Lírio da paz não aguentou
trabalhar o tempo todo do meu lado. Desde a última quinta-feira ele
passa as manhãs tomando sol na cômoda, vem para o meu ladinho
somente depois do almoço. Ele é estagiário, trabalha meio período.
Final de semana ele se liberta: passa o tempo todo fora e só aparece
na minha escrivaninha segunda-feira depois do almoço. Ele
envelheceu, as folhas amarelas foram podadas. Agora ele está bem,
cheio de energia com a chuva do fim de semana.
Baixei
aplicativos na TV, que não funcionaram. Isso me motivou a baixar
aplicativos semelhantes
no celular. Um de
caraoquê,
outro de yôga. Desde
sábado me canso mais com os cinco minutos de yôga. nível 1 do
aplicativo do que com os dez ou quinze minutos de caminhada no
stepper que faço antes. Desde sábado rio da minha voz, percebo o
quão difícil é cantar, azucrino os amigos com minhas gravações.
Felizmente enviei
apenas uma música a
eles; mas já gravei
cinco canções,
incluindo a canção teste – que não foi “Meu limão meu
limoeiro”, que vivo cantando ao tratar dos passarinhos, mas
“Alecrim Dourado”.
Ontem
fiz xampu e óleo facial, o que me deixou muito animada. No início
da semana o plano era apenas fazer o xampu, mas vi a receita de óleo
de babosa durante a semana e resolvi fazer.
Meu
hidratante noturno era azeite de oliva com óleo essencial de
laranja. Ele acabou faz um tempo, precisava repor. O óleo de babosa
(Aloe Vera) é feito de um dia para o outro. Preparei no sábado,
domingo estava pronto. Separei os 30 ml do frasco do
hidratante noturno. Como era outro óleo nem lavei antes, coloquei
direto, depois pinguei o óleo de laranja. Aloe Vera já tem vitamina
C, acrescentei mais com a laranja. O
óleo tem também muita
vitamina E, e um perfume suave muito agradável, mal lembra o cheiro
do gel da planta ao natural. Fiz o teste alérgico desse óleo
noturno e tudo bem, começo a usar hoje
a noite no rosto.
O
xampu tem por base caroço de abacate. Ralado, depois fervido, por
fim coado depois de frio. Depois que começou a ferver baixei
o fogo e acrescentei os
ingredientes opcionais: sabão de coco, vinagre, óleo essencial (só
tenho de laranja), óleo de Aloe Vera. Mexi
por cinco minutos. Depois esperei esfriar e coei. Rendeu 500 ml,
sendo que havia colocado 600 para ferver junto com o caraço de
abacate. O óleo de Aloe Vera na receita não foi indicação de
ninguém, coloquei porque hidrata e amacia os cabelos, e
principalmente porque sobrou do hidratante facial e não havia
quantidade suficiente para transformar em hidratante corporal. Não
queria mesmo muito óleo, uma folha grande de babosa rendeu
100 ml.
O
xampu deixa o cabelo bem perfumado, até o início da manhã ainda
sentia o suave cheiro de sabão de coco. Aquele cheiro atraente da
barrinha de sabão de coco no mercado: suave, sem exagero. O xampu
não faz espuma mas limpa profundamente, as pontas dos meus cabelos
amanheceram ressecadas. Yamasterol
clássico entrou em cena como creme de pentear, usei só nas pontas.
Normalmente não tenho paciência para usar cremes de pentear nem
hidratações capilares, uso somente quando precisa.
Tudo
isso significa que, para minha alegria, comecei a usar um xampu de
babosa sem parabenos, além de já usar um condicionador com as
mesmas propriedades. Meu cabelo tem tudo para crescer saudável com o
brilho e a maciez da Aloe Vera.
O
processo de fazer os próprios cosméticos, envolvendo mais do que
simplesmente comprar e misturar os ingredientes, foi muito
enriquecedor. O produto
final tem outra importância porque acompanhei e cuidei de cada
componente.
Levou-me
a perceber que horta é algo essencial na minha casa, item que me dá
uma qualidade de vida imensa. Foi bom descobrir mais
esse tipo de artesanato, dessa vez envolvendo mais ciência e estudos
do que as peças de crochê, que trabalham com lógica espacial.
Incrível como a
vaidade e a busca por uma vida mais econômica me levou a ter mais
contato com a natureza. Levou-me
ao contato com a
parte primitiva das coisas.
Quem
mora no campo está acostumado em fazer por si mesmo quase tudo que
precisa. Reclama do trabalho que dá e vê o povo da cidade com a
facilidade de encontrar grande
variedade de produtos. Raras pessoas que moram nas cidades se
importam com o processo de fabricação dos produtos que consomem, ou
os reais componentes deles – coisa que um morador rural sabe. Raros
produtos da imensa variedade oferecida nas cidades foram criados
especialmente para um consumidor específico, isso ocorre nas
farmácias de manipulação (embora muitas fórmulas sejam genéricas)
e nos restaurantes.
Por
isso para alguém da cidade é muito mágico descobrir todo o
processo de fabricação de algo, é um contato com a realidade do
qual sempre estivemos privados. Tem
quem fique horrorizado com as crueldades dos processos de produção,
principalmente se
envolver carne; outros
se apavoram com os venenos, a degradação ambiental; os
hipocondríacos se alucinam com a toxidade de tudo que consumimos, o
quão mal pequenas quantidades rotineiras podem nos fazer a longo
prazo. Desse choque surgem os militantes vegetarianos e veganos, que
tudo que queriam no início de suas buscas era uma vida mais
saudável. Cada um tem
seu tempo, suas questões mais pertinentes. Ninguém
precisa militar
feericamente uma causa o
tempo inteiro, porém é graças aos militantes que sabemos que
existem alternativas.
A
quarentena me leva a consumir menos, a me relacionar mais com meus
pais, os animais, as plantas, e comigo mesma. Esse é o microcosmo do
meu 81º dia de isolamento social.
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