sábado, agosto 22, 2015

O livro da vez é In.Fer.N.O., de Paulo D'Auria


Devo ter passado duas semanas com Paulo D'Auria. Ele me acompanhou no metrô, nas salas de espera, no jardim onde tomo sol durante o almoço. Ele me contou como é o Instituto Ferramentacional Novo Origma, levei duas semanas para conhecer o local. Paulo não fala muito, quem conta, quem viveu mesmo a coisa, foi um jornalista chamado Lopes.
O nome completo do lugar só é mencionado uma vez, na capa. Dentro sempre é reconhecido como sua abreviação: Inferno. Lopes escreveu num caderninho tudo que encontrou por lá, Paulo apenas recebeu o material e encapou. Por que um jornalista iria para o inferno? Por um furo de reportagem, claro, é isso que move todo jornalista.
Lopes investigava o desaparecimento de menores de dentro das instituições que aplicam medidas socioeducativas. Essa investigação o levou até o Pará. Alguém sabe o que se passa, sabe a história do Pará? Parece que para conhecê-lo é preciso nascer lá. Foi onde o governador Simplício Amazonense criou o Instituto com o intuito de reunir em um só lugar todos os menores infratores.
Inferno é cheio de crianças e seres encantados – todos da pior espécie. O inferno seria maior se o autor parasse para descrever melhor os muitos seres mitológicos que vivem nele. Mas qual mente insana quer parar no inferno? Definitivamente não é lugar de passear. Mas é um lugar cheio de boas ideias, como diz o ditado, e a boa ideia que impera no inferno é correção através de punição. Muitas vezes a correção é esquecida e o lema mesmo fica punição por diversão.
Na jornada dantesca em que Lopes é guiado por Vladimir Herzog, planta-se a dúvida: é castigando que se educa? Os sistemas de reabilitação social realmente reabilitam?
Enquanto isso, no mundo real, querem reduzir a maioridade penal.

domingo, agosto 02, 2015

Clube da arritmia

Antes da tempestade a calmaria
faz menos de um minuto era tudo alegria
tudo traçado e planejado naquele domingão
ia pra aula de violão
eu e meu paizão
então meu coração quis mudar a direção

a visão embaça, pode ser pressão
eu e meu pai sentados no chão
passei mal em frente a um bar
cheiro de fritura a incomodar
melhorei um pouco pra sair do lugar
conseguimos no nosso destino chegar

esse destino não!
hoje chega de violão!
berra meu coração
agitado, calmo, não sabe como ficar
cansado do mesmo ritmo, ele resolve variar
só no pronto socorro é possível consertar

ele enlouqueceu, não pode se conter
experimenta muitas formas de bater
esperando ele se acalmar
sinto tontura ao caminhar
soro e Dramin colocam tudo no lugar

depois de três horas a banda passa
meu coração então bate sem graça
preparando nova farra ano que vem
que se depender de mim não tem

voltei ao cardiologista do ano passado
ele constatou: tem algo errado
não deveria ter voltado
e por medida cautelar
sem café vou ficar
mas meu dia não começa mais com tédio
começa com remédio

o laboratório mais uma vez examina meu sangue
pra tentar fazer com que meu coração não se zangue
antes da tempestade a calmaria
faz menos de um dia era tudo alegria
a contragosto, antes de agosto, mais um se associa
no vibrante clube da arritmia.