

São Paulo 12 de dezembro de 2018.

O que uma viagem faz comigo? Para emagrecer só controlava a comida e ia à academia quando superava a preguiça. Agora, para ter fôlego quando for subir e descer morro todo dia, além de controlar comida bato cartão na academia, subo escada, frequento parque religiosamente, domingo não é domingo sem caminhada - nem que seja em stepper.
Como é bom resgatar a vaidade dos meus tempos infantis: mais ideológica do que estética. Busco um feito, uma redação “minhas férias”, um romance dramático e aventureiro para me orgulhar. Não uma imagem no espelho ou em pixel para imprimir na mente.
Queria dizer que após um mês de academia perdi bastante peso, meu corpo já mudou, durmo melhor, estou mais bem disposta. Pena que a vida não é um comercial de margarina ou uma propaganda de shake da Herbalife, onde algo pequeno e simples revoluciona completamente sua vida. A realidade é que o início dos treinos nos brinda com mais trabalho do que resultado. Perdi meio quilo, foi um começo bem tímido. Meu corpo mudou sim, perdi um pouco de bunda e minha barriga está sem dobrinhas graças a 3 séries de 15 abdominais uma vez por semana. Afinei geral e perdi um pouco de gordura localizada dentro do corpo. Não é o suficiente para ir do manequim 44 para o 42 mas estou a caminho. Nesse primeiro mês frequentei academia duas vezes por semana. Parei de acordar no meio da noite para ir ao banheiro, mas essa mudança não começou no último mês. Minha disposição melhorou não quando acordo, sempre despertei bem, mas parei de adiar tarefas como guardar o salão de manicure quando volto do asilo. Um ponto inusitado é que meu fluxo menstrual mais intenso diminuiu, sangro menos.
Vale a pena, um mês de atividades físicas regulares produz pequenas diferenças. Quando havia reunião após o almoço não subia escadas. Foram 6 dias de reunião, mais o dia em que examinei meu coração com Holter e não pude fazer exercícios. Na última sexta-feira meu treino mudou, pretendo passar dezembro e janeiro frequentando a academia no mínimo 3 vezes por semana, no máximo 4. Músculo só aparece mesmo depois de 6 meses de frequência, até lá tem muito treino para melhorar outras partes e funções do meu corpo. Preciso de mais resistência e força até julho, são 7 meses para conseguir. Porém não parto do zero, sei que já possuo boa resistência, alguma força, melhorei minha velocidade de caminhada entre o início e a conclusão do Caminho do Sol.
Tirei dezembro para fazer exames de rotina. Consultei cardiologista porque tive palpitação num dia da última peregrinação. A partir de então cortei cafeína e meu coração seguiu tranquilo, voltei a consumir moderadamente após o término da viagem. Prestei concurso último domingo e decidi não caçar outro logo em seguida, prefiro me concentrar em cuidar do corpo em dezembro e janeiro.

Meu nome é Vaidade
não nasci pra Amélia
eu não quero saber quanto é
vaidade é pra quem pode
vai dizer que você não quer?”
Vaidade, Luciana Mello

domingo, fevereiro 24, 2019

“Boemia

aqui me tens de regresso...”

São Paulo, 13 de novembro de 2018

A frase certa para iniciar essa carta seria “Academia, aqui me tens de regresso”. Foi o que postei junto com minha foto no grupo dos manos, no Facebook, e enviei também para Guilherme por Whatsapp. Voltei porque não posso mais adiar minha preparação física, voltei bem na segunda-feira e todo dia que não tiver outro compromisso após o trabalho irei bater cartão na academia.
Domingo encontrei Silvana e suas filhas na feira de artesanato do Leste Europeu em frente o parque ecológico da Vila Prudente. Dividimos nosso roteiro em 18 etapas, sendo que no último dia caminhamos apenas 7,3 Km.
Iremos em Julho de 2019, que é mês de férias dos meus cursos espíritas. Silvana pegará férias a partir do feriado de 9 de julho, podemos começar a caminhar dia 10 em Mococa e chegar em Aparecida dia 27, sábado; ou começar dia 11 e chegar dia 28, domingo. A ideia inicial dela era chegar no domingo, mais festivo, porém também está disposta a chegar sábado, aproveitar a cidade e voltar domingo após a missa.
Ela contou sua experiência no trecho em que faremos. Era para caminhar de Mococa a São Roque da Fartura, mas esqueceu documentos antes de embarcar e encontrou o grupo em São José do Rio Pardo. Contou que as pessoas são muito hospitaleiras no Caminho da Fé: você entra pedindo água e ganha um lanche caprichado, no caminho há pontos de água que os moradores deixam para os peregrinos. Ela foi com um grupo numa excursão em que ninguém precisou carregar mochila, havia carro de apoio. O percurso tem muita subida e um cajado é extremamente importante.
Como treino, Silvana faz trilhas e percorre terrenos em aclive nos fins de semana e feriados. Comprou uma bota de caminhada e sente-se muito confortável nas travessias, trilhas e no trecho de teste do Caminho da Fé. Eu me comprometo a treinar musculação na academia, caminhar na esteira, caminhar ao ar livre. Além da musculatura, me preocupo com meu coração - esse músculo interno tão crucial - que já sofreu com arritmia antes de 2017 e me fez evitar cafeína também em 2018, durante a segunda parte do Caminho do Sol.
Meu próximo encontro com Silvana será em janeiro, quando decidiremos sobre as pousadas, saberemos mais sobre as dificuldades do percurso com quem já o fez, buscaremos relatos entre amigos e nos sites. No domingo mesmo encontrei Zeca e ele disse que caminhava em torno de 25 Km por dia, não 35 como sugere o site. Conversando com Carol ao longo da semana, ela sugeriu reservar todas as pousadas previamente e confirmar hospedagem ao longo do caminho. Isso é necessário pois as cidades não possuem foco turístico, não há muitas opções de pousadas caso alguma esteja cheia. Comentou que a pousada Bom Jesus em Aparecida é ótima, mas dificilmente tem vaga. Não está na lista de pousadas do Caminho da Fé porque não tem padrão peregrino – tem padrão turismo de fim de semana, com boas acomodações e preço salgado. Funciona num antigo seminário e possui visita noturna monitorada. Passar o sábado na pousada Bom Jesus nos pareceu uma boa ideia, merecemos mais comodidade após carregar mochila por 18 dias. Decidiremos em Janeiro.
Há a possibilidade de convidarmos mais pessoas e formar um grupo maior. Silvana tem dois amigos em mente, eu penso em abrir um chamado no grupo de e-mails do Caminho do Sol ou até num fórum de mochileiros. A impressão que temos é que são poucos os corajosos que percorrem o Caminho da Fé completo mais de uma vez, de tão difícil que ele é. Zeca gosta de percorrer novos ramais até Águas da Prata, ponto a partir do qual o caminho se unifica.
Volto desanimada para a academia, na minha vida de peregrina até agora só peguei gosto em caminhar ao ar livre. Espero que com a frequência tome gosto em treinar, me animarei se ver algum resultado no espelho. Os resultados que preciso serão cobrados apenas em julho do ano que vem.

E suplicante lhe peço
a minha nova inscrição”
A Volta do Boêmio, Nelson Gonçalves

sábado, fevereiro 23, 2019

“De que me adianta

viver na cidade
se a felicidade não me acompanhar?”

São Paulo, 5 de novembro de 2018
Hoje é aniversário do meu pai, mas já cantamos parabéns para ele ontem, domingo. Hoje é feriado em Itapetininga, de onde vieram ontem meu irmão mais velho e a esposa. Foi uma boa tarde de domingo, com modas de viola para agradar meus pais. Minha cunhada canta bonito! Nas conversas ela se mostrou uma ótima pessoa, meu irmão soube escolher bem a pessoa com quem quer passar o resto da vida.
No fim de semana anterior, dia 27 de outubro, foi véspera do segundo turno das eleições presidenciais. Caminhei 15 quilômetros com os amigos do Caminho do Sol por Jundiaí. Convidei Silvana e Lisandra para o passeio, elas recusaram porque são mesárias nas eleições e a programação terminaria com um concerto à noite; Guilherme não deu certeza de nada, essa falta de resposta me fez não contar com ele, considerando principalmente que o amigo mudou de emprego e ganhou uma rotina puxada.
O percurso partiu do Jardim Botânico de Jundiaí, juntou com o Parque da Cidade, que fica ao lado da represa e possui até área de aeromodelismo, passou por estradas de terra até chegar na fazenda Nossa Senhora da Conceição, uma antiga fazenda cafeicultora que hoje planta outras culturas, possui construções do tempo da colonização italiana e o restaurante que serve comida caseira. Descobri que risoto italiano das mamas é simplesmente arroz de forno, não esses risotos cremosos de chefes de cozinha. Almocei uma truta com Nadir e Solange. Depois visitamos o museu da FEPASA em Jundiaí, onde Artur fotografou peregrinas nos trens do pátio. Concluímos que o museu e os trens sofrem com abandono, que só é melhor do que descaso. Não é de hoje que o país sofre silenciosamente com falta de atenção para preservar e manter história e cultura. Por que será que “nos deram espelhos e vimos um mundo doente” como canta Legião Urbana em Índios?
Depois do museu, Nadir ofereceu a casa para as peregrinas tomarem banho. Todas mudaram bem o visual, menos eu, que troquei uma calça bermuda de camping e blusa de manga comprida por uma calça leggin e baby look de algodão do Doutores da Alegria. Como esfriou continuei com meu casaco fleece laranja que uso na caminhada. Um visual para andar no bairro, ainda mais porque não usei maquiagem. Fomos assistir o pré-concerto, onde Daniel, músico que mora em Jundiaí e é filho de Artur, explicou a uma plateia o que é uma sinfonia, quais as partes que geralmente contém, que suas partes são chamadas de movimentos, que em 1800 o povo adorava escutar esse tipo de música nova. Depois ouvimos a 9ª Sinfonia de Beethoven, cuja parte mais famosa é a última. Essa parte inovou porque possui canção, letra. As outras partes me passaram leveza e calma, essa última uma alegria festiva. A sinfonia inteira é alegre. 1h30 de música clássica. Depois comemos pizza e Artur me deu carona para chegar 4h da manhã de domingo em casa. Levantei para votar 12h, muito feliz e confiante pelo dia anterior.
Para chegar em Jundiaí peguei carona com Fernando, outro filho do Artur. Também estavam no carro a Vó, e conheci Cristina, que é enfermeira em casa de custódia. Ela não votou no segundo turno porque estava de plantão. Comentou-se que as eleições dividiram muitas famílias, mas a minha não sofreu com isso porque meu grupo de irmãos mal possui manifestações, ninguém quis falar nada sobre política. Como pessoa mais ativa do grupo postei fotos antes e depois de comprar uma base nova, essa foi minha manifestação no período eleitoral. Depois meu irmão mais velho festejou a vitória de Bolsonaro e eu o lembrei do dever de mudar a zona eleitoral para poder votar nas próximas eleições – como disse no início da carta, ele mora em Itapetininga.
Achei que 15 quilômetros seriam fáceis, ainda mais sabendo que a maior parte do percurso era plano. Nessa caminhada não aprenderia nada. Quanto engano! Não foi uma rota difícil, mas por estar meses longe de academia, senti meus tornozelos no dia seguinte. Nas poucas subidas meu coração batia mais devagar. O tempo estava nublado e decidi não usar luvas com proteção solar: queimei as costas da mão esquerda. Comprei um poncho plástico para chuva e gostei de usá-lo na garoa e chuva fraca que apareceu no caminho. Poncho é bem mais fresco do que capa de chuva, não me senti um lixo. Uma cachorra preta nos acompanhou pela estrada de terra até o restaurante. Amigas ficaram com pena de se separar dela, enquanto eu dizia que era natural, que ela ia se virar, só não dizia que gostei da companhia da bichinha durante a caminhada, me deixou feliz.
Escutei comentários sobre os diversos lugares por onde os colegas peregrinos passaram, Artur compartilhou fotos lindas, soube que Camila está adorando fazer pós graduação e arteterapia. Nesse passeio vivenciei o que me cabia, tirei poucas fotos (44, enquanto Artur tirou 150), aprendi sobre meu corpo, conheci um pouco mais os amigos. Não peregrino em busca da melhor foto, querendo encontrar a melhor paisagem, não me ligo em imagens. Me importo com as sensações que experimento, com a parte da vida que as pessoas dividem comigo. Não nasci para fotos, nasci para relatos emotivos.
Semana passada assisti aula online sobre depressão e descobri que tive essa doença e seu ponto alto foi a crise catatônica em 2011. Domingo de manhã assisti palestra sobre depressão na Federação Espírita do Estado de São Paulo e descobri que o tratamento passa por autoconhecimento, evangelização, pensar em si e no próximo. Peregrinações possuem esses componentes, por isso Osvaldo sentiu-se melhor ao finalizar o Caminho do Sol em 2017. Sem saber o que tinha ao certo, meu tratamento com evangelização começou em 2012; é nos tratamentos e cursos da Federação Espírita onde repenso a minha vida para seguir no caminho do bem tão exemplificado por Jesus. Hoje não tenho depressão porque adquiri o hábito de pensar em mim e no próximo com amor. A peregrinação nas férias é só mais uma forma prática de apreciar e vivenciar a passagem da vida. Eis a lição que os depressivos precisam aprender: como apreciar e vivenciar bem a passagem da própria vida.

Adeus paulistinha
do meu coração
lá pro meu sertão eu quero voltar”
Saudade de Minha Terra, Goiá

sexta-feira, fevereiro 22, 2019

“Eu te desejo não parar tão cedo

pois toda idade tem prazer e medo...”

Monte Santo de Minas, 11 de agosto de 2018
Hoje é festa de aniversário de Henrique, que completa 5 anos amanhã. Amanhã também é aniversário de Lisandra, comprei o presente dela aqui.
Vim com meus pais para Monte Santo para, além da festa do meu primo, entregar convites de casamento do meu irmão mais velho aos parentes da cidade, e comemorar o dia dos pais.
Aproveitei e peguei informações sobre o Caminho da Fé com meu primo Márcio. Descobri que ele não percorreu a rota, mas peregrinou com um grupo até Aparecida do Norte com um caminhão de apoio. O grupo ia pelas rodovias, e carregou mochila apenas no primeiro dia, até encontrar o caminhão. Eles saíam 3 horas da manhã, caminhavam até 7 horas, quando tomavam café no caminhão, depois caminhavam até o almoço, paravam para almoçar no caminhão, descansavam um pouco, caminhavam à tarde, dormiam em algum posto. Assim conseguiam caminhar 70 Km por dia, lembrando que carregavam pouca coisa. Chegaram em Aparecida em 12 dias, cruzaram com o Caminho da Fé pouco antes de Campos do Jordão, passaram por Pindamonhangaba. Estou propensa a pegar a rota de Pindamonhangaba porque tem um pouco mais de altitude do que Guaratinguetá, o que significa menos decida; além disso a cidade possui uma comunidade Hare Krishna, imagina quanta energia boa não deve ter além da igreja!
Trouxe meu álbum de fotos do Caminho do Sol recém completado e contei a aventura pra família. Matilde se interessou em percorrer a rota, gostaria de fazer algumas etapas por vez.

Desejo
que você tenha a quem amar
e quando estiver bem cansado
ainda
exista amor pra recomeçar”
Amor pra recomeçar, Frejat