Hoje
tem um sol diferente no céu
Gargalhando
no seu carrossel
Gritando
nada é tão triste assim...”
São
Paulo, 6 de maio de 2019
Ontem
foi dia de cozinhar para as amigas. No domingo anterior dei duas
opções para Silvana e Luzia, elas preferiram lasanha de berinjela
em vez de macarrão com brócolis. O acompanhamento foi frango frito
e cidra sem álcool, parecia comida de ano novo. Sábado à noite
preparei bolo de café para servir no café da tarde. Luzia trouxe
pão australiano (que é preto e com mel) e sequilhos com goiabada.
Para completar o café servi patê de berinjela e café preto com
opção de colocar açúcar ou adoçante. De café entendo muito bem
porque preparo todo dia para mim e meus pais. Resumindo: pelos meus
dotes culinários apresentados domingo posso casar duas vezes. Não
cultivo a menor expectativa de casar, se encontrar um moço
interessante a situação muda de figura, porém confesso que será
um pouco difícil para quem busca se realizar de outras formas.
Carolina
foi a primeira a chegar de carro, depois de participar de uma
caminhada de 10 Km que ela promoveu com o Centro de Práticas
Esportivas da USP. Silvana e Luzia fizeram turismo pelo Jabaquara
porque vieram a pé da estação e saíram pelo terminal rodoviário
errado, levaram uma hora para chegar.
Com
Carolina conversamos sobre peregrinações, ela me convenceu a usar
fralda de pano como toalha já no Caminho da Fé, em vez de esperar
para testar o equipamento em Santiago. Eu estava tão feliz com o
encontro, planejar o Caminho da Fé, saber mais sobre o percurso,
saber mais sobre Santiago e outras rotas que Carolina fez! Ela foi
convidada só pra dar pitaco na nossa viagem e preparar
principalmente Luzia, que começa a peregrinar nessa viagem. Carol se
dispôs a emprestar equipamentos pra Luzia, assim ela não precisa
gastar tanto no início sem saber se vale a pena repetir a
experiência em outras rotas.
Não
é todo mundo que cisma de chegar em Santiago de Compostela, planeja
duas peregrinações anteriores no Brasil, já vai para a terceira e
sempre começa confiante de que conseguirá concluir qualquer
percurso que vem pela frente. No Caminho da Prece a dúvida era como
meu corpo se comportaria, nunca foi se conseguiria concluir a
caminhada – até porque durava apenas três dias. Não tem jeito,
não consigo duvidar da minha capacidade antes do início e custo dar
o braço a torcer e desistir durante a viagem. Custo até admitir que
fico perdida, sou uma vítima da minha distração.
No
dia anterior ao almoço enviei foto de faixa elástica de compressão
que substitui joelheira. Pode ser amarrada também no pé ou no
cotovelo. Pesquisei preços, e vi que o melhor é o do quiosque do
shopping Boulevard Tatuapé, onde almoço depois de pintar unhas no
asilo. Carol contou que nunca usou joelheiras na viagem porque tem
medo de que esquente demais. O par de faixas está na minha lista de
itens da mochila, porém esse mês quero investir em absorvente
ecológico para saber se me acostumo e se vale a pena usar na viagem.
Eu,
Luzia e Silvana concordamos que durante a viagem o melhor é
manter-se no campo de visão. Quem vai mais a frente deve de vez em
quando olhar para trás e ver a amiga. Decidi andar com alarme no
celular para lembrar de olhar para trás a cada 15 minutos. Sem
contar as paradas em bifurcações e pontos em que tiver dúvida.
Estava
indecisa sobre a penúltima pousada, que ficava 50 Km distante da
anterior. Pensei que precisaríamos adicionar mais um dia na viagem,
porém Luzia sugeriu escolher como penúltima pousada uma em Ribeirão
Grande, bairro de Pindamonhangaba. No papel fica 24 Km de Aparecida,
esse percurso conseguimos cumprir em um dia. Depois do encontro,
conversando com a pousada Chácara Dois Leões, descobri que a
distância dela até o final é de 32 Km. A atendente disse que esse
percurso é menos acidentado.
Entre
Piracuama e Ribeirão Grande, dois bairros de Pindamonhangaba, há
duas opções de caminho: pelo bairro Mandu tem 28 Km no asfalto;
pelo bairro das Oliveiras tem 22 Km de terra, incluindo a Trilha das
Borboletas e seus 5 Km de nível difícil, muitos morros. A atendente
se disse gordinha sedentária e contou que sobreviveu à Trilha das
Borboletas, também elogiou a sinalização da trilha e sugeriu parar
na Casa da Dona Eva para fazer um lanche e quem sabe até pedir guia
ou que mulas carreguem nossas mochilas pela trilha até a Chácara
Dois Leões.
Um
ponto levantado durante o almoço é que bebida alcoólica anestesia
o corpo. Carol contou que uma vez durante o Caminho de Santiago
sentia tanta dor no corpo que depois que experimentou um Tinto de
Verano as dores durante a caminhada pararam e todo dia ela bebia uma
caneca de meio litro (ele é servido em canecas generosas mesmo) para
caminhar. Tinto de Verano (ou tinto de verão pra quem fala
português) é um drinque com vinho tinto, refrigerante e muito gelo.
Carol comentou que enquanto o Caminho de Santiago tem muito vinho, o
Caminho da Fé tem muita cerveja e cachaça local.
Refleti
e decidi me manter abstêmia por motivos ideológicos e médicos.
Estranho minha mania de respeitar mais os motivos médicos do que os
ideológicos. Já sei bastante das influências negativas que drogas
causam no espírito e corpo, sei da minha sensibilidade nesses
campos. É melhor viver abstêmia, consciente de si mesma, consciente
das dores. Buscar expandir a consciência em vez de deturpá-la.
O
que preciso agora é não cabular a parte de musculação do treino
nunca mais. Os morros do Caminho da Fé não perdoam. Um alerta da
Carol foi o culto ao sofrimento que os romeiros fazem, que pagam
promessa e acreditam que se não sofrer não vale a pena. Os donos de
pousada e habitantes locais acham pouco se não caminhamos 35 Km todo
dia, chegando em frangalhos para descansar.
Gente
de Deus! Tá na Bíblia! Ninguém vê Cristo sofrendo ao caminhar de
uma cidade a outra para pregar a Boa Nova! Ele sofria com a
incompreensão humana, que cismava em não entender suas mensagens de
amor. Deus não fica feliz com o martírio de seus filhos, se alegra
quando aprendemos a conviver como irmãos amados.
“É
tudo novo de novo
Vamos
nos jogar onde já caímos
Tudo
novo de novo
Vamos
mergulhar do alto onde subimos”
Tudo
Novo de Novo, Moska
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