No sábado voltava de ônibus para casa com uma sacola de supermercado – comprei por impulso uma fôrma de silicone, a primeira desse tipo a ser levada para casa. Um bonitinho me oferece lugar. Arregalo os olhos e digo que não, não preciso. Minha sacola estava volumosa porque além da fôrma de bolo tinha uma blusa de frio, mas nada pesada. O ônibus não estava cheio a ponto do volume da sacola incomodar, e se a sacola incomodasse era só se oferecer pra segurar a sacola, não precisava oferecer o lugar. Um absurdo espantoso essa oferta.
No ponto seguinte a passageira da janela desce, eu sento. Passados três minutos pergunto ao rapaz de vinte e poucos (deveria ter essa idade ou menos, teclava no celular usando os dois polegares) se ele havia me oferecido lugar porque achou que eu estivesse grávida. Ele respondeu que não, que me ofereceu porque eu era mulher e talvez estivesse voltando cansada do trabalho. Disse que normalmente oferece lugar pras mulheres. Fiquei feliz em saber que não pareço grávida, não estou tão gorda a ponto de parecer. Disse ao moço que não voltava do trabalho.
Eis minha reação quando me oferecem lugar no transporte público: recusar desesperadamente porque não estou grávida, não carrego criança de colo, não tenho deficiência física, não quebrei nenhum osso, não tenho mais de sessenta anos. Enfim, recusar porque não preciso. Mas a primeira coisa que me vem na cabeça com uma oferta de lugar é que a pessoa me achou tão gorda que pensa que estou grávida. Não vejo uma gentileza, vejo uma ofensa.
Mulher não precisa viajar sentada simplesmente por ser mulher, porque o fulaninho a achou bonita e quer ceder o lugar. Precisa viajar sentado quem tem algum problema físico, ou se acidentou e tem problema de mobilidade, ou sofre com o peso dos anos, ou com o peso de mais alguém. Tantos motivos mais sensatos para ceder lugar e os cavalheiros cedem às damas porque elas são mulheres. Isso não me passa, não sou tão frágil a ponto de precisar de lugar.
Para alegria do moço, não falei a ele o que penso sobre o ato de cavalheirismo. Depois que desci do ônibus reparei que o que incomoda mesmo é o preconceito por trás da gentileza. Quem se acostuma com as coisas do jeito que são, não se importa, até acha bom; mas quem questiona os bons costumes acha o mundo cada vez mais estranho e sem lógica. O mundo é maluco. E olha, eu não sou daqui.
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