segunda-feira, novembro 17, 2008

CARA ESTRANHO
(Marcelo Camelo)

Olha só, que cara estranho que chegou
Parece não achar lugar
No corpo em que Deus lhe encarnou
Tropeça a cada quarteirão
Não mede a força que já tem
Exibe à frente o coração
Que não divide com ninguém
Tem tudo sempre às suas mãos
Mas leva a cruz um pouco além
Talhando feito um artesão
A imagem de um rapaz de bem

Olha ali quem tá pedindo aprovação
Não sabe nem pra onde ir
Se alguém não aponta a direção
Periga nunca se encontrar
Será que ele vai perceber
Que foge sempre do lugar
Deixando o ódio se esconder
Talvez se nunca mais tentar
Viver o cara da TV
Que vence a briga sem suar
E ganha aplausos sem querer

Faz parte desse jogo
Dizer ao mundo todo
Que só conhece o seu quinhão ruim
É simples desse jeito
Quando se encolhe o peito
E finge não haver competição
É a solução de quem não quer
Perder aquilo que já tem
E fecha a mão pro que há de vir



PARA O CARA ESTRANHO
(ou VOCÊ NÃO SINCRONIZA)

Você que é tão ímpar
que não encontra par
me diz a sensação
de não sincronizar

Acha que ficar boiando
é o mesmo que nadar?
Sua devoção clemente
vai um dia lhe afogar
sua obediência paciente
serve pra lhe aprisionar

Se aprendeu no caminho
que é fácil andar sozinho,
poha logo o pé na estrada
e esqueça de me chamar:
você vive muito longe
e adora se protelar

Você nunca sincroniza
quando tenta acompanhar
não sabe que não precisa
de muleta para andar.

Obs.: Escrevi essa poesia há mais de dois anos. Até agora ninguém leu.

5 comentários:

Anônimo disse...

Que lindo, Alê!! Minha amiga poetiza... Agora eu li! Beijos

Anônimo disse...

Caramba, que coisa! Gostei! Por que guardou tanto tempo?

Uma das melhores coisas que já escreveu, sem dúvida!

Beijos.

Anônimo disse...

" Você que é tão ímpar
que não encontra par
me diz a sensação
de não sincronizar"

A-d-o-r-e-i!

Vê se desencava mais coisas que ninguém leu e nos presenteie!

;o*

Conrado AtalhoS disse...

gostei hein, parabéns

Anônimo disse...

Respondendo a Verônica: guardei o texto porque o sentia pessoal e presente demais. Ainda é pessoal, mas não tão presente: já foi superado, já é passado. O cara estranho - o "você" do meu poema - na verdade é meu ego. Felizmente o leitor pode colocar qualquer um no lugar desse pronome, pra se deliciar com a abobrinha. Interpretação é tudo de bom!