quinta-feira, outubro 03, 2019

“Todo dia um ninguém José acorda já deitado

Todo dia ainda de pé o Zé dorme acordado...”

São Paulo, 01 de abril de 2019

Ontem foi dia de visitar Silvana e acertar alguns pontos da viagem. Alguns, não todos. Luzia se dispôs a viajar conosco, será sua primeira peregrinação. Silvana a recebeu no clima “Oba! Por que não? Vamos juntas!” enquanto eu no grupo de mensagens morria de vontade de gritar “Não começa pelo Caminho da Fé! É muito punk! Exige muito do corpo, sem um bom preparo a gente se estrupia! Sem contar que vai iniciar a vida de peregrina sem carro ou equipe de apoio pra te socorrer.”. Com o tempo pensei: cada um com as oportunidades que aparece, não é mesmo? Silvana e eu não somos lá muito experientes em peregrinações, mas encaramos o desafio. O desafio de Luzia é maior.
Maior porque ela tem quatro meses para adquirir os itens da mochila que levei um ano comprando. Pode-se dizer que o tempo gasto na aquisição dos itens que levo foi maior pois a cada peregrinação trocava alguns itens permanentes, adquiria outros que não estavam na lista. O que veio para minha mala por troca foram as blusas de proteção solar e o poncho de chuva; a bandana apareceu como material extra para proteger da poeira e do sol. O desafio de Luzia é maior pois ela tem quatro meses para condicionar bem o corpo para encarar morros, sendo que já tem problemas na coluna para atrapalhar o caminhar. O dinheiro para a viagem também é um desafio. Nem lembro quanto tempo levei para juntar o montante para a primeira viagem, lembro apenas que sempre tive costume de juntar uma reserva.
Silvana amacia a bota comprada ano passado em trilhas e travessias difíceis, com muitas montanhas e morros. Só esqueceu de levar a bota no Caminho da Prece porque passou por imprevistos de última hora. Ela treina com trilhas e ginástica. Eu treino com academia e tento correr no parque, embora só tenha conseguido a proeza de correr uma vez desde que comecei a frequentar o parque mais próximo de casa. Assim buscamos resistência e condicionamento físico.
Quatro meses de academia foram suficientes para percorrer o Caminho da Prece sem muitas dores. Após três dias de caminhada encarei com Silvana e duas novas amigas uma trilha rumo ao pico da forquilha em Jacutinga, Minas Gerais. O corpo estava muito bem, sem a menor dor, o problema foi recordar meu medo de altura. A vista é bonita. Regada ao medo da subida e descida. Não é algo que quero sempre.
Meu condicionamento físico entretanto não veio por frequentar academia e parque religiosamente desde novembro passado. Desde 2016 condiciono o corpo para caminhadas. Minha idade baixa contribui para a falta de problemas musculares, ósseos, articulares e outros que comprometam o ato de caminhar. Não posso dizer que com quatro meses de academia qualquer um fica preparado para encarar morro todo dia porque não parti do zero, do sedentarismo.
Aprendi com o Caminho da Prece que não importa o percurso do dia nem a preparação anterior: o corpo sente a mudança da rotina e dói os três primeiros dias. Quem tem bom condicionamento físico sente poucas dores, essa é a diferença. No quarto dia o corpo já está acostumado e as reclamações diminuem drasticamente ou somem de vez.
Enviei um arquivo com planilhas e a relação de pousadas do ramal Águas da Prata para Silvana e Luzia. Nenhuma analisou as pousadas que escolhi, isso fica para o próximo encontro.
Decidimos realizar a viagem em catorze dias, sendo doze de caminhada e dois de deslocamento. Pegaremos a credencial do peregrino num sábado, visitando a cidade e a pousada que a fornece, não caminharemos nesse dia. Planejamos buscar a credencial em Paraisópolis dia 27 de julho.
Voltando da reunião surgiu a dúvida se as pousadas da lista ficam todas no percurso ou se é preciso parar o trajeto, ir à pousada e retomar o caminho no dia seguinte de onde paramos. Perguntei a Carolina e ela disse que encontrou os dois tipos de pousada no Caminho da Fé. O melhor é perguntar para cada pousada escolhida onde elas ficam exatamente. Carolina frisou a importância de reservar todas as pousadas previamente, pois nenhuma aguarda hóspedes de última hora.
A encontrarei próximo sábado no 1º Encontro de Caminhada Longa do CEPE USP, quando será a primeira palestrante do dia. Também encontrarei Selma, que conheci no Caminho da Prece. Foi para acompanhar Selma que me inscrevi no evento, pois apesar de vasta experiência em acampamentos, pescarias, trilhas, saber primeiros socorros, ela é iniciante em peregrinações: começou no Caminho da Prece. O Encontro de Caminhada Longa dura o dia inteiro: vai das 10 às 16 horas. O CEPE USP é o Centro de Práticas Esportivas da Universidade de São Paulo, onde Carolina trabalha.
Como resultado do encontro com Silvana e Luzia preciso ajustar o arquivo de roteiro e custos, e pesquisar a localização das pousadas escolhidas anteriormente por preço, oferta de refeição e escalda pés. No próximo encontro precisamos de mais tempo conversando. Tempo que não tinha disponível ontem porque foi dia de preparar almoço de domingo para a família pela primeira vez. Foi o primeiro domingo, porém o segundo almoço. O primeiro almoço de família que cozinhei foi no sábado, anteontem.

Todo dia o dia não quer raiar o sol do dia
Toda trilha é andada com a fé de quem crê no
ditado
De que o dia insiste em nascer
Mas o dia insiste em nascer
Pra ver deitar o novo”
Todo carnaval tem seu fim, Los Hermanos

Nenhum comentário: