quinta-feira, setembro 17, 2020

Estatística doentia - dia 8

Hoje foi o último dia afastada, amanhã retorno ao trabalho presencial. Sem exames. Os sintomas não se agravaram a ponto de precisar procurar um hospital. Não apresento sintoma algum no presente momento. Porém esse diário não termina hoje.

Como participo da pesquisa da USP sobre os anticorpos da COVID, voltarei a escrever nos dias em que coletarem meu sangue. Se tudo ocorrer bem, a cada três meses escreverei algo sobre meus dias. A pesquisa dura um ano. Espero que nada me leve a desistir de participar nesse tempo.

Quando jovem queria muito ajudar desconhecidos com minha saúde, ajudar os outros só por estar bem. Minha alegria foi doar sangue com 19 anos, não encontrei companhia para doar antes. O problema é que das vezes que tentava doar sangue a quantidade de ferro na maioria das vezes era baixa, eu não estava anêmica mas possuía pouco ferro no sangue. Quando me sentia melhor, convidava alguns amigos para doar comigo: eles doavam, eu não - pouco ferro no sangue. Depois comecei a tomar remédio continuamente e hoje não há mais esperanças de voltar a doar sangue; meu remédio é para o resto da vida, meu mal é incurável. Monitorável, controlável, porém incurável.

Entretanto reparei que hoje em dia doo vibrações: sentimentos de amor, paz, harmonia, recuperação, cura. Isso faz uma diferença danada na vida das pessoas também, embora não seja visceral como o sangue. Minhas doações são indolores, não me causam nenhum dano, e muito mais rotineiras: posso doar todos os dias, ao rezar o Evangelho no Lar; doo nas reuniões virtuais espíritas em que participo – são três durante a semana. Posso me tranquilizar porque estou fazendo o bem sim a muita gente desconhecida, como queria aos 19 anos, e ninguém precisa do meu sangue ou dos anticorpos do meu plasma para se salvar.

Quem pode, desfrute do privilégio e da alegria de doar sangue. Distribua sua saúde a quem precisa. Se pegar COVID e se curar, doe plasma com anticorpos depois. Eu não posso fazer essas coisas, ajudo o próximo de outra forma.

O isolamento trouxe-me dias de muita ludicidade sim, mas também de muita reflexão. Amanhã volto pronta para construir uma nova realidade. Chega de floreio, distrações imediatas. Se eu não caminhar rumo aos meus objetivos mais sérios, minha vida continuará patinando.

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