sexta-feira, julho 24, 2009

NOSSO VICE PRESIDENTE JOSÉ ALENCAR

Sobreviveu a sua 15ª operação e não pode morrer antes de terminar o mandato. Se isso acontecer, quem assume a presidência enquanto Lula viaja é o atual presidente do senado. Que não é ninguém menos famigerado do que José Sarney. Alguém escutou alguma notícia sobre corrupção envolvendo o atual presidente do senado? Alguém suspeita que ele na realidade pensa essencialmente no bem da própria família?

Há alguma forma de tirar Sarney do senado? Por enquanto tudo que posso fazer é rezar pela saúde de José Alencar. Com ele na vice-presidência o quadro político não piora tanto.
Eu acho.

quinta-feira, julho 16, 2009

Que sítio é esse? Peixinhos mortos, infância... Quem escreve tem quantos anos? 15 ou 13?

Desculpe, sinto o dever de registrar óbitos de animais de estimação. Do contrário dá a impressão de que a vida deles foi em vão, de que eles passaram em brancas nuvens. Reparou que uma história sobre cachorro gerou uma grana doida para certo autor? Depois dele vieram mais histórias sobre cachorros, gente falando sobre gatos... Nessa onda animal, por que não falar de peixes?

APRENDI COM OS PEIXES

A ser menos preconceituosa. Começando por aceitar o ambiente em que ele vive, que é completamente diferente do nosso. O ambiente deles é mais denso, limitado. Aprendi que o ambiente de cada um tem uma densidade, uma atmosfera, e que temos limites também.

Tem coisas que são de água doce, e coisas que são de água salgada. Quem nasce para água doce se envenena com coisas de água salgada, fica mirrado no meio salgado. Quem vive em água salgada até tolera coisas de água doce, mas explode nesse ambiente.

A importância de ser indireto e tratar do que está em volta primeiro antes do assunto principal. Aprendi que pessoas indiretas preparam o terreno para depois tratar do que importa. Essa dissimulação tem como objetivo evitar o violento confronto direto. Ainda tem muito chão para eu ser mais indireta, é um comportamento que não me é natural, no fundo não quero mesmo. Com os peixes, aprendi a compreender melhor as pessoas indiretas.

Existem regras que são corriqueiras demais para a gente e extremamente importantes para os outros. Podemos morrer ao quebrar regras de relacionamento.

Dar atenção a quem não pede de forma alguma, mas depende da gente sem saber. Ingratidão da parte que precisa de cuidados e atenção? Não! Pura ignorância. Padre Antônio Vieira escreveu sermões aos peixes. Acho que fez isso por saber que peixe é um símbolo cristão - nos tempos em que o cristianismo era proibido, indicava secretamente quem era cristão.

Aprendi que rotina é boa, traz bons resultados com pouco esforço de cada vez. A automatização da rotina faz com que a executemos cada vez mais rápido, que sejamos cada vez mais práticos. Com os peixes aprendi que rotina é muito importante, para alguns seres chega a ser vital. Descobri que ela me dá criatividade: tanto para quebrá-la como para melhora-la. Não gosto de rotina para me divertir, porém sinto-me incomodada enquanto não encontro uma no ambiente de trabalho.

Tudo isso aprendi até agora com a morte de 5 peixes (sem contar os 40 filhotes que o Lebiste trouxe junto). Há quem aprenda tais coisas de outras maneiras, passe por experiências mais intensas e comoventes, envolvendo vidas mais complexas do que a de peixes e plantas de aquário.

quinta-feira, julho 09, 2009

NOTA DE ÓBITO

“Se eu fosse um peixinho
E soubesse nadar
Numa caixa de vidro
Eu não ia ficar...”

Morre dupla de peixes Lips, com 5cm de comprimento cada um. Motivo do óbito: troca de mais da metade da água contida na caixa de vidro.

Os representantes da terceira população animal a ocupar a caixa de vidro com bolinhas de gude passaram pouco mais de dois meses tendo um bom tratamento (25.04 a 09.07.2009). Não ganharam nome porque eram muito parecidos.

Cuidar de peixe não é difícil, basta respeitar algumas poucas regras e rotinas sem NUNCA mudar ou dar pouco crédito a elas. Sei de quatro:

Alimente a cada dois dias.
Não troque mais da metade da água do aquário.
Não use sabão ou qualquer produto químico para limpar o aquário. – Essa nunca quebrei!
Aquários com plantas não precisam ser limpos. – Dessa eu duvidei.

Havia muita sujeira entre as bolas de gude que ficam no fundo, o aquário definitivamente precisava ser limpo. Como a água estava muito suja, decidi não respeitar a regra e troquei mais da metade. Resultado: morte animal. Poderia muito bem ter limpado a caixa de vidro sem trocar quase nenhuma água, os peixes morreram por descuido bobo. Bastava passar a água numa peneira ou pano para retirar o grosso da sujeira. Peixes não perdoam descuidos bobos, para eles tais descuidos tratam de coisas vitais.

Porém nem tudo está perdido. Musgo de Java, segunda população vegetal a habitar a caixa, continua sua luta pela sobrevivência. O período de luto dura um mês, que é o tempo do ciclo da água de toda caixa de vidro habitável. O ciclo da água deve ser respeitado. Período em que a água perde o cloro e demais elementos nocivos aos delicados habitantes aquáticos. Nesse tempo Musgo de Java faz fotossíntese sozinho, sem barulho de bomba de ar.

“Siriri pra cá
Siriri pra lá
A turma do vidro
Não quer nadar...”

quarta-feira, julho 01, 2009

Consegui! Faz tanto tempo que escrevi a primeira parte, que ninguém em casa lembra-se que fiquei de fazer a segunda. O texto mal mudou em relação ao primeiro rascunho.

SOBRE MINHA INFÂNCIA
PARTE ll – ESCOLA

Na primeira série Fábio, que era um baixinho bagunceiro e moreno (descendente de índios, caiçaras ou bolivianos, nunca me interessei em saber), dizia para a turma dos meninos que eu era uma garota legal pra se brincar, contava das minhas molecagens do Pré. Na primeira série fiquei quieta, só abria a boca para falar “presente” e não desgrudava da carteira. A sala podia estar na maior algazarra, fazia lição absorta a tudo. Tomava lanche atrás do latão de lixo com abelhas na esperança de que um dia elas me protegessem se necessário.

Na segunda série arrumei amigos novamente, dessa vez amigas: Ana Carolina e Denise. Na terceira não me lembro de amigos, lembro que gostava da professora Lourdes, que ensinava português e Estudos Sociais enquanto a maioria da sala preferia a Silvana. Nesse ano interpretei a Vovozinha da Chapeuzinho Vermelho na gincana da escola. Adorava as aulas de redação, passava a semana inventando algo para escrever... muitas vezes o que bolava não relacionava-se com o tema, mas não havia problema. Assim como agia com a nave roubada, procurava coisas novas.

Falando em redação, a professora da segunda série sugeriu a minha mãe que eu escrevesse menos, porque errava muito. Na cabeça da professora eu erraria menos se escrevesse menos. Pura lógica. Não era de se estranhar que no ano seguinte a dita professora tenha preferido lecionar matemática e ciências para a terceira série – porém nunca mais foi minha professora. Anos mais tarde ela virou coordenadora de ensino... seu nome era Iara. Nunca suspeitei que o fato acima descrito poderia ser uma grande vergonha para a vida profissional dela.

Na terceira série passava os recreios em baixo de uma árvore. Que batizei de Folhetinha e conversava baixinho com ela. Quando perguntavam-me se fazia isso, eu negava na cara dura. Ririam da minha cara, me chamariam de louca, coisas que nunca gostei.

Sempre fui à escola usando rabo de cavalo, só parei de usa-lo quando terminei o Ensino Médio. Na terceira série lembro que caminhava olhando para o chão, meus pés se arrastavam rapidamente e a cola vivia vazando na minha mochila que não era de lona nem plástica. Ficava sempre uma camada dura naquele bolso onde guardava a cola, a mochila era feita de algo parecido com pelúcia. Nunca pedi material escolar de um ou outro tema, não invejava mochilas de carrinho (Deviam ser horríveis de serem puxadas!), mochilas rosa ou com mais do que quatro compartimentos. O lanche que levava era pão com manteiga, desde que entrei na escola. Na terceira série meu lanche mudou para pão com manteiga amassado. Nunca reclamei, porém dificilmente como pão com manteiga hoje em dia.

Na terceira série minha sala descobriu o jogo salada mista. Participei uma vez, entendi pouca coisa, achei uma brincadeira muito besta. Minha mãe contou-me uma vez que marcaram reunião com pais da minha sala para falar somente dessa brincadeira e ela pensou que eu fosse retardada porque nunca comentava nada sobre o assunto. Na realidade não havia como me envolver: passava os recreios sozinha, brincando com gravetos e folhas de uma árvore, e conversando com ela. Isso não era normal, e me envergonhava muito. O mais estranho é que não passava pela minha cabeça a possibilidade de mudar de atitude.

Na quarta série arrumei um grupinho de amigas: Lígia, Carolina, Aline e Ana Carolina. Nesse ano meu pai me ajudou a escrever um belo discurso com o qual me elegi representante de classe, e me arrependi da experiência. Não sirvo para essas coisas. Foi o ano em que comecei a estudar de tarde, o Brasil foi Tetracampeão e o Loro veio para casa – da minha vó, que sempre me criou. Tratava dele com sopa de fubá. Quando chegava em casa, já no início da noite, dizia oi para ele e para minha vó. Um dia disse “Oi Loro.”, ele respondeu “Oi vó.”. Estava decretado: sou a vó do papagaio. Hoje ele não me chama de mais nada, talvez de “Oi Loro”, pois é o que mais falo. Minha vó ele deve conhecer por “Qué café?”, pois sempre fala isso quando a vê.

Voltando à quarta série, não consegui deixar o cargo de representante. Não sabia como faze-lo. Um representante de classe servia para dizer as respostas de um jogo na semana dos Eventos Interdisciplinares da escola, mais conhecido como Eventos. Haviam respostas que eu não decorava, então pedia para quem soubesse que subisse no palco e dissesse a resposta. Nenhuma sala fazia isso, acharam que estávamos roubando. Porém não havia regras impedindo isso, não estávamos roubando. Esclarecido o fato, os participantes das outras salas começaram a brigar para decidir quem subiria para responder, enquanto minha sala contentava-se com qualquer um que subisse com a resposta certa. Recordando, a cena é cômica. Na hora nem reparei nas demais equipes, achei que agira de forma normal. Normal... Ah ah ah!... Agi de forma natural, seguindo minha estranha natureza, o que definitivamente não se enquadra nos padrões comportamentais.

Na quarta série voltei a estudar com Fábio, aquele garoto do pré. Ainda baixinho e moreno, só não continuava espalhando minha fama de bagunceira e amigona dos meninos. Isso já era passado, naquele ano era a menina tímida, representante de classe, que todos queriam que deixasse o cargo – lembro de rasgarem um abaixo assinado que faziam para que eu deixasse de ser representante quando disse que não queria mais. Isso aconteceu quando perguntei para a professora como fazia para deixar de ser representante e ela não me disse como.

Voltando ao Fábio, só lembro dele na quarta série por causa do grupo de matemática. Entrou um aluno novo na sala, Felipe, por quem Maria Carolina se apaixonou e combinou com as demais meninas de coloca-lo no dito grupo. A pedido delas, saí do grupo e entrei no de Fábio, que além dele tinha mais dois meninos. O grupo de matemática funcionava assim: cada um comprava um dos cinco livros que seriam usados ao longo do ano e emprestava para os demais colegas quando era chegada a hora de fazer trabalho. Minhas amigas tiveram a cara de pau de me pedir o livro emprestado depois que saí do grupo. Não emprestei. Colocaram Felipe no meu lugar, ele que comprasse e emprestasse o livro. No grupo do Fábio, meu livro não precisou ser emprestado, todos tinham o livro. Ou a mãe do Fábio era professora e ele acabou por emprestar todos os livros ao seleto grupinho de agora quatro pessoas. Entretanto o meu era o último livro da lista, e tais livros eram usados somente em sala.

A quinta série foi o primeiro ano em que os alunos organizavam as equipes de eventos sem ajuda dos professores. Era praticamente a mesma sala do ano anterior. Escolhemos por tema Contos de Fada, nós mesmos fizemos às pressas uma camiseta feia de doer, com um castelo na frente e o nome da equipe nas costas: C.D.F. Nome vexatório para os mais bagunceiros da sala. Encenamos Branca de Neve, onde fiz o papel de caçador, Ana Carolina era a personagem principal e Felipe o Príncipe. Carolina ficou muito bem de bruxa, se não me engano Aline era o espelho e Lígia dirigia. Detestei meu papel, mas fiz o melhor que podia acreditando no esforço dos demais. Não queria ser personagem principal, mas custava me dar um papel melhor? Custava sim, e muito, porque continuava com a imagem de menina tímida. Era mesmo, porém ninguém espera que um tímido revele-se um ótimo ator. Levamos o último lugar na parte de teatro. Também lembro do dia em que Mateus me atormentou puxando a alça do meu sutiã. Depois de minutos de incômodo reclamei com a professora. Ele não estava sozinho nisso de me atormentar, lembro que Vagner, Vitor e Augusto bagunçavam no fundão, não sabia dizer qual ficava puxando a alça do meu sutiã. Lembro que Mateus foi o culpado: o branquelo cabeludo de olho verde que se dizia metaleiro. Fui estudar com ele novamente no Primeiro Colegial. Ele havia mudado bastante, era o ateu da sala e já não bagunçava tanto – mas cultivava idéias revolucionárias. A lembrança da quinta série sempre me impediu de me aproximar dele. Hoje sei que concluiu biologia na USP, adora um samba de raiz, e está terminando o mestrado. Lígia contou-me quando a encontrei por acaso no metrô. Ela cursou Letras e leciona Francês.

Na sexta série cultivei amizade com Anna Carla e Kelly. Muy amiga, Anna Carla morava em Diadema e roubou o walkman de minha tia quando foi em casa. Descobriu que eu não sabia lavar copo e tirou sarro disso, além de eu ainda gostar de Xuxa. Tentei contar pra sala inteira que ela roubara o walkman, não sei se consegui. Ela devolveu antes que eu espalhasse a notícia eficazmente, porém continuei contando a quem desejasse saber. Nesse ano resolvi entrar para o grupo de teatro da escola. Passei no teste, e no fim do ano interpretei o arauto em “Palácio dos Urubus”. Tudo que precisava fazer era falar alto quando necessário, na prática, não contracenava com ninguém. Entretanto roubei várias cenas ao interagir com o que acontecia na cena. Ficava no fundão, interagindo com tudo, e a platéia morria de rir de mim. Fiquei famosa, já não era mais a irmã do Fulano (meu irmão mais velho), era a Colombina. O grupo de teatro da escola me encheu de orgulho durante os dois anos seguintes, sugou boa parte da criatividade antes direcionada apenas para redações.

Redações que, desde a primeira série, nunca venciam o concurso de Contos e Poesias da escola. Tinha o péssimo hábito de inventar coisas novas para concursos, quando o correto é já possuir algo extraordinário na manga. Nenhum professor indicava uma redação minha para o concurso. Mesmo assim, todo ano concorria, todo ano perdia.

Voltando à sexta série, foi naquele ano em que ocorreu o tão planejado primeiro beijo. Não gostei, e disse na hora para o menino (que hoje considero um grande amigo, dos mais antigos) magoando- o sem perceber. Anos mais tarde ele contou-me como aquilo foi planejado, o que acontecia na vida dele. Só assim compreendi em qual sinuca de bico nos encontrávamos. No dia me senti uma palhaça, com toda a turma tentando espiar a gente na casa de uma amiga. Naquele dia decidi que nunca mais faria algo somente para ser aceita, para ser normal. Naquele dia comecei a desistir de buscar a normalidade, naquele dia – o dia do meu primeiro beijo – a infância terminou.

Consegui!! A segunda parte da minha infância! Nem tive que modelar muito o texto, uma pequena aparadinha no que brotou espontaneamente resolveu o problema. Faz tanto tempo que escrevi a primeira parte, que ninguém em casa lembra que prometi a segunda. Resultado: menos censura.


SOBRE MINHA INFÂNCIA
PARTE ll – ESCOLA

Na primeira série Fábio, que era um baixinho bagunceiro e moreno (descendente de índios, caiçaras ou bolivianos, nunca me interessei em saber), dizia para a turma dos meninos que eu era uma garota legal pra se brincar, contava das minhas molecagens do Pré. Na primeira série fiquei quieta, só abria a boca para falar “presente” e não desgrudava da carteira. A sala podia estar na maior algazarra, fazia lição absorta a tudo. Tomava lanche atrás do latão de lixo com abelhas na esperança de que um dia elas me protegessem se necessário.

Na segunda série arrumei amigos novamente, dessa vez amigas: Ana Carolina e Denise. Na terceira não me lembro de amigos, lembro que gostava da professora Lourdes, que ensinava português e Estudos Sociais enquanto a maioria da sala preferia a Silvana. Nesse ano interpretei a Vovozinha da Chapeuzinho Vermelho na gincana da escola. Adorava as aulas de redação, passava a semana inventando algo para escrever... muitas vezes o que bolava não relacionava-se com o tema, mas não havia problema. Assim como agia com a nave roubada, procurava coisas novas.

Falando em redação, a professora da segunda série sugeriu a minha mãe que eu escrevesse menos, porque errava muito. Na cabeça da professora eu erraria menos se escrevesse menos. Pura lógica. Não era de se estranhar que no ano seguinte a dita professora tenha preferido lecionar matemática e ciências para a terceira série – porém nunca mais foi minha professora. Anos mais tarde ela virou coordenadora de ensino... seu nome era Iara. Nunca suspeitei que o fato acima descrito poderia ser uma grande vergonha para a vida profissional dela.

Na terceira série passava os recreios em baixo de uma árvore. Que batizei de Folhetinha e conversava baixinho com ela. Quando perguntavam-me se fazia isso, eu negava na cara dura. Ririam da minha cara, me chamariam de louca, coisas que nunca gostei.

Sempre fui à escola usando rabo de cavalo, só parei de usa-lo quando terminei o Ensino Médio. Na terceira série lembro que caminhava olhando para o chão, meus pés se arrastavam rapidamente e a cola vivia vazando na minha mochila que não era de lona nem plástica. Ficava sempre uma camada dura naquele bolso onde guardava a cola, a mochila era feita de algo parecido com pelúcia. Nunca pedi material escolar de um ou outro tema, não invejava mochilas de carrinho (Deviam ser horríveis de serem puxadas!), mochilas rosa ou com mais do que quatro compartimentos. O lanche que levava era pão com manteiga, desde que entrei na escola. Na terceira série meu lanche mudou para pão com manteiga amassado. Nunca reclamei, porém dificilmente como pão com manteiga hoje em dia.

Na terceira série minha sala descobriu o jogo salada mista. Participei uma vez, entendi pouca coisa, achei uma brincadeira muito besta. Minha mãe contou-me uma vez que marcaram reunião com pais da minha sala para falar somente dessa brincadeira e ela pensou que eu fosse retardada porque nunca comentava nada sobre o assunto. Na realidade não havia como me envolver: passava os recreios sozinha, brincando com gravetos e folhas de uma árvore, e conversando com ela. Isso não era normal, e me envergonhava muito. O mais estranho é que não passava pela minha cabeça a possibilidade de mudar de atitude.

Na quarta série arrumei um grupinho de amigas: Lígia, Carolina, Aline e Ana Carolina. Nesse ano meu pai me ajudou a escrever um belo discurso com o qual me elegi representante de classe, e me arrependi da experiência. Não sirvo para essas coisas. Foi o ano em que comecei a estudar de tarde, o Brasil foi Tetracampeão e o Loro veio para casa – da minha vó, que sempre me criou. Tratava dele com sopa de fubá. Quando chegava em casa, já no início da noite, dizia oi para ele e para minha vó. Um dia disse “Oi Loro.”, ele respondeu “Oi vó.”. Estava decretado: sou a vó do papagaio. Hoje ele não me chama de mais nada, talvez de “Oi Loro”, pois é o que mais falo. Minha vó ele deve conhecer por “Qué café?”, pois sempre fala isso quando a vê.

Voltando à quarta série, não consegui deixar o cargo de representante. Não sabia como faze-lo. Um representante de classe servia para dizer as respostas de um jogo na semana dos Eventos Interdisciplinares da escola, mais conhecido como Eventos. Haviam respostas que eu não decorava, então pedia para quem soubesse que subisse no palco e dissesse a resposta. Nenhuma sala fazia isso, acharam que estávamos roubando. Porém não havia regras impedindo isso, não estávamos roubando. Esclarecido o fato, os participantes das outras salas começaram a brigar para decidir quem subiria para responder, enquanto minha sala contentava-se com qualquer um que subisse com a resposta certa. Recordando, a cena é cômica. Na hora nem reparei nas demais equipes, achei que agira de forma normal. Normal... Ah ah ah!... Agi de forma natural, seguindo minha estranha natureza, o que definitivamente não se enquadra nos padrões comportamentais.

Na quarta série voltei a estudar com Fábio, aquele garoto do pré. Ainda baixinho e moreno, só não continuava espalhando minha fama de bagunceira e amigona dos meninos. Isso já era passado, naquele ano era a menina tímida, representante de classe, que todos queriam que deixasse o cargo – lembro de rasgarem um abaixo assinado que faziam para que eu deixasse de ser representante quando disse que não queria mais. Isso aconteceu quando perguntei para a professora como fazia para deixar de ser representante e ela não me disse como.

Voltando ao Fábio, só lembro dele na quarta série por causa do grupo de matemática. Entrou um aluno novo na sala, Felipe, por quem Maria Carolina se apaixonou e combinou com as demais meninas de coloca-lo no dito grupo. A pedido delas, saí do grupo e entrei no de Fábio, que além dele tinha mais dois meninos. O grupo de matemática funcionava assim: cada um comprava um dos cinco livros que seriam usados ao longo do ano e emprestava para os demais colegas quando era chegada a hora de fazer trabalho. Minhas amigas tiveram a cara de pau de me pedir o livro emprestado depois que saí do grupo. Não emprestei. Colocaram Felipe no meu lugar, ele que comprasse e emprestasse o livro. No grupo do Fábio, meu livro não precisou ser emprestado, todos tinham o livro. Ou a mãe do Fábio era professora e ele acabou por emprestar todos os livros ao seleto grupinho de agora quatro pessoas. Entretanto o meu era o último livro da lista, e tais livros eram usados somente em sala.

A quinta série foi o primeiro ano em que os alunos organizavam as equipes de eventos sem ajuda dos professores. Era praticamente a mesma sala do ano anterior. Escolhemos por tema Contos de Fada, nós mesmos fizemos às pressas uma camiseta feia de doer, com um castelo na frente e o nome da equipe nas costas: C.D.F. Nome vexatório para os mais bagunceiros da sala. Encenamos Branca de Neve, onde fiz o papel de caçador, Ana Carolina era a personagem principal e Felipe o Príncipe. Carolina ficou muito bem de bruxa, se não me engano Aline era o espelho e Lígia dirigia. Detestei meu papel, mas fiz o melhor que podia acreditando no esforço dos demais. Não queria ser personagem principal, mas custava me dar um papel melhor? Custava sim, e muito, porque continuava com a imagem de menina tímida. Era mesmo, porém ninguém espera que um tímido revele-se um ótimo ator. Levamos o último lugar na parte de teatro. Também lembro do dia em que Mateus me atormentou puxando a alça do meu sutiã. Depois de minutos de incômodo reclamei com a professora. Ele não estava sozinho nisso de me atormentar, lembro que Vagner, Vitor e Augusto bagunçavam no fundão, não sabia dizer qual ficava puxando a alça do meu sutiã. Lembro que Mateus foi o culpado: o branquelo cabeludo de olho verde que se dizia metaleiro. Fui estudar com ele novamente no Primeiro Colegial. Ele havia mudado bastante, era o ateu da sala e já não bagunçava tanto – mas cultivava idéias revolucionárias. A lembrança da quinta série sempre me impediu de me aproximar dele. Hoje sei que concluiu biologia na USP, adora um samba de raiz, e está terminando o mestrado. Lígia contou-me quando a encontrei por acaso no metrô. Ela cursou Letras e leciona Francês.

Na sexta série cultivei amizade com Anna Carla e Kelly. Muy amiga, Anna Carla morava em Diadema e roubou o walkman de minha tia quando foi em casa. Descobriu que eu não sabia lavar copo e tirou sarro disso, além de eu ainda gostar de Xuxa. Tentei contar pra sala inteira que ela roubara o walkman, não sei se consegui. Ela devolveu antes que eu espalhasse a notícia eficazmente, porém continuei contando a quem desejasse saber. Nesse ano resolvi entrar para o grupo de teatro da escola. Passei no teste, e no fim do ano interpretei o arauto em “Palácio dos Urubus”. Tudo que precisava fazer era falar alto quando necessário, na prática, não contracenava com ninguém. Entretanto roubei várias cenas ao interagir com o que acontecia na cena. Ficava no fundão, interagindo com tudo, e a platéia morria de rir de mim. Fiquei famosa, já não era mais a irmã do Fulano (meu irmão mais velho), era a Colombina. O grupo de teatro da escola me encheu de orgulho durante os dois anos seguintes, sugou boa parte da criatividade antes direcionada apenas para redações.

Redações que, desde a primeira série, nunca venciam o concurso de Contos e Poesias da escola. Tinha o péssimo hábito de inventar coisas novas para concursos, quando o correto é já possuir algo extraordinário na manga. Nenhum professor indicava uma redação minha para o concurso. Mesmo assim, todo ano concorria, todo ano perdia.

Voltando à sexta série, foi naquele ano em que ocorreu o tão planejado primeiro beijo. Não gostei, e disse na hora para o menino (que hoje considero um grande amigo, dos mais antigos) magoando- o sem perceber. Anos mais tarde ele contou-me como aquilo foi planejado, o que acontecia na vida dele. Só assim compreendi em qual sinuca de bico nos encontrávamos. No dia me senti uma palhaça, com toda a turma tentando espiar a gente na casa de uma amiga. Naquele dia decidi que nunca mais faria algo somente para ser aceita, para ser normal. Naquele dia comecei a desistir de buscar a normalidade, naquele dia – o dia do meu primeiro beijo – a infância terminou.