domingo, agosto 07, 2022

“Bebida é água

 

Comida é pasto

Você tem sede de quê?

Você tem fome de quê?”


São paulo, 5 de outubro de 2020


Ontem, um domingo nublado na primavera fervente de 2020, caminhei até uma cantina italiana no Jardins com Guilherme. Nos encontramos 10 horas no metrô São Judas, fiz um tour com ele pelo Santuário de São Judas, o santo das causas impossíveis, atravessamos a Avenida Jabaquara, Avenida Domingos de Morais, Avenida Paulista, até chegar na rua Haddock Lobo e descer pouco mais de um quarteirão no lado do bairro Jardins até a Cantina do Piero il Vero. O trajeto deu pouco menos de 10 quilômetros. Com medo sobre a segurança, pedi carona para meu pai até o ponto de encontro, não quis ir a pé.

Foi dia de testar usar a bandana como balaclava, protegendo cabelo e rosto nesses tempos de coronavírus, onde todos são obrigados a andar mascarados. Não usei chapéu. A bandada tem fator de proteção solar 50, como toda roupa que uso quando peregrino. Também usei óculos de sol e creme protetor solar fator 30 no rosto e pescoço. Como balaclava. Guilherme ganhou uma vermelha e preta, tecido frio. Ótima para dias quentes. Queria que deixasse meu amigo ficar com marca de máscara?

Durante o trajeto, Guilherme preferiu usar a bandana mais como máscara do que como balaclava. Porque esquenta mais do que uma máscara, isso é fato, mesmo com tecido frio. Minha bandana é de algo similar a algodão, porém mais fino e com proteção solar. Senti a boca muito seca com o pano na cara. Não senti um calor insuportável na cabeça, estava morna, mais fresca que um chapéu. O tempo estava muito fresquinho, 23°, ajudou bastante no conforto do teste.

Conclusão: minha bandana serve para as peregrinações, principalmente em temperaturas amenas. Em temperatura amena tudo é uma maravilha, tudo funciona na caminhada. Levando em conta o uso de ontem, imagino que ela também me ofereça conforto no sol escaldante. Frio ela não me deixa passar nesse país tropical.

As pessoas nos estranharam. Eu parecia uma muçulmana, ele um bandido. Andar acompanhada de um homem usando balaclava dá segurança. Estamos em campanha eleitoral, somente ele recebeu panfletos ao longo do caminho. Ao que parece, muçulmanas não recebem panfletos. Na maioria do caminho ele estava com a cabeça descoberta, enquanto eu só tirei o pano da cabeça no restaurante.

No sábado, véspera da caminhada, foi dia de cuidar do rosto. Fiz esfoliação com borra de café, iogurte e limão; depois apliquei máscara de limpeza de pepino da Avon. Uma semana sem máscara facial e meu rosto começa dar espinha. Na véspera das peregrinações também separo o dia para tratamento completo de pele, ao menos facial. Dez dias antes da partida tem sessão de manicure e a imprescindível pedicure. Para começar a viagem na melhor forma. No caso foi apenas um exercício mais puxado.

Que saudade de caminhar! Desde março, última vez em que fui ao Parque da Cantareira, não encarava tanto chão. Dessa vez a maior parte da caminhada foi em terreno plano, definitivamente não é teste para o Caminho da Fé. Uma boa retomada de exercícios físicos.

Além das igrejas do Santuário de São Judas Tadeu, nós visitamos a igreja de Nossa Senhora da Saúde, na estação Santa Cruz; descobri que a saída da estação Santa Cruz com o colégio Arquidiocesano é ponto histórico de rap; pesquisamos artigos muito úteis na Decathlon da Avenida Paulista.

Meu irmão mais novo já trabalhou na região da Avenida Paulista e conhece bons restaurantes por lá. Acho uma boa ideia pesquisar se esses restaurantes abrem aos domingos e juntar os amigos para caminhar e almoçar. Ao menos no mês que vem quero repetir o trajeto que fiz ontem com Carolina, que não foi porque se recupera de uma cirurgia. Quanto mais gente melhor.

O pão da entrada estava muito gostoso, a manteiga veio em bolinhas e parecia queijo visualmente, tinha um sabor incrível, manteiga de verdade. Berinjela muito bem temperada e apimentada na medida, azeitonas pretas ótimas no tempero, o molho de sardela Guilherme disse estar ótimo. No momento, não como nenhum tipo de carne aos domingos. Pedi um Carpaccio, o que será? Carne crua fatiada bem fina, com limão, mostarda, couve e muito parmesão. Comi a parte que não era carne. Próxima vez peço uma Caponatta. As massas da cantina servem duas pessoas e muitíssimo bem servidas. Como adoro provar o que é novo pedi um Agnolotti, que são cappellettis grandes de massa verde recheados com ricota, nozes e uva passa. Foi o último do restaurante naquele dia. Molho ao sugo. Guilherme também ama uma ricota nas massas. E queijo! Não era molho com queijo ralado que tinha no prato dele, era queijo ralado com molho. Sem problemas! Quem come é quem manda no prato! Depois da massa não precisava de sobremesa alguma, mas a gente não pode deixar uma cantina italiana sem provar o clássico Tiramissu. Sabe-se lá quando volto num lugar desses, preciso aproveitar. Gente de Deus, que doce equilibrado! Creme suave, um toque amargo de café.

Depois desse almoço compreendi porque o movimento “Slow Food”, para comer de vagar e consciente sobre todos os ingredientes, começou na Itália. Eles têm muito material para isso!

Não faço ideia de quando poderei peregrinar de Águas da Prata até Aparecida. Não sei se até lá, como agora, continuaremos a usar máscaras no dia a dia. Os caminhos reabriram recentemente, o Caminho do Sol com grupos restritos a cinco pessoas, os demais não sei sobre os procedimentos de segurança.

Não sei os pormenores do futuro. Sei apenas que chegarei a pé em Aparecida do Norte, depois em Santiago de Compostela. Estou no rumo!


Desejo, necessidade, vontade

Necessidade, desejo (é)

Necessidade, vontade (é)

Necessidade”

Comida; Arnaldo Antunes, Sergio De Britto, Marcelo Fromer

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