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essa nova categoria de diário esclarecendo que meu público-alvo sou
eu mesma. Este é um diário pessoal, num espaço pessoal, feito
simplesmente para suprir minha necessidade de me expressar. Como está
na internet, quem conhece o endereço pode ler, comentar, essa é a
abertura que dou aos raros interessados; porém a essência é a
mesma de um primitivo diário de papel.
Começo
a escrever em meu 16º dia de quarentena devido a gripe COVID-19.
Antes disso não tive vontade de produzir abobrinhas, não pretendo
escrevê-las com periodicidade regular. Estou com meus pais, todos
razoavelmente bem, sem complicações.
No
início de março minhas férias esse mês estavam muito bem
planejadas, embora os recursos financeiros fossem fazer falta depois.
Entretanto estava tudo devidamente calculado e planejado. Na
segunda-feira terminei de reservar todas as pousadas do Caminho da
Fé, por onde peregrinaria a pé entre os dias 7 e 22 de abril. Porém
no fim daquela semana o Estado de São Paulo entrou em quarentena por
15 dias. Durante aquela semana percebi que era necessário traçar um
plano B para as férias, comprei linhas para crochê na quinta-feira;
na sexta-feira a loja estava fechada e eu cancelava as pousadas que
havia reservado já no meu primeiro dia afastada do trabalho.
Desde
o dia 20 de março todos os funcionários da divisão estão em
trabalho remoto, exceto eu, que fui orientada a completar 3 cursos
online gratuitos durante a quarentena. Completei-os antes do início
das minhas férias. Escolhi todos da plataforma da FGV, achei muito
bons e desafiadores. Aprendi sobre o Sistema Tributário Nacional; um
pouco sobre BSC, que é uma forma de gerenciar a estratégia
empresarial tão útil que todo sistema administrativo público
precisa usar – é sério, o governo está obrigando a máquina
pública entrar nesses moldes; e motivação nas organizações. O
que me fascinou no curso de motivação foi descobrir que a motivação
é algo interno, parte de cada indivíduo, o que o campo externo pode
fazer é contribuir com estímulos.
Comecei
a marcar os dias que passavam no calendário com um X no 3º dia de
quarentena. Os dias parecem todos iguais, todos domingo.
Pensei
que varreria o chão todos os dias; faria exercícios físicos; leria
1 capítulo de “O Grande Enigma”, de Leon Denis, por dia; leria 5
revistas digitais da editora Abril; voltaria a estudar inglês;
arrumaria o guarda-roupa; tiraria o pó da casa toda uma vez por
semana; faria crochê. De toda essa expectativa estou varrendo o chão
uma vez por semana e fazendo crochê. Das revistas pelas quais me
interessei faltam ler alguns poucos artigos da primeira.
Faço
café da manhã para meus pais. Desde o dia 18 nós três tomamos
vitamina C diluída em água aromatizada de anis estrelado. Ao invés
de pão, preparo tapioca para eles na frigideira menor, de um ovo. O
recheio varia entre requeijão e margarina. Eu mesma como tapioca no
máximo 1 vez por semana, geralmente tomo vitamina de iogurte de
Kefir com fruta e chia; tem dias que tomo leite com chocolate e uma
fruta, outros como banana quente com chia, além do cafezinho preto
sem açúcar.
Depois
do café da manhã trato da gata e dos passarinhos, e estão acabadas
minhas obrigações matutinas. Depois disso estudo se é meio de
semana, varro a casa se é sábado. Comecei a escrever esse diário
depois de varrer a casa. Quem lava a louça do café da manhã é
minha mãe.
Minha
mãe faz o almoço, geralmente eu lavo a toda a louça. Depois é
hora de fazer crochê, assim não durmo. Depois leio as folhas de
jornal que colocarei para os passarinhos, gosto de ler. Leio um
capítulo de “O Grande Enigma”, volto a estudar, assisto vídeos,
olho redes sociais, até dar 17 h, que é quando tomo remédio. Tomo
banho, coloco os passarinhos para dormir, continuo lendo, a gente
janta e mais ou menos 21h30 nos reunimos na sala para rezar.
Faço
uma oração, sempre agradecendo o dia e pedindo suporte para a área
da saúde e do governo contra a pandemia; leio e comentamos um trecho
de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, de Allan Kardec; rezamos
o terço do dia, que minha mãe puxa. Com o passar do tempo, deixei
de rezar o “Credo” do terço porque não condiz mais com minhas
crenças. Enquanto meus pais rezam “Creio em Deus pai...” eu oro
mentalmente pensando em que Deus acredito e como o mundo pode
melhorar. As outras orações do terço encaro como mantras, e sempre
ao final dos mistérios quando pedimos para Jesus “levai as almas
todas para o céu e socorrei principalmente as que mais precisarem da
vossa misericórdia” penso em quem está morrendo naquele exato
momento. Assim terminam meus domingos, digo, meus dias.
A
providência divina fez com que meu irmão mais velho, que mora em
Itapetininga, nos visitasse ontem para tomar café da manhã depois
de buscar remédios do sogro com a cunhada. Entreguei os presentes
que fiz para ele e a esposa, além do que fiz para a sogra dele. Não
precisei enviar meu artesanato em crochê pelos correios. Dos
trabalhos em crochê que tenho feito, a prioridade são presentes
para amigas, depois virão as peças para mim.
Mesmo
com tempo, não fiz a limpeza de março no meu guarda-roupa e
desconfio se quero mesmo chegar nas 70 peças. Nos próximos dias
tentarei tirar mais algumas peças, porém desconfio que a quantidade
que possuo já está bem confortável e enxuta.
Depois
de anos protelando, encontrei bons motivos para comprar uma cadeira
decente para minha escrivaninha e substituir a de encosto quebrado e
pés fixos. Quando a ganhei o encosto não estava quebrado, é o
único móvel que não escolhi no meu quarto. A cadeira nova tem
rodinhas e chega semana que vem.
Além
dos 3 cursos que fiz, a FGV tem mais 15 que achei interessante.
Assunto para estudar não me falta, sem contar que encontrei mais um
concurso público para chamar de meu, com prova em julho. 2020 parece
ser o ano da cultura e do conhecimento. Esse ano descobri podcasts em
língua estrangeira, podcasts de notícias, o curso espírita sobre o
livro “O Grande Enigma” é enriquecedor, e na quarentena consumo
mais e mais cultura e conhecimento.
Utilizo
a quarentena para aumentar minha bagagem intelectual e expandir meus
horizontes. Novos tempos se aproximam. Até o Papa implora por novos
tempos, estou certa de que nascem a cada alvorada.
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