viver
na cidade
se
a felicidade não me acompanhar?”
São
Paulo, 5 de novembro de 2018
Hoje
é aniversário do meu pai, mas já cantamos parabéns para ele
ontem, domingo. Hoje é feriado em Itapetininga, de onde vieram ontem
meu irmão mais velho e a esposa. Foi uma boa tarde de domingo, com
modas de viola para agradar meus pais. Minha cunhada canta bonito!
Nas conversas ela se mostrou uma ótima pessoa, meu irmão soube
escolher bem a pessoa com quem quer passar o resto da vida.
No
fim de semana anterior, dia 27 de outubro, foi véspera do segundo
turno das eleições presidenciais. Caminhei 15 quilômetros com os
amigos do Caminho do Sol por Jundiaí. Convidei Silvana e Lisandra
para o passeio, elas recusaram porque são mesárias nas eleições e
a programação terminaria com um concerto à noite; Guilherme não
deu certeza de nada, essa falta de resposta me fez não contar com
ele, considerando principalmente que o amigo mudou de emprego e
ganhou uma rotina puxada.
O
percurso partiu do Jardim Botânico de Jundiaí, juntou com o Parque
da Cidade, que fica ao lado da represa e possui até área de
aeromodelismo, passou por estradas de terra até chegar na fazenda
Nossa Senhora da Conceição, uma antiga fazenda cafeicultora que
hoje planta outras culturas, possui construções do tempo da
colonização italiana e o restaurante que serve comida caseira.
Descobri que risoto italiano das mamas é simplesmente arroz de
forno, não esses risotos cremosos de chefes de cozinha. Almocei uma
truta com Nadir e Solange. Depois visitamos o museu da FEPASA em
Jundiaí, onde Artur fotografou peregrinas nos trens do pátio.
Concluímos que o museu e os trens sofrem com abandono, que só é
melhor do que descaso. Não é de hoje que o país sofre
silenciosamente com falta de atenção para preservar e manter
história e cultura. Por que será que “nos deram espelhos e vimos
um mundo doente” como canta Legião Urbana em Índios?
Depois
do museu, Nadir ofereceu a casa para as peregrinas tomarem banho.
Todas mudaram bem o visual, menos eu, que troquei uma calça bermuda
de camping e blusa de manga comprida por uma calça leggin e baby
look de algodão do Doutores da Alegria. Como esfriou continuei com
meu casaco fleece laranja que uso na caminhada. Um visual para andar
no bairro, ainda mais porque não usei maquiagem. Fomos assistir o
pré-concerto, onde Daniel, músico que mora em Jundiaí e é filho
de Artur, explicou a uma plateia o que é uma sinfonia, quais as
partes que geralmente contém, que suas partes são chamadas de
movimentos, que em 1800 o povo adorava escutar esse tipo de música
nova. Depois ouvimos a 9ª Sinfonia de Beethoven, cuja parte mais
famosa é a última. Essa parte inovou porque possui canção, letra.
As outras partes me passaram leveza e calma, essa última uma alegria
festiva. A sinfonia inteira é alegre. 1h30 de música clássica.
Depois comemos pizza e Artur me deu carona para chegar 4h da manhã
de domingo em casa. Levantei para votar 12h, muito feliz e confiante
pelo dia anterior.
Para
chegar em Jundiaí peguei carona com Fernando, outro filho do Artur.
Também estavam no carro a Vó, e conheci Cristina, que é enfermeira
em casa de custódia. Ela não votou no segundo turno porque estava
de plantão. Comentou-se que as eleições dividiram muitas famílias,
mas a minha não sofreu com isso porque meu grupo de irmãos mal
possui manifestações, ninguém quis falar nada sobre política.
Como pessoa mais ativa do grupo postei fotos antes e depois de
comprar uma base nova, essa foi minha manifestação no período
eleitoral. Depois meu irmão mais velho festejou a vitória de
Bolsonaro e eu o lembrei do dever de mudar a zona eleitoral para
poder votar nas próximas eleições – como disse no início da
carta, ele mora em Itapetininga.
Achei
que 15 quilômetros seriam fáceis, ainda mais sabendo que a maior
parte do percurso era plano. Nessa caminhada não aprenderia nada.
Quanto engano! Não foi uma rota difícil, mas por estar meses longe
de academia, senti meus tornozelos no dia seguinte. Nas poucas
subidas meu coração batia mais devagar. O tempo estava nublado e
decidi não usar luvas com proteção solar: queimei as costas da mão
esquerda. Comprei um poncho plástico para chuva e gostei de usá-lo
na garoa e chuva fraca que apareceu no caminho. Poncho é bem mais
fresco do que capa de chuva, não me senti um lixo. Uma cachorra
preta nos acompanhou pela estrada de terra até o restaurante. Amigas
ficaram com pena de se separar dela, enquanto eu dizia que era
natural, que ela ia se virar, só não dizia que gostei da companhia
da bichinha durante a caminhada, me deixou feliz.
Escutei
comentários sobre os diversos lugares por onde os colegas peregrinos
passaram, Artur compartilhou fotos lindas, soube que Camila está
adorando fazer pós graduação e arteterapia. Nesse passeio
vivenciei o que me cabia, tirei poucas fotos (44, enquanto Artur
tirou 150), aprendi sobre meu corpo, conheci um pouco mais os amigos.
Não peregrino em busca da melhor foto, querendo encontrar a melhor
paisagem, não me ligo em imagens. Me importo com as sensações que
experimento, com a parte da vida que as pessoas dividem comigo. Não
nasci para fotos, nasci para relatos emotivos.
Semana
passada assisti aula online sobre depressão e descobri que tive essa
doença e seu ponto alto foi a crise catatônica em 2011. Domingo de
manhã assisti palestra sobre depressão na Federação Espírita do
Estado de São Paulo e descobri que o tratamento passa por
autoconhecimento, evangelização, pensar em si e no próximo.
Peregrinações possuem esses componentes, por isso Osvaldo sentiu-se
melhor ao finalizar o Caminho do Sol em 2017. Sem saber o que tinha
ao certo, meu tratamento com evangelização começou em 2012; é nos
tratamentos e cursos da Federação Espírita onde repenso a minha
vida para seguir no caminho do bem tão exemplificado por Jesus. Hoje
não tenho depressão porque adquiri o hábito de pensar em mim e no
próximo com amor. A peregrinação nas férias é só mais uma forma
prática de apreciar e vivenciar a passagem da vida. Eis a lição
que os depressivos precisam aprender: como apreciar e vivenciar bem a
passagem da própria vida.
“Adeus
paulistinha
do
meu coração
lá
pro meu sertão eu quero voltar”
Saudade
de Minha Terra, Goiá