quinta-feira, outubro 05, 2006

VOCÊ FOI CONVOCADO PARA SER MESÁRIO NAS ELEIÇÕES – não jogue uma rodada.
Parte III

Primeiro de outubro. Meu primeiro dia como funcionária pública. Acordei cedo, tomei café, prendi meu lenço do Brasil na cabeça e fui pra zona. Dez para sete da manhã e só eu na sala.

Chegou Sandra, a primeira mesária. Ela trabalha desde 2004 e explicou tudo que perguntei. Depois veio o Alberto, que era segundo mesário; a suplente que esqueci o nome; Susana, a primeira secretária; Marcelino o presidente da mesa. Eram três iniciantes e três que sabiam como as coisas funcionavam, no fim das contas não fiquei na porta da zona como imaginava.

Haviam três coisas a serem feitas, formou-se três duplas, cada uma com uma novata. A suplente e o presidente na porta, verificando se o eleitor não estava na seção errada e se já possuía os números dos candidatos. A primeira mesária e a primeira secretária ficaram com os cadernos dos comprovantes de votação, elas procuravam o nome do eleitor. O segundo mesário digitava na máquina ligada à urna o número de inscrição do eleitor que eu ditava. No papel, minha função era de segunda secretária, mas não me importei de ajudar a digitar.

A urna imprimiu a primeira lista com todos os candidatos, mostrando que não havia voto algum nela. Todos da seção assinaram. Oito horas começaram as votações. Fui uma das primeiras a votar. De repente passa um avião, um barulho de dar medo, parecia que a escola ia desmoronar, pensei num meteoro se aproximando da Terra. Com o passar do tempo acostumei com o barulho. Um moreno tatuado queria votar em branco o mais rápido possível. Pra quê tanta pressa e brutalidade? Vai entender... quando o primeiro cego apareceu na seção deu vontade de parar e olhar até ele sair. Votou no ritmo normal de todo mundo, até mais rápido que alguns eleitores que esqueciam de anotar todos os números. Uma senhora semi alfabetizada demorou para assinar. Um eleitor usou o polegar. Outra votou e perdeu o comprovante, voltou na seção pra saber se conseguia outro mas não teve como. O número dessa eleitora apareceu na ata que o presidente escreveu no fim da apuração. Muitas grávidas durante o dia, um cara de muleta votou antes das dez. Logo no início apareceu um fiscal do PMDB e desenrolou a primeira lista dos candidatos. Foi obrigado a dobrar tudo de novo. Outra fiscal do PMDB ficou um tempão parada na sala olhando a votação, parecia em transe.

Antes do final houve horário de almoço. Começou onze horas, justo quando começa a juntar mais gente pra votar. Saímos de dois em dois, onze horas, meio dia e uma hora. Quando voltei fiquei digitando os números dos eleitores. Ninguém reclamou, de tarde eu até cantava e ria feliz da vida. Ria de mim, deveria detestar e estava achando até bom tudo aquilo. Conversei com toda equipe, o povo é meio calado, ninguém fala pelos cotovelos. Será que meu humor irritou alguém? Tomara que não.

Cinco horas soou a sirene. O presidente da mesa digitou um código na máquina. A urna começou a imprimir a primeira via da apuração dos votos. Todo mundo na sala assinou as cinco vias. A quarta o fiscal do PMDB pegou. Aquele mesmo, que no início do dia desdobrou a lista de quinze metros que dobráramos antes de começar o processo. A quinta via foi pregada na porta. Na minha seção: 70 pessoas não compareceram, Suplicy venceu como senador, José Serra como Governador, e Geraldo Alckmin como presidente.

4 comentários:

Ana disse...

Concordo com você em gênero, número e grau. Como pode ser democracia se somos obrigados a ir lá? Talvez as coisas fossem diferentes se só votassem as pessoas que realmente se importam com isso. Se bem que - é, haveria também muitos votos comprados, não tenho dúvida. Mas ainda assim é melhor que votar obrigado.

Abraços, bom final de semana!

Ana

Ana disse...

AAAAH! Escrevi na sua janela um comentário a outro blog! E não tenho como apagar! Desculpe a nossa falha. Também, o rapaz falava exatamente do mesmo assunto, só que tratava da obrigatoriedade do voto. O seu foi outro dever cívico.

Pois é, o Serra. Aqui no Rio não sabemos, ficou entre a cruz e a caldeirinha. Vamos ver no que dá.

Beijos. Me visita quando der!

Ana

Anônimo disse...

Bom!!! Ainda bem que você gostou, eu teria odiado.

Bjs!

Anônimo disse...

ter de ir à Zona em dia de eleição é uma boa opção se é que vc me entende