terça-feira, agosto 09, 2022

“Jurei mentiras e sigo sozinho

 assumo os pecados...”


São Paulo, 27 de junho de 2021


A pandemia que começou ano passado continua com todos de máscara e começando a se vacinar pra valer, em julho chega a minha vez. Passamos dos 500 mil mortos por COVID em 19 de junho. Em março minhas férias de junho foram suspensas e até hoje não tenho previsão de quando ou se ocorrerão antes do fim do contrato. Em maio entrei em trabalho remoto permanente.

No fim de abril comecei a praticar yôga todo dia com ajuda de um aplicativo gratuito. Essa tem sido minha única atividade física tem agitado minha vida amplamente, abriu horizontes, me colocou em movimento em áreas nas quais eu não me mexia por um bom tempo. Além de dar vontade de partir para outras atividades físicas, como a boa e velha caminhada. Por hora fico só na vontade.

O lado chato de ser mulher é sangrar. Sangrar todo mês por um período determinado. No meu caso nenhuma dor me acompanha de aviso, durante ou depois, desapegada da matéria, eu sangro por oito dias mensalmente. Imagina viajar por vinte e cinco dias no mês. Fatalmente sangrarei na viagem.

Desde 2019, quando voltei do ramal de Mococa do Caminho da Fé, penso em alternativas para substituir os absorventes descartáveis. Naquele ano adotei absorventes de pano.

Com superfície interna de microfibra e a exterior de tecido impermeável, só precisa lavar depois do uso. Tem várias camadas internas e são presos por botões. O segredo é deixar de molho enquanto se toma banho para depois lavar com sabão. Uso um conjunto de seis unidades em dois tamanhos. Consigo trocar o lado do absorvente para aproveitar melhor o produto, inverter o lado que está na frente com o que está atrás.

É libertador não pensar em absorvente ao fazer compras. O sangue menstrual é sujeira que você precisa aceitar e aprender a limpar. Fez parte de você, agora vai pro ralo.

Até que me adaptei bem, estava tudo planejado para a mala: saquinhos para deixar os absorventes sujos e de molho, uma sacolinha para os limpos. Porém depois de tanto tempo usando reparei que demoram para secar, e essas coisas não são como meias, que podemos pendurar na mochila enquanto caminhamos para secar.

A opção foi experimentar um coletor menstrual. O famigerado copinho que substitui absorvente interno. Fui logo para o kit que vinha com caneca para esterilizar no micro-ondas.

O site do fabricante falava para experimentar sem estar menstruada para saber como seu corpo se adapta. Foi o que fiz.

Lavei com água e sabão o coletor e a caneca. Esterilizei o coletor cobrindo ele com água e colocando para ferver no micro-ondas por três minutos. Tirei do micro-ondas, lavei minhas mãos antes de tocar no coletor e esperei esfriar fora da caneca. Dobrei e coloquei o coletor em mim conforme as instruções. Processo tão desconfortável quanto colocar um absorvente interno pela primeira vez. Fiquei alguns minutos com o produto, somente o palito puxador incomodava um pouco, de resto, parecia que não tinha nada. Tirar o coletor foi incrivelmente fácil, ele saiu no formato de copinho.

Depois desse teste lavei com sabão, fervi novamente, deixei secar, guardei para usar nos dias de sangramento.

O coletor menstrual precisa ser esterilizado no início do ciclo e após o término. Nas demais trocas basta lavá-lo com sabão neutro. Minha intenção é usá-lo junto com os absorventes de pano, deixar o coletor para os dias de fluxo mais intenso.

O primeiro ciclo menstrual usando o coletor foi emocionante. Como estava em casa, mal sangrei já coloquei o absorvente de pano e preparei meu coletor. Coloquei o coletor no almoço e esvaziei antes de dormir.

A primeira troca foi desesperadora. O copinho não saía, por mais que puxasse. Se essa coisa fica em mim? Pensei em ir para o pronto socorro. Até que finalmente me acalmei e meus músculos relaxaram. Doeu um pouco, mas consegui. O segredo é esse: calma e relaxamento. Passei a noite com absorvente de pano e coletor, por precaução. Vem mais sangue nos primeiros cinco dias.

No dia seguinte acordo e esvazio o copinho em 20 minutos. Com preguiça e esperando o celular carregar, aguardo um tempo antes de fazer yôga. Tiro o coletor novamente no banho matutino depois do exercício. Dessa vez mais relaxada e já atenta ao movimento interno que preciso fazer para pegar o coletor. A retirada doeu menos. A dor e a dificuldade de tirar o produto deve-se ao vácuo formado entre o coletor e meu corpo.

Pensei que poderia ficar sem o absorvente de pano durante o dia, me enganei. O coletor vasa. Depois que coloco, depois que mexo haste por curiosidade, quando vou ao banheiro fazer xixi ainda limpo um pouquinho de sangue - mesmo que não procure a haste do coletor. Talvez com o tempo de uso encontre a posição certa de encaixe deixe de vazar.

Foi muito mais fácil lavar o absorvente de pano do que se eu estivesse usando apenas ele. O absorvente não usou metade da capacidade que possui.

O ponto positivo de toda essa experiência é que me sinto seca, mesmo sangrando. O coletor não incomoda meu corpo em nenhuma atividade, em nenhuma posição.

Deixei de usar o produto na manhã do quinto dia, quando coletei pouco sangue. Durante todo o período de uso ele vazou um pouco, porém nada justificava utilizar mais de um absorvente de pano por dia, na manhã do quinto dia as manchas no pano eram tão poucas que sequer troquei o absorvente.

Apesar da dor que o vácuo causa para tirar o produto, as trocas são poucas, ele fica confortável no corpo, segura muito bem a parte mais crítica da menstruação sem fazer muita sujeira, dá agradável a sensação de secura, como se tudo estivesse normal. A pequena dificuldade em tirar e o trabalho de esterilizar compensam, foi de fato uma escolha acertada.

O coletor menstrual e os absorventes de pano, bem como todos os apetrechos que os acompanham, vão para a minha mochila no Caminho da Fé com carinho.


Meu sangue latino

minha alma cativa.”

Sangue latino, Secos & Molhados

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