quinta-feira, novembro 23, 2006

O LIVRO DA VEZ É
A Revolução dos Bichos, de George Owel

Estava a procura de Fazenda Modelo, de Chico Buarque. Na falta, peguei outros bichos numa história similar. A Revolução dos Bichos inclusive é mais antiga que Fazenda Modelo. Pensei que fosse um estímulo ao socialismo. No começo até que é, mas termina como crítica. Sátira da revolução Russa e seus resultados. Praticamente revolução Russa maqueada. Que devorei em dois dias.

Uma sensação de “já vi essa história”, quando os porcos começam a maltratar e reprimir outros bichos na desculpa que os dias atuais são melhores que os anteriores, que o domínio anterior pode voltar. E quando pegam um pra Cristo? Todas as maldades são culpa daquele sujeito, principalmente pelo fato dele ter desaparecido da história há um bom tempo. Os poderosos jogam com a ignorância e falta de memória dos bichos. Com muito blábláblá, convencem a maioria do que lhes é proveitoso.

Porém, o que o livro mostra não aconteceu só na revolução Russa ou quando a esquerda chegou ao poder de qualquer país. Acontece com qualquer forma de governo, acontece nos grêmios estudantis. Aquele cartaz dizendo como era e o que a atual gestão fez não é pra ser concluído com “se quiser que o passado não volte, continue votando na gente”. Esse tipo de comparação é simples mostra de resultado, pois se a gestão propunha mudanças e as realizou, não fez mais que a obrigação.

Chego a conclusão de que qualquer forma de poder ou sistema pode ser corrompido. Os partidos não salvam ninguém, embora sobrevivam mais que as pessoas, ideologias não valem nada sem quem as defenda.

sexta-feira, novembro 17, 2006

Abobrinha sentimental

Quero pedir desculpas a João. Faz dois anos. Não há como encontra-lo, em memória tenho seu primeiro nome, seu rosto e que jogava hóquei. Tinha nome composto, esqueci o segundo porque usava só o primeiro. Faz sete anos recusei um coração dourado de quem podia ser meu primeiro namorado.

Ele não merecia o mal que lhe fiz. Demorei cinco anos pra perceber a dimensão desse mal. Os amigos diziam que um dia sofreria igual, esse dia nunca chegou. Talvez nunca chegue, seria justo demais para um mundo tão vil. Desculpa não resolve nada. Apenas comprova a consciência de quem cometeu um erro.

Tinha 15 ou 16, e um instinto suicida imperceptível a terceiros. Suicidas não merecem ser felizes, simplesmente porque não acham que mereçam. Quando a felicidade fica a um palmo de distância, o suicida acredita cegamente que aquilo não pertence a ele, que tudo não passa de fumaça. Daí Constantine não beija a mocinha no final e todos vivem felizes para sempre no filme. Como impedir alguém de cortar os próprios pulsos? Esse dilema o Centro de Valorização da Vida tenta resolver há anos.

O que aconteceu há sete anos: João me deu um presente de aniversário com uma carta que não abri. Nem presente nem carta. Deixei no meio de uma praça. Se levasse para casa teria de me explicar, e eu não queria. Receber presente, me explicar em casa, e o principal: não queria o coração do João. Tentei deixar claro. Havia muita gente melhor que eu por aí, não era difícil encontrar. Aquele cara merecia alguém melhor.

Merecia uma garota doce e romântica, e de preferência que não fosse suicida. Que não vivesse se boicotando, se escondendo em personagens de teatro. Eu era cítrica. Desde aqueles tempos minha força emocional petrifica meu coração.

Nunca fui suicida de cortar os pulsos, mas cortava ligações. Foi bem no começo e de uma vez só, era tortura condensada e explosiva. Achei que fosse fácil ele esquecer, não durou muito tempo, na verdade nem começou. Se alguém me fizesse coisa igual, não sofreria.

Ele tinha um coração de ouro, e sem perceber gostou de uma suicida. O mal que fiz não era pra ele, mas pra mim. Ninguém segurou minhas mãos, e se gritassem para parar, eu não escutaria. Precisava contrariar, provar ao mundo e a mim mesma que era cítrica e forte e insensível. Coisa de adolescente. Nesse caminho judiei de um coração.

PORÉM Hoje em dia ando menos suicida que naquela época.

terça-feira, novembro 07, 2006

VOCÊ FOI CONVOCADO PARA SER MESÁRIO NAS ELEIÇÕES.Não jogue uma rodada.
Parte IV

Segundo turno, apareci na seção faltando dez minutos para as sete horas da manhã. Morrendo de sono. No dia anterior vira uma peça de cinco horas de duração e emendara com algumas horas de chorinho no bar onde minha amiga comemorou seu aniversário. Chegara em casa por volta das quatro e meia da matina.

Sete e pouco chega o presidente da mesa e a primeira secretária. Ajudei a colocar as mesas no lugar, o layout determinado pelo governo não ajuda muito na circulação dos eleitores. Depois recebi a boa nova: o número de mesários caiu, agora precisam apenas de quatro pessoas. Fui dispensada sem papel nenhum para servir de recordação. Em compensação fui a primeira a votar na minha seção.

Voltei e dormi até não poder mais.

Será que na próxima votação me convocarão novamente? Gostei da experiência. Se não me chamarem, entrarei naquele programa de voluntariado para ser mesária.