domingo, outubro 04, 2015

MAC

São três letras, às vezes duas
entram na cabeça com o mesmo som que se mastiga
MAC
comida rápida e importada
se esfriar fica estragada
sabores milimetricamente elaborados
sintetizados e industrializados
nessa jogada entra até salada
mas o filão é hambúrguer e pão
batata, que gostosura, pura fritura
quanto maior melhor
come, se empanturra
que a vida é um sopro, a vida não dura
o que importa é o agora, o sabor da hora

São três letras, às vezes duas
entram na cabeça ao som de uma peça quebrada
MAC
uma maçã importada
branca ou prateada
dificilmente fica bichada
fruto exclusivo, especial
de plástico, vidro e metal
em máquinas de falar, escutar, acessar
gráficos e linhas curvas para se comunicar
ferramentas para desenhar o que você imaginar
mesmo que por si só você mal consiga se expressar
sem que precise o sistema instalar
use seja ouça diga tenha more gaste viva

São três letras, às vezes duas
entram na cabeça ao som de um beijo estalado
MAC
pintura importada
para colorir sua cara deslavada
se o produto é bom nem te falo
o certo é que é tudo caro
alta qualidade na avenida mais famosa da cidade
fama, grana, glamour
dá vontade de ir na loja fazer um tour
entrar descolada, provar tudo e levar nada
cosmético, maquiagem, arte
beleza por toda parte
apelo visual num mundo cada vez mais virtual
imagem não é nada?
que nada!


São três letras, às vezes duas
grudam na cabeça como chiclete
MAC
arte contemporânea num prédio de Niemeyer
arte viva, mal catalogada
num museu pode ser divulgada
em nove exposições de uma vez
a arte espera a sua vez
de ser mais atraente que o parque vizinho
mais marcante que um rosto bonitinho
mais útil que um computador
e ser saboreada com amor
sem pressa e sem frescura
sem caloria e sem gordura
num mundo imediatista e momentâneo
que se esperar demais deixa de ser contemporâneo.

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