domingo, agosto 23, 2009

PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DAS FLORES

No show do projeto/programa Criança Esperança, Sandy pulou a penúltima estrofe de “Ciranda da Bailarina”, música composta por Chico Buarque e Edu Lobo. Pudera, o verso não é boa influência para as crianças:

“O Padre também
pode até ficar vermelho
se o vento levanta a batina
reparando bem, todo mundo tem pentelho
só a Bailarina que não tem”

A interpretação da música procurava frisar que “todo mundo tem” ($), quem não tem? A intenção era mesmo pedir esmola, ou melhor, doação para. Anos atrás a banda Penélope gravou uma versão completa, com todos os versos, num ritmo mais rock, que frisava exatamente a idéia que a ciranda dos tempos de ditadura: “só a Bailarina que não tem”.

Segundo a música, a Bailarina é sempre bela e sorridente, não tem problema nem doença. Quem era a Bailarina? A princípio representava o governo, que a censura vivia protegendo. Também foi o modelo intocável nas guitarras de Penélope, sabe aquelas pessoas tão “perfeitinhas” que dão raiva?

Na última noite a Bailarina dançou mais pela ciranda do que pela letra, não mostrou seu pior ângulo, mudou sua razão de ser, e transfigurou-se em crianças atendidas pelo projeto Criança Esperança. A bela Bailarina pede esmola em sua divertida letra nojentinha, na voz da Sra. Lima, produzindo maravilhados sorrisos bobos em quem nunca ouviu falar de sua primeira versão.


POR FALAR EM MÚSICA

21 de agosto foi o 20º aniversário de morte do pai do Rock brasileiro.

O baiano fã de Elvis, que provavelmente nasceu “há dez mil anos atrás” e não era “besta pra tirar onda de herói”, que era “o tudo e o nada”, que acordou “no dia em que a Terra parou” pra dizer que o mal “vem de braços e abraços com o bem num romance astral”, nosso Maluco Beleza, que preferiu viver numa “metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”, há vinte anos foi selado, registrado, avaliado, carimbado e pôde “partir sem problema algum”.

Há vinte anos podemos encher a cara e gritar “TOCA RAUL!” com um pouco de tristeza no coração. Esse maluco, que por escolher o caminho da loucura jamais pode ser tomado como exemplo. Segundo ele, "A arte de ser louco é jamais cometer a loucura de ser um sujeito normal".

Não é a tôa que a Virada Cultural de 2009 em São Paulo teve um palco chamado “TOCA RAUL!”. No meio daquela festa multi cultural - que é a cara de Sampa - ele ganhou 24 horas de homenagem. Feliz o público que grita bem alto as letras do artista e extravasa alegria nos shows.

Em algum lugar do cosmo do universo Raul deve estar feliz por provocar tantas alegrias. Afinal ele mesmo dizia que "Ninguém morre, as pessoas despertam do sonho da vida".