sexta-feira, outubro 14, 2005

O FILME DA VEZ É

Doutores da Alegria. Documentário nacional em circuito comercial. Raridade! Sabe-se lá quando uma coisa dessas vira DVD. Não espere palhaçadas em série, historinha pronta, o filme registra o projeto nu e cru. Ou melhor, de nariz e cara pintada. Vários depoimentos dos atores, que ficam irreconhecíveis sob a maquiagem... porque são muitos, não consigo gravar nomes de artistas assim, de prima.

Lembro do Dr. Zabobrim, mas não o ator que o faz. Era o baixinho no único trio do filme. Outro é Dr. Lambada, até lembro da fisionomia do cara sem pintura, mas o nome do figura! Pra variar não o reconheci em nenhuma atuação. Muita informação nova ao mesmo tempo, guardei as palhaçadas, os personagens... Todos tinham uma bolota de nariz vermelho, menos um: o fundador. Explicou que ser palhaço não é só contar piada e fazer careta. Vivem na base do improviso, o que só se consegue com uma bela elaboração e encarnação do personagem. Pra entrar num hospital e não se abalar com a tristeza de um doente terminal, não se importar em ver crianças carecas por causa da quimioterapia... de uma força sentimental horrível esse bando de palhaço que esqueceu o caminho do circo e rumou para a Besteirologia. Sim! são respeitáveis doutores besteirólogos, de jaleco branco e tudo, que visitam seus pacientes regularmente. Mas só passam da porta pra dentro se o paciente deixa. Estimulam o que ainda está bom no doente, pra que essa parte fortalecida ajude a melhorar as outras. E dá resultado.

Todos atores explicam como encaram esse curioso trabalho. O fundador do projeto achava a figura do palhaço uma coisa miudinha e sem valor, até seu primeiro dia divertindo as crianças da clínica onde seu pai estava internado. O nariz vermelho transforma os atores em pessoas que não devem ser levadas a sério, mesmo que digam o que pensam com toda sinceridade. Eles não são nada, não são de verdade, são palhaços.

Nesse desdém o mundo vem em tolerância, sem dar aos palhaços grande importância – exatamente tudo o que eles querem. Descaso, fracasso, ridículo, erro, prato cheio pro bom palhaço fazer riso. Não apontando os outros, mas a si mesmo. Num ambiente normal a regra é que as pessoas se enalteçam para que outros a reconheçam. Pois o palhaço se destrói, mostra seus defeitos - os que tem e os que inventa ter. Exagerando em tudo, tudo é novidade sempre, só existe presente.

Você sai do cinema pensando duas vezes antes de chamar alguém de palhaço.

4 comentários:

Anônimo disse...

Muito interessante. Vi o trailler desse filme e estava pensando em vê-lo faz tempo. Mas sempre acabava deixando de lado "ah, um documentário. Vejo depois, esse outro parece melhor". Vou assistir. Essa semana ainda... :-)

Anônimo disse...

Adorei a frase sobre o passado! :-) Hey, D. Colombina. Quem é você, hein? Estranho. Às vezes sinto, por suas palavras, que você é alguém próxima a mim. Pelo menos USPiana eu sei que é... Quanto mistério! ahahah

Anônimo disse...

Você só me fez deixar mais curioso, sabe... Olha.. Que tal me add no MSN? mourabbs@hotmail.com. Queria saber quem ser você...

Ana disse...

Pois... os bobos da corte são os verdadeiros reis do castelo.