sábado, fevereiro 23, 2019

“De que me adianta

viver na cidade
se a felicidade não me acompanhar?”

São Paulo, 5 de novembro de 2018
Hoje é aniversário do meu pai, mas já cantamos parabéns para ele ontem, domingo. Hoje é feriado em Itapetininga, de onde vieram ontem meu irmão mais velho e a esposa. Foi uma boa tarde de domingo, com modas de viola para agradar meus pais. Minha cunhada canta bonito! Nas conversas ela se mostrou uma ótima pessoa, meu irmão soube escolher bem a pessoa com quem quer passar o resto da vida.
No fim de semana anterior, dia 27 de outubro, foi véspera do segundo turno das eleições presidenciais. Caminhei 15 quilômetros com os amigos do Caminho do Sol por Jundiaí. Convidei Silvana e Lisandra para o passeio, elas recusaram porque são mesárias nas eleições e a programação terminaria com um concerto à noite; Guilherme não deu certeza de nada, essa falta de resposta me fez não contar com ele, considerando principalmente que o amigo mudou de emprego e ganhou uma rotina puxada.
O percurso partiu do Jardim Botânico de Jundiaí, juntou com o Parque da Cidade, que fica ao lado da represa e possui até área de aeromodelismo, passou por estradas de terra até chegar na fazenda Nossa Senhora da Conceição, uma antiga fazenda cafeicultora que hoje planta outras culturas, possui construções do tempo da colonização italiana e o restaurante que serve comida caseira. Descobri que risoto italiano das mamas é simplesmente arroz de forno, não esses risotos cremosos de chefes de cozinha. Almocei uma truta com Nadir e Solange. Depois visitamos o museu da FEPASA em Jundiaí, onde Artur fotografou peregrinas nos trens do pátio. Concluímos que o museu e os trens sofrem com abandono, que só é melhor do que descaso. Não é de hoje que o país sofre silenciosamente com falta de atenção para preservar e manter história e cultura. Por que será que “nos deram espelhos e vimos um mundo doente” como canta Legião Urbana em Índios?
Depois do museu, Nadir ofereceu a casa para as peregrinas tomarem banho. Todas mudaram bem o visual, menos eu, que troquei uma calça bermuda de camping e blusa de manga comprida por uma calça leggin e baby look de algodão do Doutores da Alegria. Como esfriou continuei com meu casaco fleece laranja que uso na caminhada. Um visual para andar no bairro, ainda mais porque não usei maquiagem. Fomos assistir o pré-concerto, onde Daniel, músico que mora em Jundiaí e é filho de Artur, explicou a uma plateia o que é uma sinfonia, quais as partes que geralmente contém, que suas partes são chamadas de movimentos, que em 1800 o povo adorava escutar esse tipo de música nova. Depois ouvimos a 9ª Sinfonia de Beethoven, cuja parte mais famosa é a última. Essa parte inovou porque possui canção, letra. As outras partes me passaram leveza e calma, essa última uma alegria festiva. A sinfonia inteira é alegre. 1h30 de música clássica. Depois comemos pizza e Artur me deu carona para chegar 4h da manhã de domingo em casa. Levantei para votar 12h, muito feliz e confiante pelo dia anterior.
Para chegar em Jundiaí peguei carona com Fernando, outro filho do Artur. Também estavam no carro a Vó, e conheci Cristina, que é enfermeira em casa de custódia. Ela não votou no segundo turno porque estava de plantão. Comentou-se que as eleições dividiram muitas famílias, mas a minha não sofreu com isso porque meu grupo de irmãos mal possui manifestações, ninguém quis falar nada sobre política. Como pessoa mais ativa do grupo postei fotos antes e depois de comprar uma base nova, essa foi minha manifestação no período eleitoral. Depois meu irmão mais velho festejou a vitória de Bolsonaro e eu o lembrei do dever de mudar a zona eleitoral para poder votar nas próximas eleições – como disse no início da carta, ele mora em Itapetininga.
Achei que 15 quilômetros seriam fáceis, ainda mais sabendo que a maior parte do percurso era plano. Nessa caminhada não aprenderia nada. Quanto engano! Não foi uma rota difícil, mas por estar meses longe de academia, senti meus tornozelos no dia seguinte. Nas poucas subidas meu coração batia mais devagar. O tempo estava nublado e decidi não usar luvas com proteção solar: queimei as costas da mão esquerda. Comprei um poncho plástico para chuva e gostei de usá-lo na garoa e chuva fraca que apareceu no caminho. Poncho é bem mais fresco do que capa de chuva, não me senti um lixo. Uma cachorra preta nos acompanhou pela estrada de terra até o restaurante. Amigas ficaram com pena de se separar dela, enquanto eu dizia que era natural, que ela ia se virar, só não dizia que gostei da companhia da bichinha durante a caminhada, me deixou feliz.
Escutei comentários sobre os diversos lugares por onde os colegas peregrinos passaram, Artur compartilhou fotos lindas, soube que Camila está adorando fazer pós graduação e arteterapia. Nesse passeio vivenciei o que me cabia, tirei poucas fotos (44, enquanto Artur tirou 150), aprendi sobre meu corpo, conheci um pouco mais os amigos. Não peregrino em busca da melhor foto, querendo encontrar a melhor paisagem, não me ligo em imagens. Me importo com as sensações que experimento, com a parte da vida que as pessoas dividem comigo. Não nasci para fotos, nasci para relatos emotivos.
Semana passada assisti aula online sobre depressão e descobri que tive essa doença e seu ponto alto foi a crise catatônica em 2011. Domingo de manhã assisti palestra sobre depressão na Federação Espírita do Estado de São Paulo e descobri que o tratamento passa por autoconhecimento, evangelização, pensar em si e no próximo. Peregrinações possuem esses componentes, por isso Osvaldo sentiu-se melhor ao finalizar o Caminho do Sol em 2017. Sem saber o que tinha ao certo, meu tratamento com evangelização começou em 2012; é nos tratamentos e cursos da Federação Espírita onde repenso a minha vida para seguir no caminho do bem tão exemplificado por Jesus. Hoje não tenho depressão porque adquiri o hábito de pensar em mim e no próximo com amor. A peregrinação nas férias é só mais uma forma prática de apreciar e vivenciar a passagem da vida. Eis a lição que os depressivos precisam aprender: como apreciar e vivenciar bem a passagem da própria vida.

Adeus paulistinha
do meu coração
lá pro meu sertão eu quero voltar”
Saudade de Minha Terra, Goiá

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